21.7.09

O mundo contemporâneo e o peixe fora d'água

Como assim, Lipo?
Daí eu estava conversando com uma amiga e ela disse que vai fazer lipo.
Vai fazer no culote, sempre quis fazer, alega que tem o culote imenso e que ela odeia o tamanho do culote. Solução: tirar o culote e ficar feliz (nas palavras dela).
Eu reagi de maneira um pouco incrédula. Disse que fico feliz de ver uma amiga feliz, mas que acho estranho ao mesmo tempo.
E ela me perguntou: estranho por que?
No que eu respondi que ela é a primeira pessoa da "nossa idade" (25-30) que eu conheço que vai fazer lipo, uma estreante no meu grupo de amigas.
Ela se espantou. "Muitas amigas minhas já fizeram!", insinuando alguma coisa tipo "que mundo é esse que você habita onde as pessoas não fazem lipoaspiração?".

Mundo contemporâneo:
fazer lipo como quem come uma banana (todo mundo faz!);
eliminar da vida qualquer coisa que você não goste (com um pouquinho de anestesia e um bom médico, sai sem dor).
Peixe fora d'água:
eu,
que não acredito na banalização da lipo,
em soluções instantâneas
e nem em macarrão instantâneo.

20.7.09

Amostragem: Domingo à noite

Cheguei em casa e os termômetros lá fora marcavam 12 graus com garoa.
Mergulhei na grande e quente gola do meu casacão, e me afundei no sofá, e lá permaneci.
Estática.
Mudando canais de TV.
Respirando pesado.
Quase fechando o olho.
Por muito tempo.

De repente, assolada por uma intensa aunque preguiçosa vontade de sair de casa, mensagei onzer amigos bem selecionados.
"O que vocês estão fazendo right now? Alguém topa programinha light dominical? Estou assistindo a Changer d'Interieurs na TV 5 Monde e não está divertido. Beijos"


Desses onze,
4 ficaram mudas (todas mulheres);
1 veio hoje avisar pelo msn que não conseguiu nem tirar os braços debaixo da coberta para responder a mensagem;
6 responderam:
"Estou fazendo TCC. Durante a semana rola nos encontrarmos"
(do amigo do peito que é namorado da amiga do peito que está de férias viajando, ele está terminando a mesma pós que eu fiz, e eu bem me lembro como era dura essa fase de TCC);
"Estou grudado na minha cama, esse frio me mata. Mas valeu por chamar. Beijos!"
(do amigo carioca que diz no discurso que um dos motivos que o fez vir para SP é amar o inverno);
"Estou em Santa Tereza, RJ. Sambinha, sem Roberto Carlos. Meu amigo volte logo..."
(do amigo carioca que conheci no bar porque ele estava sentado na minha frente no Balcão, e desde então ficamos amigos de verdade, uma dessas coisas incríveis que acontecem no verão e que a gente não acredita que vão durar até o inverno, e as conversas continuam existindomesmo sob 13 graus, e dessa vez ele foi esperto e foi pro Rio esse final de semana, até porque eu acho que todas as pessoas que tiram finais de semana para irem para o Rio tendem a ser bastante espertas);
"Oi amiga! Tô de bode. Amanhã acordo às cinco da manhã. Qualquer coisa liga. Beijão"
(da amiga de infância que, uma pena, começou a semana em um projeto em São Bernardo do Campo, o que a obriga a acordar às cinco da matina todos os dias essa semana);
"Lindona, estou indo pro Canto da Ema"
(da incansável e insaciável formiguinha atômica que pula loucamente de um canto pro outro sem nunca nem parar para pensar direito, e que acredita que a melhor forma de curar uma dor de amor e uma esparrela é se jogando na balada);
"Estou essa semana no retiro, linda. Beijo enorme!"
(do amigo vizinho que tirou férias e fugiu do mundo mas foi para dentro de si).

E eu?
Eu saí da inércia letárgica que me assolava, coloquei o pijama, fiz um leite quente com bastante Nescau, peguei um cobertor, meu maço de cigarros, e liguei o DVD.
O filme escolhido da noite foi Hable con Ella do Almodóvar, que veio na caixa com 4 Almodóvares que ganhei de Natal do meu irmão.

Da amostragem acima, podemos auferir que:
- 4 das 6 mulheres para quem essa mensagem foi enviada não me respondeu. Isso significa que 66,66% (dízima periódica) das mulheres para quem eu escrevi ignoraram solenemente meu apelo e meu pedido de socorro. (essas provavelmente não estarão na lista da minha próxima mensagem desesperada)
- 2 de 2 cariocas (100%) negaram o convite. Um porque estava no Rio, outro porque estava debaixo das cobertas. Entende-se portanto que cariocas não são boas companhias dominicais.
- 5 de 5 homens (100%, incluindo os 100% de cariocas) negaram o convite, por motivos variados. Ou seja, claramente conclui-se que aos domingos à noite os homens tendem a: ser mais preguiçosos do que as mulheres (2 de 5); não estar em Sâo Paulo (2 de 5); estudar (1 de 5).
- Mas também: apenas 2 de 6 (33,33%) do universo das mulheres responderam aos meus apelos. Ou seja, claramente conclui-se que aos domingos à noite 66,66% das mulheres tendem a estar fazendo coisas mais interessantes do que respondendo mensagens de texto pelo celular OU 66,66% das mulheres podem ser deveras relapsas com suas amigas.
- Considerando todos os dados acima, mesmo com a alta porcentagem de respostas (7 de 11, ou 63,63% ), consultei o universo errado de amigos para fazer algum programa dominical em um domingo gelado e garoento. Precisarei fazer melhor seleção na próxima vez.

7.7.09

Dez e Três

10: ida:
8 horas de vôo e uma host mother atrasada para ir me pegar, tanto que fomos de táxi. Trilha sonora do táxi: Four Non Blondes, What’s up?
03: ida:
overbooking, uma troca de companhia aérea, um atraso (em SP) de quatro horas, um vôo em Classe Executiva.

10: vizinho de vôo:
o menino da bochecha rosa que pediu para trocar de lugar comigo e que inclusive hoje é um dos meus grandes melhores amigos.
03: vizinha de vôo:
a perua que me chamou de vulgar porque eu estava viajando sozinha e mulheres que se prezem não viajam sozinhas.

10: uma roomate que eu não conhecia por um mês dividindo o mesmo quarto. Ficamos grandes amigas.
03: um roomate que eu conhecia de balada e só, que dividimos o mesmo quarto por uma semana. Ficamos amigos, mas não só isso. Em outras paradas, outros roomates, alguns que eu nem cheguei a conhecer, uma que era completamente louca, em Mendoza, uns brasileiros baladeiros que chegavam bêbados.

