27.4.09

O hamburger como exemplo de uma história com moral

Cheguei da baladinha agora, morta de fome.
Faminta mesmo.
Naquele esquema que as minhas paredes do estômago estão se auto-devorando.

- Tem comida? Comida não, sei lá, lanche?
- Ai, filha, acabamos de pedir New Dog... pena que você não chegou vinte minutos antes!
- Ahn...
- Liga lá e pede um lanche para você.
- Ai, será que peço um hamburgão?
- Liga, pede sim, não tem comida aqui e você está com fome...

Momento de reflexão interna: já comi hamburger ontem no pós balada, não precisaria comer hamburger hoje. E considerando que daqui há seis horas estarei na yoga, não será bom para a aula... E as calorias de comer dois hamburgers no mesmo final de semana. Fora o tempo de o delivery chegar, vai ser tarde para conseguir começar a segundona às seis e meia na yoga.

- New Dog, boa noite?
- Oi, eu queria fazer um pedido.
- Já encerramos os pedidos. Eles se encerram à meia noite.
- Ahn... ok, obrigada.

Moral da história: quando não é para ser, não é.

24.4.09

De volta por dentro

Bom... e no meio do furacão e do turbilhão, resolvi PARAR no feriado de Tiradentes.
Parar e fugir.

Fugir pra tão longe que, dentro da ilha, era quase uma hora de viagem. A luz elétrica e o sinal de celular lá, não nos alcançavam. Em compensação, os borrachudos nos devoravam, e as estrelas brilhavam tão puro que uma lágrima pode ter escapado naquela poesia noturna.

Fugir para tão dentro, a ponto de fazer bem ao corpo, à alma, e ao coração.

Dessa vez eu estava como auxiliar, em um quase-trabalho no meio do paraíso.
Eu estava como amiga também, para estar por perto como há tempos não ficávamos.

Eu estava como eu, longe de tanta coisa, e tão mais perto de mim, em uma fase de vida turbilhão que deixa a gente viva mas muito exausta.

Parar a ponto de ficar tão perto do que é natural que dez da noite era tarde para ir dormir e sete da manhã era tarde para acordar.

Tão perto que eu amei o banho no banheiro de pedra no meio do mato com uma clarabóia que fazia do banho ao meio-dia o mais próximo do que é mágico na vida de alguém.

Tão perto que toda a minha vida metódica de querer todo controle sobre tudo foi deixada para trás. Cada uma das minhas coisas (necessaire, travesseiro, tênis, elástico de cabelo, máquina fotográfica, toalha de banho, entre outros) estava em um canto diferente e eu estava simplesmente ok com isso.

Tão perto que enfiei o pé na lama na volta, e voltei na estrada com pé molhado, meia molhada, tênis molhado.

O cabelo, então, nem se fala. De tão perto da natureza, a aparência dele ficou quase como o de uma boa selvagem.

As trocas, todas e tantas, as conversas, todas e tantas, o sol, tanto e tanto, aquele mar azulão, aquele mato verdão, o mergulho silencioso para dentro de meus pensamento e a preguiça de voltar a falar na volta.

No meio do caminho tinha uma Figueira, tão grande, tão linda, tão antiga, tão indescritível, que só de olhar aquela Figueira todos os meus problemas e pensamentos ficarem micros perto de tudo aquilo, aquela energia, aquelas raízes, aquela história. E ficar perto da Figueira, olhar ela, tocar ela, me fez um bem danado. Olhar ao alto e não enxergar fim para além das copas das outras árvores. Não tinha fim.

E então quando eu voltei, me sentia assim, vazia.

Vazia de tudo que é preocupação desnecessária, e cheia, muito cheia, desse lindo reencontro com-a-migo-mesma que é o que a gente às vezes esquece perdida na rotina.

Aliás, a volta foi estranha... chegar em São Paulo, simplesmente tão cheia e iluminada e barulhenta.

Para os meus dias, barulho era pássaro e vento na copa das árvores e onda batendo nas pedras. E luz era do sol, luz de vela, da fogueira, e das estrelas.

