27.4.07

Chuva fina de sexta

Sexta feira chuvosa, chatinha, dia escuro, véspera de feriado, frente fria, ai que vontade de tomar um whiskey, melancolia que bomba por todos os poros, mil perguntas na cabeça - que não se calam e se multiplicam, o cabelo não acordou em um bom dia, a roupa não acordou em um bom dia, o olho não acordou em um bom dia.

Eu não disse boa noite pra minha mãe ontem! Ela foi fazer cafuné em mim enquanto eu estava dormindo. Mas parece que eu dei boa noite pro mundo, dei as costas, e comecei a andar na direção oposta. Mal sabe ele...

Ok. Frente fria é gostoso. Sexta feira chuvosa é gostoso. Talvez seja dia de comédia romântica no DVD, com pipoca. Ou talvez seja dia de bar escuro, obscuro, sujo, muita fumaça, nicotina bombando, whiskey.

Talvez, acima de tudo, eu não saiba o que eu quero. E é bom, no final das contas, não saber o que se quer.

Bittersweet melancholie. Típica pra uma sexta chuvosa.

26.4.07

Três Meses

Três meses de infindáveis conversas.
Eu quero a sorte de um amor tranqüilo

Três meses de risadas sem fim.
Com sabor de fruta mordida

Três meses de uma coisa louca.
Nós na batida, no embalo da rede

Três meses, ele zuando da minha cara.
Matando a sede na saliva

Três meses, eu zuando da cara dele.
Ser teu pão, ser tua comida

Três meses, muito colo e mimitos.
Todo amor que houver nessa vida

Três meses, telefonemas antes de ir dormir.
E algum trocado pra dar garantia

Três meses, saudades a semana toda.
E ser artista no nosso convívio

Três meses, sábados que parecem um grude.
Pelo inferno e céu de todo dia

Três meses, cervejas e cigarros.
Pra poesia que a gente não vive

Três meses, os amigos dele viraram meus, os meus amigos viraram dele.
Transformar o tédio em melodia

Três meses, cantar duetos improvisados.
Ser teu pão, ser tua comida

Três meses, baladas, casamento, viagens.
Todo amor que houver nessa vida

Três meses, ronco, pum, arroto.
E algum veneno antimonotonia

Três meses, todos os planos do mundo pro futuro.
E se eu achar a tua fonte escondida

Três meses e um conhece muito do outro.
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida

Três meses e um não conhece nada do outro.
E o corpo inteiro como um furacão

Três meses e dividir: aprendizado contínuo.
Boca, nuca, mão e a tua mente não

Três meses e a cada dia que passa, gostar mais.
Ser teu pão, ser tua comida

Três meses e nada de wok para ninguém.
Todo amor que houver nessa vida

Três meses de olho que brilha e sorriso que explode.
E algum remédio que me dê alegria

Três meses e nada de ontem é hoje.

ps.: post comemorativo, dedicado ao ato de apertar mais gostoso do mundo.
ps.2: "Todo amor que houver nessa vida", Cazuza.

25.4.07

Fricote de Luluzinhas

Como é bom, né?
Como é bom ter pessoas especiais guardadas com você para os momentos mais gostosos possíveis.
Como é bom poder reviver nossa antiga tradição de amigo secreto de ovo de Páscoa com o mesmo vigor e a mesma curtição dos anos de faculdade - ou se bobear, ainda melhor, como está todo mundo dizendo por aí.
Como é bom bater o carro em um dia e no dia seguinte encontrar o maior calor humano gostoso que pode haver nesse mundo.
Como são bons tudo: o vinho, a salada, o risoto, o brigadeirão.
Como riem todas, alegres, alto, às vezes até de um jeito escandaloso, fazendo fofocas gostosas e colocando o papo em dia, fumando um cigarro e outro, jogando conversa fora, colocando conversa pra dentro, discutindo se doce de cacau é chocolate e fazendo benchmarking de um final de semana inteiro.
Algumas sentadas no chão, outras praticamente deitadas no sofá, outras espremidas e de joelhos dobrados em outro sofá. Todas displicentes e à vontade, como deve ser, e a maioria, descalça. Mesmo assim, todas lindas. Ah, que lindas as fotos que eu ainda não vi!
E como, como se divertem essas meninas, na hora de imitar umas às outras, na hora de trocar ovo de Páscoa, na hora de descrever a amiga secreta...
Sabe o que é o mais bom de tudo?
É saber que se passaram mais de dois anos da nossa formatura (ui, como esse tempo começa a pesar nas costas e a doer nos joelhos, jeje), que muita coisa mudou na vida de todo mundo (entre as mudanças, começos e fins de namoros, mudanças de estado civil e de local de residência, mudança de país inclusive, e a outra que virou doutora, e a outra que muda de país ano que vem de novo...) mas que entre a gente continua tudo muito bem, obrigada!

20.4.07

Sexta e o Cotidiano

Na depilação na hora do almoço:

Enói:
Tudo bom com você, Mariana? Que cara de cansada...