10: principal companheiro:
meu primo bem próximo.
03: principal companheira:
minha mochila vermelha que eu carregava nas costas como uma tartaruga que carrega sua casa. Assim como a minha máquina fotográfica e meu bloquinho de anotações de devaneios.

10: mico da vez:
sair pelas ruas cantando “Smelly cat”, referente ao gato da nossa host mother, esquecendo completamente que naquele lugar as pessoas falavam inglês e estavam entendendo tudo que a gente cantava, imitando a Phoebe.
03: mico da vez:
me arrumar para a balada usando amostras grátis do duty free do Buquebus entre Montevideo e Buenos Aires: creme para pentear da Redken no cabelo, perfume Givenchy, base, blush, batom, rímel, tudo Lancome ou Mac, de amostra grátis. Foi uma transformação e tanto, e os vendedores ficaram pê da vida que eu não levei nada no final.

10: amadorismo da vez:
não viajar de balão por Londres (oportunidade única na vida) com a minha prima que morava lá, porque eu espalhei para todo mundo da turma que eu estava indo e isso chegou na nossa professora, e ela nos proibiu porque o seguro de vida daquela viagem não cobria viagens de balão.
03: perda da vez:
não fazer vôo panorâmico por Buenos Aires (oportunidade única na vida) em um domingo frio e ensolarado, porque esqueci o Gmail aberto na hora errada.

10: um belo de um choro:
assistir ao Fantasma da Ópera no Her Majesty’s Theatre.
03: um belo de um choro:
ver neve pela primeira vez em Mendoza; ver neve cair pela primeira vez em Pucón.

10: um medo:
quando ficamos conhecidas na vizinhança, uns caras nos seguiam no trajeto de um km à noite entre o ponto de ônibus e a nossa casa.
03: um medo:
o pior vôo da minha vida, de uma hora, entre Mendoza e Santiago, atravessando a cordilheira na maior turbulência ever e sem nem ver direito que Santiago estava chegando e que estávamos descendo, de tanta névoa que tinha na cidade.

10: uma embriaguez:
patê de trufas piamontesas comprado em um restaurante de estrada entre Firenze e Roma, degustado aos delírios no quarto do hotel em plena última noite e arrumação de bagunça de mala.
03: uma embriaguez:
viver em quase constante e leve embriaguez de vinho, Quilmes, e Pisco todos os dias ao longo dos 27 dias.

10: um desafio gastronômico:
aprender a comer aquele feijão doce e vermelho e enlatado dos britânicos (tarefa mal-sucedida).
03: um desafio gastronômico:
aprender a voltar a comer peixe (tarefa bem-sucedida).

10: uma aventura:
disparar o alarme da ala egípcia do museu do Louvre.
03: uma aventura:
sair correndo e fugindo, mochila e tudo, mala e cuia, do albergue fantasma de Santiago que eu não gostei.

10: melhor compra:
uma mug que tem o Ursinho Pooh em relevo, linda.
03: melhor compra:
livros do Neruda originais do sebo.

10: uma refeição:
uma baguete na Champs Elysèes.
03: uma refeição:
uma ave recheada de brie e damasco em um restaurantezinho gourmet em Potrerillos (Pré-Cordilleta, Mendoza)

10: manifestação artística:
encenação única de Midnight Summer’s Dream nos jardins da Universidade de Oxford, por alunos da Universidade.
03: manifestação artística:
exposição única do Botero no Museo Nacional de Bellas Artes de Buenos Aires.

10: volta:
totalmente alinhada com o ano de piração no qual eu me encotrava no 2º colegial, descobrindo um mundo novo aqui no Brasil e no mundo afora. Consequência: estava preparada para o ano seguinte, de várias chapuletadas na cabeça, do qual eu consegui sair viva e muito melhor do que entrei.
03: volta:
um respiro e um olhar fora da caixa em um ano que eu estava afogada com as mediocridades corporativas que assolam as pessoas inertes das grandes corporações. Trouxe o mundo novo descoberto lá fora para o ambiente de ar parado, sem vento de mudança. Consequência: Uma hora não consegui mais tolerar esse ambiente e pedi para sair.

10: 1999, intercâmbio em Oxford, Inglaterra, e depois um passeio pelas Zoropa.
03: 2006, mochilão solitário por Argentina, Uruguai e Chile.
A cada viagem, uma mudança grande acontece.
Porque descobrir o mundo é, um pouco, ir me descobrindo aos poucos, em pedaços de mim que eu mal sabia que exitia.
Começo de julho é o aniversário dessas duas viagens, que me foram tão importantes, e principalmente a da Inglaterra, que me foi tão emblemática e que agora completa dez anos.

E eu mal vejo a hora de embarcar na próxima... fico contando os dias.

6.7.09

Eu me rendo

Pois é.
Não resisti.
Eu juro que tentei.
A Camilinha (comentário do post abaixo) já viu que eu não resisti.
Eu QUERO MUITO SABER o que acontece nesse mundo onde todo mundo vem seguir um ao outro, porque eu acabei de entrar no Twitter e já tenho 4 seguidores (o que para mim é tempo recorde, mas pelo que eu entendi nos meus cinco minutos de navegação no site 4 seguidores é uma coisa bizarra de pouca).
Bueno.
Estar no Twitter não significa a morte do blog - apenas quero ser uma observadora (não tão oculta) para entender como as coisas funcionam. Fora todas as pessoas da minha lista de email que já estão no Twitter, resolvi seguir, de famosos, a Rainha Rania e o Al Gore.
Vamos ver se esse troço é divertido mesmo.
Se for, eu começo a postar lá.
Se não, não.
(ainda prefiro meu blog, que embora mais demorado e difícil, ainda me permite um mínimo de devaneio quase literário para além dos 140 caracteres).

Como tudo que é muito rápido

Pois bem, vivemos em um mundo de velocidades cada vez mais rápidas, para muitas de nossas coisas.

E aí nesse mundo louco, quando um blog nem bem se situou e começou, já tem gente anunciando que os amadores preferirão os "status updates" do Facebook e os tweets do Twitter.

Está aqui, ó:
http://www.guardian.co.uk/technology/2009/jun/24/charles-arthur-blogging-twitter

... quando ele diz assim:
I see it: NetNewsWire, my RSS feed reader, has nearly 500 feeds. When one of them hasn't been updated for 60 days, it turns brown, like a plant dying for lack of water. More and more of the feeds I follow are turning brown. Why? Because blogging isn't easy. More precisely, other things are easier – and it's to easier things that people are turning. Facebook's success is built on the ease of doing everything in one place. (Search tools can't index it to see who's talking about what, which may be a benefit or a failing.) Twitter offers instant content and reaction. Writing a blog post is a lot harder than posting a status update, putting a funny link on someone's Wall, or tweeting. People are still reading blogs, and other content. But for the creation of amateur content, their heyday for the wider population has, I think, already passed. The short head of blogging thrives. Its long tail, though, has lapsed into desuetude.