Fica no coração, na alma, e no corpo, lembranças maravilhosas e marcas inesquecíveis do que se passou lá naquele paraíso, e que se não se passará nunca mais.










23.4.09

Jorge da Capadócia

Imagem de São Jorge
Jorge da Capadócia, o original, na caverna na Turquia

Muita fé e apreço por esse Santo guerreiro e protetor.
Valei-me, São Jorge!

Tá chegando de novo

Chega logo,
logo chega,
frio na barriga generalizado,
debulhando a programação cá estou eu de novo,
preparando as pernas para rondar o centro noite adentro,
manifestações de rua,
shows,
museus,
cerveja,
insônia,
noite adentro,
segue sempre,
vai caminhante antes do dia nascer,
fica bêbada,
volta a ficar sóbria,
senta no chão,
faz xixi em lugares no mínimo duvidosos,
senta em alguma praça no meio do caminho,
curte,
curte muito,
observa tudo,
o olhar de fora,
participa de tudo,
o olhar de dentro,
se joga na vida,
tanta risada,
se joga na noite,
tanta conversa,
gasta a sola do tênis até o joelho doer,
perna dói,
pé dói,
passa frio,
passa calor,
tanto de tudo,
lugares livres,
empurrões em shows apertados,
tanta gente,
vai,
curte muito,
chega logo,
amigos a cada esquina,
todos os shows,
tanta cantoria,
tudo aquilo,
tudo isso,
tão intenso,
só 24hrs,
frenesi da grande cidade noite adentro,
frenesi do centro velho noite adentro,
noite adentro,
noite adentro,
noite adentro.

Chega logo,
logo chega.

Virada Cultural 2009 - de 02 a 03 de Maio.

21.4.09

Novidade na praça

Ainda não é hoje que vou contar do efeito que esse feriado teve na minha vida.

Mas preciso dizer que, mesmo sem um namorado novo, já tenho uma música linda para cantar para ele quando ele chegar.

Quando ele chegar, que ele seja muito bem vindo!

8.4.09

And have a good night

Faz quatro noites que eu passo ilesa ao meu sono.
Se isso se repetir hoje, amanhã eu juro que piro.
Boa noite então, que preciso dormir bem.

Have a nice day

Ainda não chegou a frente fria que eu queria que chegasse, mas já está outoninho, sol mais fresquinho do que o sufocante sol de verão.
E aí eu subi uma quadra pra pegar a minha carona pós-almoço para subir.
E a tarde estava bonita e as pessoas do meio do caminho também pareciam bonitas. As árvores estão bonitas e, milagre, o trânsito estava relativamente tranquilo - a ponto de me dar vontade de andar no meio da rua.
Virei a esquina, andei na sombra das árvores, delícia, atravessei a rua, andei debaixo do sol, delícia.
No rosto, um meio-sorriso, desses que estão dentro da gente mas que a gente não sabe se quer ficar dividindo com todo mundo.
No passo, ponta do pé, uma quase dança.
Nada de pressa pra encontrar a carona - que aliás, eu podia avistar, já estava me esperando.
Nada de pressa pra voltar praquele ambiente que tem estado ultra frenético, embora mantenha-se delicioso.
Cheguei na carona e tirei o fone de ouvido com um pouco de dor no peito - a música era perfeita pro momento.
É a música de comemoração outonal, de sol forte mas nem tanto, de vontade de andar no meio da rua, de meio sorriso que quase sai e quase se mantém escondido.
Ao longo desse trajeto, no meu celular tocava Have a Nice Day - Stereophonics.

6.4.09

Círculo macio

Ainda bem que algumas pessoinhas, as mais especiais, as mais chaves estão sempre aqui logo ao lado para esses momentos.
Ainda bem que essas pessoinhas acreditam em mim e em tudo de bom que tem nesse mundo.
Ainda bem que elas me falam: COMEMORE! ao invés de ficar pensando what comes next.
Ainda bem que essa segunda feira assim, tão louca, tão frenética, tão enfática, teve o fim que teve o dia de hoje.
Ainda bem ainda bem ainda bem.
Quem está perto hoje esteve já desde alguns anos - esse é meu círculo macio.
Sem essas pessoas ao lado não seria assim, tão bom e tão macio e tão acolhedor - mas foi.