Mariana:
Tudo nos conformes, Enói.

No trabalho após o almoço. Indo escovar os dentes:

Joyce:
Tudo bem, Mari? Tá com uma cara...

Mariana:
Tudo, e você? (risadinha cínica)

'Cause you've had a bad day...

Ontem.
Correria. De carona pro trabalho. Atraso. Brincos nas mãos, confusão para entrar no carro, sacola, mochila, chave, celular, casaco. Costas molhadas ainda do banho, e a camiseta, grudada. Apruma o cabelo. Coloca brinco por brinco, todos. Finge que é civilizada.
Chegada. Correria. Muitos emails. Coração disparado. Fofocas e notícias do subsolo. Nem um bom dia, nem um boa noite. Olho sem foco, ao certo. Certeiro, nem nada. Talvez só meu dedo no teclado, rápido, um email atrás do outro. Muitas respostas; a maioria, infundada. Tudo é incerto.
Saída. Correria.
A pé para casa.
Passos rápidos. Respiração ofegante. Vento frio. Pensar na vida. Alívio, ao certo. Cigarro. Falar com ele, marcar de sair da rotina e de vê-lo mais tarde. Sim. A saudade espreme a rotina e diminui as horas de sono. A melhor notícia que eu poderia ter no dia: irei encontrá-lo. E ele sabe disso.
Elevador, rápido.
Abraço carinhoso na mãe. Saudades. Costas molhadas, da mochila, da caminhada, da respiração ofegante. Notícias do hospital e da avó. Ela sempre pergunta de mim. Iogurte e letras de musicas. Mais um abraço apertado na mãe. O coração, apertado também, mas muito mais pelo "bad day".
Elevador. Ônibus. Catraca. Elevador. Cigarro.
Sala de aula: seminário.
Tédio. Tédio. Tédio. Piadinhas sobre a professora. Motivação? Qual a minha motivação em ver esse seminário, que ela elogia como ótimo? Cadê os questionamentos? Se é assim que ela quer... um seminário igual ao texto, que não aceite outras visões... fim da motivação. The point of no return.
Cigarro. Conversas. Risadas.
Croissant de pizza (buraco no estômago) e Iced Tea de Pêssego, light.
Jogo. Lucro. Margem. Market Share. Modelo de DVDs. São Paulo, Argentina, filiais, comprar uma outra, Chile, Paraguai e Uruguai. Palavras incessantes e incandescentes. Baixinhas. Estratégia sussurrada. Mil planilhas. Propaganda, promoção, relatório. Professor, cabeça grande, o cérebro dele deve ser enorme lá dentro. Eu sempre fico me perguntando sobre o tamanho da cabeça dos gênios.
Saída.
Esperança. Cigarro. Espera. Chegada e sorriso, abraço apertado, que saudades!
Carro e pai e conversa e casa e portaria da casa do amigo e coisas de Santa Barbara e gravata azul de diplomata e rua da Consolação.
CABUM!
CABUM!
Um carro na frente, outro atrás. Óbvio que a minha quinta não tinha sido ruim o suficiente. Sim, ela precisava piorar um pouquinho. Batida de carro. Na frente e atrás. Sanduiche. E depois, carro sem bateria, tendo que pegar no trampo.
Volta para casa, toma bronca do pai.
E ele lá do lado, um santo, o apoio, o carinho, o abraço.
Docinho na Ofner. Gianduia, talvez meu desejo quando eu esteja grávida. Conversas gostosas, sempre. Gosto tanto.
Deixa ele em casa. Volta para casa. Entra em casa. Mãe e irmão. Bravos.
Batida.
Sudoku.
Jô Soares.
Batida. B.O. Seguro.
Onde você estava e por que demorou?
Por que bateu e o que aconteceu?
Conta do celular.
Táxi. Acertos por semana.
Você está tão perdida, Mari. Tão sem foco, Mari. E se essas palavras fazem efeito e me incomodam, é porque talvez elas façam sentido.
Sono, cama.
Imagem: meditação no retiro budista. Paz e luz.
Sonhos e quando percebo, acordo sorrindo. Café da manhã, irmão, jornal, banho, carro, trabalho.
Sexta e sol.
Sexta? SEXTA! Dia nacional das bombas, sempre.
Saco.
Ainda bem que chega o final de semana. Esse promete. Ponto negativo: a segunda se aproxima cada vez mais.

19.4.07

O Retorno

Depois de ter escrito sobre chegadas e partidas, simplesmente parei, larguei e me fui. Para bem longe e ao mesmo tempo, tão perto.
Pois bem.
Voltei.
Arrependida de tanto tempo longe daqui, com saudades do meu exercício quase diário e mais do que preferido.
É bom voltar para onde somos sempre bem-vindos. Como voltar pro sítio. Cheiro de café na cozinha, bolinho de fubá fresquinho, fim de tarde na rede, vento friozinho lá fora. Aconchego.