Pode ser, de fato, que ele tenha razão e esteja constatando nos seus feeds alguma coisa que vire tendência para todos: optar pelo rápido e fácil, e deixar o blog morrer.

Paguemos para ver então, porque afinal é disso que a vida é feita. (de pessoas pagando para ver, e também, de coisas cada vez mais rápidas)

Só deixo aqui meu protesto, que eu ainda nem sei se entro ou não do Twitter, e mal uso meu Facebook, mas do blog eu não abro mão tão cedo. Não mesmo.

3.7.09

Noite dos Palhaços Mudos (de volta!)

Pois é. Eles voltaram.
Já fui ano passado, mas se bobear me empolgo e vou de novo esse ano, porque é simplesmente fantástico.
Virei entusiasta da peça e do La Mínima, porque em toda a simplicidade da peça está alguma coisa muito elaborada e maravilhosa.
Portanto fica aqui a dica para quem quiser rir até a barriga doer.

ps.: ano passado escrevi sobre eles aqui e ganhei até um comentário do Alvaro Assad, do LaMínima, que ainda em estampa meu gosto de poder ajudá-los na divulgação, mesmo que seja nesse meu bloguinho.


29.6.09

Põe um dedo aqui que já vai fechar

Então eu achava que seria a única pessoa que gostaria de ir ver o Arrigo Barnabé cantando Lupicinio Rodrigues na Casa de Francisca.

E que estaria fadada a viver abandonada ao relento do mundo por esse motivo - por ter um gosto ora estranho, ora incomum, ora abrangente em excesso.

Foi assim com o show do Roberto Carlos no Maracanã - assumindo que estava fadada a ficar no relento do mundo, já estava me programando para ficar no sofá de casa sábado dia 11 à noite vendo o show, comendo pipoca e literalmente chupando o dedo. Mas aí, em um rompante de sorte, encontrei pares inesperados justo naquele jantar, e logo tudo se resolveu e os ingressos foram comprados e eu me vejo hoje contando os dias para ir para o Rio.

Mas voltando à Francisca - daí eu li hoje na Mônica Bergamo no café da manhã isso daí, de uma brevíssima temporadinha do Arrigo cantando Lupicinio, e pensei que "puxa que vai ser legal!".

Há tempos que ouço falar desse lugar (Casa de Francisca) e nos últimos tempos (diga-se de passagem, nas últimas duas semanas) três pessoas diferentes me falaram: "Você já ouviu falar de um lugar chamado Casa de Francisca? Então, parece que é legal. Resolvi te falar porque acho que você vai gostar. Vamos combinar algum dia?". E a minha resposta, uníssona de uma só pessoa, sempre foi que "vamos sim".

Então hoje juntou tudo que nesse mundo constrói: a fome com a vontade de comer, o cimento com o tijolo, a chuva com a terra. Era o lugar que tinham me recomendado com um show que deve ser coisa de louco.

Daí vem a dúvida de quem não acha o relento do mundo o lugar mais aprazível do mundo: quem será que vai comigo? E mandei email para algumas poucas pessoas, meia dúzia talvez, desse grande círculo social que às vezes encolhe até ficar pequenino, e quanto mais menor de pequenino, mais aconchegante é, porque permanece quem vale a pena de verdade, e eu, que fiquei escolhendo a dedo as pessoas que na pior das hipóteses não fossem me achar louca de querer ir em show desses, tive uma grata surpresa.

Dessas do tipo "deixa a vida me levar", que de tanto programar a vida a imprevisibilidade perde a raça, a importância, e a graça. E aí recebi não uma nem duas, mas várias, e quando eu digo várias são várias mesmo, respostas positivas. Todos estavam querendo colocar o dedo aqui antes de fechar (como na brincadeira da mão, sabe? De quando a gente é criança? "quem quer brincar de esconde-esconde põe o dedo aqui, que já vai fechar!"). Todos respondiam, entendendo a minha ansiedade, que "sim, eu gosto do Arrigo e do Lupicinio e eu quero sim ir com você!".

Então tá.
Mais uma vez chegou o círculo aconchegante dos amigos do peito que aceitam meus convites.
Então eu penso que o relento do mundo parece um lugar deveras distante quando essas coisas acontecem - e elas têm acontecido com uma certa frequência.

UMA INFORMAÇÃO QUE VOCÊ TEM QUE SABER
Arrigo Barnabé na Casa de Francisca com o espetáculo Caixa de Ódio, o universo de Lupicínio Rodrigues
R$ 26,00 de Couvert artístico
Temporadinha 1: 03 / 04 / 05 de julho
Temporadinha 2: 24 / 25 / 26 de julho
Informações detalhadas estão aqui:


25.6.09

Diretamente do país da piada pronta

Nosso presidente assinou ONTEM a legalização da grilagem e do desmatamento na Amazônia. Com um pequeno vetinho simbólico, só para não dizer que ele sancionou a MP integralmente.
É uma vitória louca da bancada ruralista.

E, para o presidente, não basta não fazer nada para impedir o desmatamento;
não basta fazer vista grossa para o desmatamento;
TEM QUE LEGALIZÁ-LO.

É isso aí. Palmas para o presidente, para os ruralistas, e para as pessoas sem noção desse mundo (estão todos inclusos nesse último grupo, que aliás, só cresce na humanidade).

24.6.09

Hamletianas Surreais

Há algo de podre no reino da Dinamarca, e eu sei o que é.
Tenho sabido de tudo daqui ultimamente, e às vezes preferia não saber.
O mundo é surreal por demais para termos todas as informações.
Triste, enfim.
Pego para mim o que é de mim.
Não pego para mim o que não é.
Não fico (mais) pirando com a loucura alheia.


E aí meu amigo de bar mandou um email com uma música, que do surreal que é, me encantou nesse dia.


De Pedro Luís e a Parede,

Caramujo Jah


Tartarugodagadendacunden


Quando vê caramujo já foi
Quando vê caramujo já foi
Caramujo Jah


Se tá sempre a lesma lerda
De vagar me vou ao longe
Vagalume me alumia
Me ensina o onde


Om de
Onde


Faca de dois gumes
Angú de caroço
Sinais de fumaça
Parece lento


Quando vê
Já foi, seu moço!

Quando vê caramujo já foi
Quando vê caramujo já foi
Caramujo Jah

22.6.09

Délicatesse

- Nossa, você continua linda!
- Obrigada! E você, usando colete...?
- É, foi dica de uma ex-namorada. Mulher inteligente eu admiro e levo as dicas em consideração.
(risadas)
- É, percebi...

**

- Não é estranho virmos para a sua casa?
- Não, não é. Eu não gosto de lugares públicos para algumas coisas.

**

(papos gerais das coisas da vida, para quebrar o gelo)

**

- Você ainda gosta dos meus olhos verdes?
- Gosto, lógico. Não teria porque não gostar.
- Eu morro de saudades do seu sorriso e da sua risada, sabia? E do jeito que você fazia cafuné.
- (risadinha sem graça)
- Você prefere a minha barba como? Mais rala? Ou mais compridinha um pouco?
- Eu preferia mais compridinha um pouco, porque não arranhava tanto. Mas tanto faz, né?
- Ah, não tem problema que não estamos mais juntos. Não é tanto faz.

**

- Olha o que eu fiquei ensaiando no piano para tocar para você no Dia dos Namorados.
- Você vai tocar?
- Vou. Chuta que música que é.
- Não tenho a menor noção.
- Senta aqui do meu lado.
- (puxa a cadeira)
- (começa a tocar)
- (olho enxe de água)
- (olho enxe de água)
- Está lindo isso. Não acredito que você descobriu que música que era e foi atrás da partitura.
- Sim, eu fiz isso, sim. Mas é inacreditável que você enxe os olhos d'água, viu...
- Eu sou emotiva. Você sabe disso.
- (rindo) É, eu sei. Eu quase não te vi chorar, não... né? (rindo)
- (passa o dedo embaixo dos olhos, enxuga umas lágrimas, ri um pouco)

**

- É muito estranho tudo o que aconteceu e o que te levou a terminar o namoro.
- É, eu sei. Nem eu entendi direito.
- ???
- Não estava dando para mim, ué. Não estava rolando legal. Agora, se você me pedir uma justificativa racional, do tipo um mais um é igual a dois, eu não sei te dar.
- Por isso que eu te perguntei se tinha outro homem.
- E por isso que eu te digo que você tem que acreditar em mim: não tem outro homem. E eu também não sou bipolar.
- É, eu sei. Porque quando eu te liguei eu não sabia o que eu encontraria, e encontrei exatamente a mesma pessoa que eu já namorei.
- (rindo) Viu? Eu não sou bipolar.

**

- Você anda mais uma quadra? Ou prefere que eu desça aqui do carro e vá a pé até o meu prédio.
- Não vou te deixar ir a pé. Mesmo que eu não seja mais seu namorado. Ou você se esqueceu do meu cavalherismo em tão pouco tempo assim?
- Não me esquecerei disso.

**

- Foi bom ficar hoje abraçado assim juntinho, né?
- Foi. É, menininha, você deixa saudades.
- Você também.

**

(saindo do carro)
- Posso te convidar para o próximo show do meu tio? Você iria comigo?
- Iria. Me chama, sim.

**

A música ao piano, que ele ficou ensaiando, é essa. De quando assistimos a "Man on Wire" (O Equilibrista) e, ao atravessar entre uma torre e outra do WTC, a música que toca é essa. Coisa linda.
Na partitura, a recomendação para interpretação da música era: "lent et douloureux".

Para não perder de vista

Essa vista, para mim, tem gosto de:
- pão na pedra às 3as e 5as dos idos de 95 e 96, depois das aulas de inglês na Cultura Inglesa;
- almoço às 4as em 98, antes de voltar para a escola para as aulas da tarde;
- quase todos os finais de tarde e começos de noite dos domingos dos últimos 19 anos;
- colo de avó de seios fartos, com direito a cafuné;
- aulas de árabe, tentativas incessantes de deixar um legado linguístico para os netos;
- almoços em família, tantos e tantos, com o kibe da vovó;
- almoços de Natal, que mais pareciam uma rave familiar que começava às 2 da tarde e terminava às nove da noite;
- bronca em mim porque a minha letra era feia;
- lanches vespertinos das amigas e das primas da minha avó, que eu podia frequentar antes de entrar no mundo do trabalho;
- dez netos e toda a bagunça do mundo;
- cigarros na varanda, quando a gente vai perdendo a inocência;
- bolo de fubá, bolinho de chuva, chá de camomila, com as pernas debaixo do cobertor, nas tardes de férias de inverno;
- conversas sobre a história da família, de onde viemos, quem eram meus bisavós, meus tataravós;
- cuidados com as plantas na varanda e algumas lições de jardinagem.
Essas, e tantas outras memórias afetivas.
Dessas que só uma história com uma vó consegue ter.
Compartilhemos a vista, naquela tarde linda que foi o domingo do solstício de inverno.

18.6.09

Très Important

Proteste contra a MP da Grilagem!!

http://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?20160/Amaznia-pea-o-veto--grilagem

É URGENTE, É AGORA, É PELO NOSSO FUTURO DIFERENTE.

Comemoração

Pela primeira vez em sei lá quanto tempo meu Inbox tem menos de 200 emails: agora ele está com 198.
AAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaAAAAAAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaa

Disseminando a Iluminação

Gayatri Mantra

OM
BHUR BHUVAH SVAH
TAT SAVITUR VARENY
AMBHARGO DEVASYA DHEEMAH
DHIYO YO NAHA
PRACHODAYAT

Tradução:
Através do princípio que o macro reflete no micro,
Reconheço no contemplar de um raio solar,
Que assim como o Sol ilumina a Terra,
Minha consciência suprema me ilumina.
Então,
evoco essa concentração com minha calorosa vontade interna,
Disciplina e irrefutável consciência de que minha natureza é divina.
Iluminando assim meus obstáculos,
com força e sabedoria.

--

Fiquei a fim de dividir um pouco o que rola nas aulas de yoga.
Sete e quinze chegamos e nos sentamos, fazemos a concentração inicial, e entoamos um mantra. Geralmente é o Gayatri ou o Ohm Nama Shevaya.
O dia começa de outra forma, com o professor com o violão em punhos cantando conosco.
Fica lindo, tudo, e colorido, muito.


Na base do susto

E eu, que sempre quis ter controle sobre tudo, ter uma vidinha regradinha, bonitinha, tranquila e previsível, resolvi me entregar ao susto e entender que a realidade que se coloca aqui, hoje e agora, é exatamente o OPOSTO da vidinha regradinha e previsível.

E que vidinha regradinha e previsível, ter tudo em ordem e sob controle sempre, nada mais é do que uma irremediável entrega à mediocridade.

Então nesses últimos tempos tudo que aconteceu e acontece na base do susto me deixa mergulhada em um mundo novo e que se renova e que muda a cada dia, em uma transitoriedade constante.

E aí, dos sustos:

SUSTO 1: Zazie no Metrô
"Paris é um devaneio", diz o livro predecessor da contra-cultura francesa, escrito em 59 e reeditado agora pela Cosac Naify, em edição (linda!) comemorativa dos 50 anos. Zazie é uma menina do interior da França que quer ir para Paris fazer duas coisas, apenas: andar de metrô e usar calça jeans. A tchurma que a acolhe em Paris é constituída por seu tio, travesti, o dono do bar, o sapateiro da esquina, o taxista, um bando de turistas, e o papagaio Laverdure ("Falar, falar, você só sabe fazer isso", repete o papagaio zilhares de vezes ao longo do livro).
O livro veio parar nas minhas mãos quando entrei na Livraria Cultura para comprar o presente de Dia dos Namorados do meu ex-namorado. Eu já tinha lido sobre ele na Folha de São Paulo, e quando vi aquela edição lindinha, aquela escrita gostosa, o pósfacio do Roland Barthes, não resisti. Devorei o livro em menos de 4 dias e algum dia ainda escrevo por aqui uma crítica literária sobre ele.

SUSTO 2: Namorado? Ex-namorado?
Rápido começou e do mesmo jeito acabou. Acho que a gente vai crescendo e começa a entender o que significa ser responsável por aquilo que cativamos. E, nesse sentido, entende que não cabe namorar uma pessoa que está totalmente apaixonado a ponto de ficar cego, e que exatamente por isso não gosta que os limites individuais de cada um sejam respeitados.
(quanto mais velho e solitário a gente fica, é fato, mais difícil a inserção de outra pessoa na nossa rotina, o que talvez signifique que eu esteja fadada a ser sozinha, mas acho que não, porque quando a gente encontra alguém que compensa, essa pessoa simplesmente compensa, e a gente sabe quando essa pessoa é encontrada)
Entende que não compensa sequer correr o risco de machucar aquela alma tão boa, os olhos verdes que, carinhosos, aconchegam. Não dá para machucar o autor de poemas lindos, o cara que me deu orquídeas, o cafuné gostoso, o carinho no rosto e no cabelo.
Em um único movimento de surto e rompimento, conversamos sob o sol gostoso daquela quinta do feriado, debaixo das árvores dos Jardins, véspera do Dia dos Namorados ("piadinha de mal-gosto", já me disseram, "onde já se viu terminar o namoro justo na véspera?" E eu respondo, convicta: se fosse um dia depois teria sido muito pior).
Ele disse que esse deve ter sido o fim de namoro mais lindo da minha vida, porque foi o fim de namoro mais lindo da vida dele. Eu concordo, sozinha e serena. Os presentes de Dia dos Namorados ficaram sem destino, por ora (sozinhos e serenos).

SUSTO 3: Acoustic France, Putumayo Records
A Putumayo é maravilhosa. Gravadora especializada em World Music, tem os CDs com as músicas mais legais e as capas mais lindas que eu já vi na vida. E aí, no meu "Combo francês", aproveitando que eu estou francófona e mergulhada na França justo no Ano da França no Brasil, comprei o CD e não paro de ouvir. Não paro de ouvir. Não paro de ouvir.

SUSTO 4: Caramelo
Filme lindo e delicado, triste e alegre ao mesmo tempo, em tons de amarelo, com mulheres bonitas e olhares árabes bem maquiados de delineador e rímel. Toda aquela vaidade, todo aquele amor, as tradições, os hábitos, as famílias, os amantes, as amantes. Todo aquele francês no meio do árabe. O filme é dedicado a Beiruth. Está em cartaz nos cinemas de arte de SP, e aparentemente está entre os melhores em cartaz.

SUSTO 5: Essas saudades
Em um futuro breve o apê será vendido e eu não verei mais aquela vista que vai do Obelisco à Juscelino, passando pelo parque, pelas casas, pelo espigão da Paulista e as torres, o Skye, a Igreja São Gabriel. Era uma vista que dava aconchego, mas, óbvio, o aconchego vinha do fato de ser a casa da minha avó. E eu banalizava essa vista, porque ela me era comum e constante. Agora, a cada dia que eu entro lá, o que aperta é a saudade insana, a ausência que dói, e a sensação de contagem regressiva - um dia a menos vendo aquela vista. Não tanto pela vista em si, talvez; porque para isso eu posso tirar fotos e nunca perder a tal da vista de vista. Muito mais pelo que a vista me representa e me traz de lembranças. E aí, das lembranças, uma dorzinha aguda que bate no fundo do peito. Mas isso, afinal, é "learn from the past" - aprender do passado. E eu tenho tentado implementar para mim a Teoria do U, do Otto Scharmer, que define a vida como "presencing". E aí precisamos "learn from the future" - aprender do futuro. O que eu aprendo do futuro, do que minha avó me deixou, é toda a herança da pessoa maravilhosa que ela era e que ela me ensinou. Isso eu levo comigo. Isso, e a certeza de que, exatamente por essa herança, ela estará muito presente. Pronto.
(pontos para mim: primeira vez que consigo escrever aqui sobre as saudades que sinto da minha avó, e não doeu nada).

SUSTO 6: Dia-a-dia
Fica sempre a sensação de um Tsunami iminente. Esse tem sido meu dia-a-dia, preenchido por essa não-rotina no trabalho. Às vezes dá a sensação de não dar conta. Às vezes dá a sensação de adrenalina, de estar surfando em cima de um Tsunami. Ontem eu fiquei o dia inteiro tonta, com a sensação de que poderia cair a qualquer instante. Acho que eu estava sendo afogada. Hoje eu acordei no maior pique, caprichei no visu para vir trabalhar, mesmo sem nenhum motivo específico, e me sinto surfando em cima do Tsunami. Então tá, a vida anda boa, sim. Embora cansativa e esgotante, ela anda boa, sim. Hoje em uma troca de emails eu disse:
"Parece que a balada meio que perdeu o brilho para mim, não sei explicar...Óbvio que para dançar boa música, curtir, estar com pessoas legais, rola bem e eu adoro... mas ir todo santo final de semana, não tenho mais nada de pique... acho que a vida do dia-a-dia está tão boa, desafiadora, interessante, intensa, que no final de semana eu quero mais é ficar sussa (e tomar uma breja de leve para desanuviar com bom papo) para estar pronta para a próxima semana..."

SUSTO 7: Roberto no Maracanã
Eu tinha lido há uma semana no jornal que o Roberto vai fazer um show no Marcanã dia 11 de julho, o showzão oficial da grande comemoração dos seus 50 anos de carreira. Pirei que tinha que ir ver o Rei no Rio. Conversei com os meus pais, companhias óbvias para esse tipo de show, que alegaram ter medo de ir pro Maracanã ver um show de multidão. Falei com mais alguns amigos, do trabalho, de infância, de tudo quanto é canto, e a resposta em geral foi uma risadinha de desdém do tipo "só você mesmo para querer fazer um programa de índio como esse". Terça feira, jantando com as meninas da PUC, me lamentei em voz alta "ai, vocês não acreditam que não consegui companhia para ir ao show do Rei no Maracanã". No mesmo exato instante a comoção tomou a todas da mesa. Ligamos, no viva-voz, para o marido de uma delas. Na mesma hora ele entrou na TicketMaster e comprou nossos ingressos. Estamos em um grupo de seis na nossa Super Caravana do Rei no Maracanã. O Rio de Janeiro nunca mais será o mesmo - nem nós.

SUSTO 8: Sete Livros
Sete é o número de livros sobre Direitos Humanos que preciso ler até o final do ano. Simbora, meu povo, que camarão que dorme a onda leva!

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E então, por que é que todas essas coisas tão banais se confuiguram como sustos?
Estaria eu superestimando o poder das coisas cotidianas?
E eu digo que não, não estaria.
Cada um desses sustos é uma mudança, uma coisa, alguma coisa qualquer, que mudou. Saberei só daqui há muito tempo se essa mudança influenciou ou não.
O ponto é que mudou, e que mudar é bom.
Voltamos ao ponto inicial: com um norte bem definido do que eu quero e de quem eu sou, não tem objetivo atingido que substitua um processo de transição bem vivido.
(ontem tive uma conversa com alguém que se colocou como eternamente em um processo de transição, e que nunca alcançar os objetivos não é bom. Eu propus uma mudança de perspectiva: faça do seu processo transitório um objetivo alcançado - assim o é quando as pessoas têm um norte. Mas é difícil quem entenda essa perspectiva, e eu não vou ficar conflituando.)

8.6.09

Ainda sobre a tal da MP

O que me deu, de estar fazendo isso, é tamanha revolta.

Nunca fui de, aqui nesse espaço, reproduzir o já escrito e discutir meio ambiente e sustentabilidade (muito porque, ao trabalhar com isso todos os dias das 9 às 20, se eu fizer disso o meu blog ele perde seu status de "desanuviador das minhas idéias").

Mas enfim, é a revolta.
Pura e simplesmente, revolta.
Dessas que têm um tamanho que não dá para compreender.

Então fica aqui reproduzida a Miriam Leitão d'O Globo de sexta feira.
http://oglobo.globo.com/economia/miriam/posts/2009/06/05/a-insensatez-192936.asp

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A INSENSATEZ

O confronto entre ruralistas e ambientalistas é completamente insensato. Mesmo se a questão for analisada apenas do ponto de vista da economia, são os ambientalistas quem têm razão. Os ruralistas comemoram vitórias que se voltarão contra eles no futuro. Os frigoríficos terão que provar aos supermercados do Brasil que não compram gado de áreas de desmatamento.
O mundo está caminhando num sentido, e o Brasil vai em direção oposta. Em acelerada marcha para o passado.

O debate, as propostas no Congresso, a aprovação da MP 458, os erros do governo, a cumplicidade da oposição, tudo isso mostra que a falta de compreensão é generalizada no país.
A fritura pública do ministro Carlos Minc, da qual participou com gosto até o senador oposicionista Tasso Jereissati (PSDB-CE), é um detalhe. O trágico é a ação pluripartidária para queimar a Amazônia.

Até a China começa a mudar. Nos Estados Unidos, o governo George Bush foi para o lixo da história. O presidente Barack Obama começa a dirigir o país em outro rumo. Está tramitando no Congresso americano um conjunto de parâmetros federais para a redução das emissões de gases de efeito estufa. O que antes era apenas um sonho da Califórnia, agora será de todo o país.
Neste momento em que a ficha começa a cair no mundo, no Brasil ainda se pensa que é possível pôr abaixo a maior floresta tropical do planeta, como se ela fosse um estorvo.

A MP 458, agora dependendo apenas de sanção presidencial, é pior do que parece. É péssima. Ela legaliza, sim, quem grilou e dá até prazo. Quem ocupou 1.500 hectares antes de primeiro de dezembro de 2004 poderá comprá-la sem licitação e sem vistoria. Tem preferência sobre a terra e poderá pagar da forma mais camarada possível: em 30 anos e com três de carência. E, se ao final da carência quiser vender a terra, a MP permite. Em três anos, o imóvel pode ser passado adiante. Para os pequenos, de até quatrocentos hectares, o prazo é maior: de dez anos. E se o grileiro tomou a terra e deixou lá trabalhadores porque vive em outro lugar? Também tem direito a ficar com ela, porque mesmo que a terra esteja ocupada por “preposto” ela pode ser adquirida. E se for empresa? Também tem direito.

Os defensores da MP na Câmara e no Senado dizem que era para regularizar a situação de quem foi levado para lá pelo governo militar e, depois, abandonado.

Conversa fiada. Se fosse, o prazo não seria primeiro de dezembro de 2004.
Disseram que era para beneficiar os pequenos posseiros. Conversa fiada. Se fosse, não se permitiria a venda ocupada por um preposto, nem a venda para pessoa jurídica.
A lei abre brechas indecorosas para que o patrimônio de todos os brasileiros seja privatizado da pior forma. E a coalizão que se for$a favor dos grileiros é ampla. Inclui o PSDB. O DEM nem se fala porque comandou a votação no Senado, através da relatoria da líder dos ruralistas, Kátia Abreu.

Mais uma vez, Pedro Simon (PMDB-RS), quase solitário, estava na direção certa.
A ex-ministra Marina Silva diz que o dia da aprovação da MP 458 foi o terceiro pior dia da vida dela.

— O primeiro foi quando perdi meu pai, o segundo, quando Chico Mendes morreu — desabafou.
Ela sente como se tivesse perdido todos os avanços dos últimos anos.

Minha discordância com a senadora é que eu não acredito nos avanços. Acho que o governo Lula sempre foi ambíguo em relação ao meio ambiente, e o governo Fernando Henrique foi omisso. Se tivessem tido postura, o Brasil não teria perdido o que perdeu.

Só nos dois primeiros anos do governo Lula, 2003 e 2004, o desmatamento alcançou 51 mil Km. Muitos que estavam nesse ataque recente à Floresta serão agora “regularizados”.

O Greenpeace divulgou esta semana um relatório devastador. Mostrando que 80% do desmatamento da Amazônia se deve à pecuária. A ONG deu nome aos bois: Bertin, Marfrig, JBS Friboi são os maiores. O BNDES é sócio deles e os financia. Eles fornecem carne para inúmeras empresas, entre elas, as grandes redes de supermercados: Carrefour, Wal-Mart e Pão de Açúcar.

Reuni ontem no programa Espaço Aberto, da Globonews, o coordenador do estudo, André Muggiatti e o presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), Sussumu Honda. O BNDES não quis ir.

A boa notícia foi a atitude dos supermercados. Segundo Sussumu Honda, eles estão preocupados e vão usar seu poder de pressão contra os frigoríficos, para que eles mostrem, através de rastreamento, a origem do gado cuja carne é posta em suas prateleiras.

Os exportadores de carne ameaçam processar o Greenpeace. Deveriam fazer o oposto e recusar todo o fornecedor ligado ao desmatamento. O mundo não comprará a carne brasileira a esse preço. Os exportadores enfrentarão barreiras. Isso é certo.

O Brasil é tão insensato que até da anêmica Mata Atlântica tirou 100 mil hectares em três anos.
Nossa marcha rumo ao passado nos tirará mercado externo. Mas isso é o de menos. O trágico é perdermos o futuro. Símbolo irônico das nossas escolhas é aprovar a MP 458 na semana do Meio Ambiente.

5.6.09

Dia do Meio Ambiente

Reproduzo aqui a mensagem do Greenpeace no Dia do Meio Ambiente.
Não tenho mais nada a dizer, apenas que o grau de revolta de todos os que são MINIMAMENTE CONSCIENTES (e sim, eu disse MINIMAMENTE) deveria ser GIGANTESCO em absoluto (sim, eu disse GIGANTESCO).

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*Hora de voltar às ruas*
* *
Greenpeace

Na noite de quarta-feira, o Senado votou a Medida Provisória 458, aprovando-a tal e qual veio da Câmara. Por detrás desse número, o Congresso brasileiro, com o apoio explícito do governo, legalizou a grilagem, privatizando de uma só vez 67 milhões de hectares de terras públicas. Na longa sessão do Senado em que foi votada a MP, se digladiaram dois Brasis. O da Senadora Katia Abreu, relatora da medida e presidente da Confederação nacional de Agricultura, e o da Senadora Marina Silva.
Katia Abreu, num discurso que precisa ser visto, lido e deglutido, defendeu sem a menor vergonha a legalização das invasões de terras públicas. Disse que o que acontece hoje na Amazônia foi o que aconteceu em São Paulo séculos atrás. Em São Paulo era tudo terra pública, que foi domada, ocupada, titulada. Porque na Amazônia não pode ocorrer o mesmo, perguntou. Marina falou do Brasil que não pode ser repetir, do Brasil que precisa se reinventar, que não pode escorar seu processo de desenvolvimento nos erros do pasado. Ela apelou aos senadores que a ajudassem a rejeitar a MP, para que não tivesse que puxar o movimento pelo seu veto, constrangendo publicamente o Presidente Lula. Em jogo, estavam extensões de terra equivalentes a 30 vêzes o tamanho de Sergipe.
E aí? E aí a impressão que se tem é que ninguém, a não ser uns poucos, como Marina, ainda parecem se importar com a sorte do meio ambiente no Brasil. Os sinais da degradação estão por toda a parte. A aprovação da MP foi apenas mais um dos golpes que vem sendo desfechados nos últimos anos contra os recursos naturais do país. Às vezes eles se traduzem em ações como o desmatamento da Amazônia, a retomada do programa nuclear e a construção da Usina de Angra III e a decisão do governo de recriar o Ministério da Pesca, cujo único objetivo parece ser o de aumentar a produção pesqueira, mesmo diante das indicações que nossos mares há muito não estão mais para peixes.
Outras vêzes, os golpes se traduzem pela parálise do governo. Como no caso de de eventos climáticos extremos. Sua incidência tem crescido no Brasil, como mostram as enchentes em Santa Catarina e no Nordeste, e a sêca que assolou recentemente o Rio Grande do Sul. Brasília, no entanto, segue como se tudo isso fôssem apenas problemas que precisam ser combatidos com a defesa civil. Ao contrário dos governos de outros países, o nosso hesita em acordar para a crise do clima e se comprometer a acabar com o desmatamento, ou a criação de áreas marinhas protegidas, para reduzir as emissões de CO2 e, ao mesmo tempo, mitigar seus efeitos.
É aflitivo ver que a sociedade parece anestesiada diante dessa situação.
A sensação é que não hea quem se incomode mais com a devastação e a degradação e o fato de que o Brasil, um país que um dia foi lindo e rico em recursos naturais, está embicando para se transformar num país exaurido e feio. O Greenpeace, no entanto, se recusa a capitular. E acredita que há muita gente que não quer fugir dessa luta. Precisamos mostrar a nossa cara e reagir, protestando junto ao governo e aos formadores de opinião através da internet mas, sobretudo, nas ruas.

Do mundo do poder

Então ontem foi aniversário da minha prima e fomos todos lá para a Vila. Mais especificamente, pro Genial. Brahma Black foi a minha pedida da noite, porque estava frio e porque combina com quinta à noite e conversa de pessoas bacanas.

Aproveitei para dar (tenho aproveitado para dar) as últimas baforadas nicotinadas debaixo de um teto (ou de um guarda-sol, veja bem, porque essa lei é surreal de restrita) enquanto nós, fumantes, não viramos os páreas da sociedade, os portadores da gripe suína, os leprosos da Idade Média, os vermes que assolam o futuro da humanidade impregnando-o com todo o mal do mundo (pois afinal, é assim que essa nova lei trata os fumantes - não basta respeitar mais ou não fumantes, tem que humilhar os fumantes).
(ok, esse foi só um desabafo momentâneo, porque ontem no bar o cara da mesa ao lado foi muito infeliz quando pegou no meu braço e disse: 'os dias de vocês estão contados' e só porque ele disse isso eu fumei mais e joguei mais baforadas na mesa dele com a namoradinha perfeita dele e então especificamente no dia de hoje estou com um pouco de ódio no coração. Noutro dia faço um post sobre essa lei, um pouco mais racional, um pouco mais maduro, do jeito que esperam mundo afora que a gente seja)

Voltando.
Contexto: aniversário da minha prima, 35 anos. Prima-ídola, by the way, porque adoro ela e as histórias jornalísticas dela.
Na mesa: porções de pastel, maços de cigarro (hoje estou com a nicotina na cabeça), chops Brahma Black.
Sentados: a aniversariante, minhas primas (irmãs da aniversariante) e amigos dela. Todos com cara e jeito de descolados (adoro), mas não de blasés (não adoro). A maioria, ou marqueteiros, ou jornalistas. Todos com alguma informação dessas que não correm soltas em todos os lugares mas que correm soltas na mesa do bar.

Entre os sentados, especificamente dois me chamaram a atenção.

Um deles, uma mulher, que trabalha muito perto dos círculos políticos, e que ficou contando histórias privadas de pessoas públicas. Adultérios, filho gay, filha bastarda, um mora em uma casa e outro na outra. A cliente chama a menina que estava na mesa para jantar com ela, porque se sente muito sozinha. E liga às duas da manhã do sábado. Não posso nem chegar perto de mencionar especificamente de quem estávamos falando, porque é realmente um casal público que tem estado na crista da onda. O que eu sei é que foram boas histórias do mundo do poder.

O outro que estava à mesa conosco é um marqueteiro de uma grande empresa que tem, desde a última semana, sofrido uma exposição gigantesca na mídia (quem adivinhar que empresa que é ganha uma bala, dãããããããr). E aí ele contou um pouco do stress que ele vem passando, de como foi a semana naquele hotel na Barra da Tijuca, do alto risco relacionado à imagem da marca e que é inerente a essa indústria, e de como jornalistas em diferentes países lidam com a vida privada das pessoas, e de como a imprensa tem sido patética. E que ele não é assessoria, não fala com o público, com as famílias das vítimas - mas ele é "corporate", cuida de toda a informação que a empresa solta para a imprensa. Ele estava surtando de stress, tadinho. E fumava loucamente. Hoje de manhã, já voltava para o Rio (mas ontem ele quis vir dar um beijo de parabéns para a aniversariante).

Deu dó de sair daquela mesa ontem.
Eram amigos da minha prima que poderiam se muito bem meus amigos.
Mesmo assim, voltei no carro cantando - de feliz que eu estava.

3.6.09

Arrependimento

Desde que eu resolvi pintar os emails que chegam do meu chefe de vermelho, meu Inbox no Outlook parece um eterno e desesperador e constante sangramento.

Sonho de Consumo


Pois é.

Há MUITO tempo um objeto de consumo não mexia tanto com os meus ébrios como mexeu dessa vez.

Mexeu de dar calafrios, de fazer quase cair uma lagriminha.

Nossa, e mexeu muito. Não paro de pensar nisso e em métodos como obter isso.

Agora... com esse preço proibitivo, acho que só vendendo o corpinho ou fazendo um crediário, ainda mais nessa minha fase muquirana/duranga da vida.

Dureza.

Tout Tintin - L'Integrale des Aventures de Tintin

Pour la toute première fois, l’intégrale des Aventures de Tintin en un seul et unique volume. C’est une première en effet que ce Tout Tintin, album hors norme à tous égards ; il rassemble rien moins que la totalité des 24 aventures du corpus imaginé et dessiné par Hergé, depuis Tintin au pays des Soviets jusqu’à Tintin et l’Alph-Art.

Se alguém quiser me dar de presente, está aqui:
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=2531930&sid=204171138115113446216167&k5=D2DD353&uid=

Ou me passa o cheque que eu desço dois andares, vou na Livraria Cultura daqui do CN, e compro.

Par Avion

Pois é.
Ele caiu, em um acidente horrível que deixou todo mundo chocado.
Mais de 200 pessoas morreram assim, puft, de uma hora para outra, em cima do mar.
E ninguém sabe o que aconteceu ao certo.
Só se sabe que o AirBus da AirFrance is gone somewhere in the sea.

E aí, óbvio, as pessoas querem/precisam ser informadas sobre isso. Lindo.
É um grande mistério essa queda desse avião até agora, fora o fato de ser um acidente aéreo de dimensões sem precedentes, e essa coisa toda, essa comoção, essa tristeza.
Tudo já estava incluso no pacotinho "acidente de avião choca todo mundo".

Mas aí vem a bela e linda imprensa que quer, além de informar, VENDER, e vender muito, e não se importa como.

E a Folha (não sei os outros meios) vem atuando muito assim... Ontem no caderno Cotidiano da Folha impressa, e desde 2a feira sem parar na Folha online.
Conforme os nomes dos passageiros do avião se confirmam, a Folha está fazendo quase que um "Big Brother póstumo". Sempre dentre os links com as notícias do avião, tem algum link "Casal passaria lua-de-mel em Paris". E aí se você clica, tem a historinha do casal, que eles tinham se casado sábado em Niterói, e sei lá mais o que... Na Folha impressa tinha fotos das pessoas e as histórias de cada um... e assim por diante, de muitos muitos muitos passageiros.
Basicamente nessa cobertura, a Folha de São Paulo está vendendo mais edições (versão impressa) e mais publicidade (versões impressa e online) por seu mau-gosto de usar histórias reais de pessoas que estavam lá para fazer exatamente isso: um Big Borther póstumo.

É simplesmente abusar da desgraça alheia para o seu próprio lucro.
Ao mesmo tempo é uma crise a la "ovo/galinha" - o que veio antes? Quem quer ler sobre a desgraça alheia, ou quem publica sobre a desgraça alheia?
Que sociedade é essa de falta de senso crítico total e absoluto a ponto de ninguém parar para pensar que um "Big Brother póstumo" é desprezível?
(ok, tudo bem, já sei que estamos em uma sociedade de falta de senso crítico... minha pergunta é: onde foi que erramos no meio do caminho para ter essa massa cega? Isso vem antes de qualquer coisa, mas o alcance a isso é mais difícil e distante também. Fica prum próximo post.)

Esse tipo de coisa me dá ânsia de vômito.
É NOJENTO.

2.6.09

Do meu alter-ego carioca

Depois eu conto a história toda.
O fato é: ela é a autora desse daqui, que eu adoro: http://oladobon.blogspot.com/ e é co-autora e co-inventora comigo dessa brincadeira ficcional blogueira gostosa que logo vai estar caminhando a passos largos: http://augustacomvieirasouto.blogspot.com/

E é meu alter-ego carioca (basicamente, se eu tivesse nascido no Rio, eu seria ela, e vice-ver se ela tivesse nascido em Sampa). Mas a história é longa e louca. Então o que fica é isso daqui, ó:

Terça-feira, 2 de Junho de 2009

Quantos olhos verdes existem no mundo?
Muitos, responderia qualquer interlocutor.
Quantos olhos verdes podem me olhar assim?
Um par, responderia eu.
Mas muitos olhos ainda vão te olhar assim. Verdes ou não, responderia minha dupla personalidade paulistana.
Postado por manumaluca às 08:07 0 comentários

1.6.09

Mais um blog de primeira

Está aí ao lado, na minha manadinha de blogs (que só aumenta!) e eu destaco aqui essa altíssima recomendação de um blog de altíssima qualidade de uma amiga de altíssima consideração.

L'idiote: http://lidiote.blogspot.com/