(o mais louco é que hoje é só segunda e que esse mês é só abril.)

5.4.09

Avenida Dropsie

OU: a vida na cidade grande

Sexta feira, 18.40.
Ainda estávamos no escritório, e não éramos um número pequeno.
A peça começaria às 20hrs, em uma distância de um confortável caminho a pé.
Antes disso, comeríamos uma coxa-creme na Livraria lá embaixo no térreo do nosso prédio que tem um café delicioso cheio de guloseimas que compensam.
Eu desci antes que ele, para passear na Livraria, porque ele ainda estava em reunião e atolado no relatório. Íamos nos encontrar na Livraria em pouco tempo, onde comeríamos a coxa-creme e seguiríamos a pé ao teatro (eu, mesmo mancando, queria andar).

Sexta feira, 19.30.
O teatro começaria em meia hora.
Eu já tinha entendido que não daria tempo de comermos a coxa-creme.
Subi de novo ao escritório. Muitas pessoas ainda estavam lá.
Ele, ainda em reunião, fazendo o relatório.
Nem cheguei perto, porque ele não demonstrou nenhum sinal de abertura para que eu interrompesse a reunião.
Sentei ao lado da amiga e ficamos batendo um papo.
O marido dela já ligava, para saber a que horas ela chegaria em casa - era sexta, afinal das contas!

Sexta feira, 19.45.
Decidi interromper a reunião: "só quero uma opinião real se vai rolar o teatro ou não. Começa em 15"
Ele disse que já estava indo, e dito e feito.
Não dava nem tempo da coxa-creme, e se decidissemos ir a pé perderíamos a peça.
Comemos um pacotinho de Club Social cada um, para andar apenas uma estação de metrô - da Consolação para o Trianon-Masp, onde descemos na frente da FIESP e entramos no teatro rápido.
Para nenhum dos dois deu tempo para o primeiro cigarro do dia.

Sexta feira, 20.00.
Avenida Dropsie.
Teatro Popular do Sesi.
Felipe Hirsch dirige e adapta o texto de Will Eisner com o cenário incrível da Daniela Thomas. É a reestréia da peça, que já tinha estado em cartaz em 2005, mas que agora volta para comemorar os 15 anos da Sutil Companhia de Teatro. Guilherme Weber, André Frateschi, e outros atuam magistralmente, enquanto Gianfrancesco Guarnieri empresta sua voz ao narrador.

Das quase duas horas de peça, chove por 15 minutos ininterruptamente.
O cenário que é o prédio que é a avenida que são as janelas e as escadas onde todos sobem e descem e falar e ficam mudos é algo impressionante. E a peça é muito mais sua trilha sonora e a expressão corporal dos atores do que diálogos e narrativas lineares. E impressiona muito. Todas as histórias picadas e juntas ao mesmo tempo. A trilha sonora jazzística impecável. Não sei onde ficava a Avenida Dropsie do Eisner, mas aqui ela se encaixava muito bem com São Paulo.

"Avenida Dropsie, porém, trata da solidão coletiva(...). Dropsie fala das pessoas das grandes cidades, que não olham nos olhos de ninguém quando andam na rua, que não são capazes de sentir nada quando passam por alguém rastejando no chão, que parecem cada uma viver um mundo totalmente particular, cuja redoma de vidro invisível o protege dos iguais. Também fala de seus sonhos, de sua poesia, das amizades. Humor e melancolia se alternam no espetáculo. É possível rir em um segundo, e chorar no seguinte. A Sutil, assim com Eisner, brinca com a emoção de seu público." (trecho retirado de http://www.screamyell.com.br/mais/dropsie.htm)

Todos muito humanos - a platéia, os atores, o autor. Enfim, a população de uma grande cidade que, mesmo que isolados em suas redomas, e segurando firmemente seus pertences junto ao corpo, e andando com pressa mesmo sem saber ao certo para onde está indo, é no final isso: humana, cheia de vida.

Saí da peça pensando nos que me criticam por ser tão loucamente paulistana, como se isso significasse um coração gelado e falta de algo humano em mim, como se ser paulistana fosse uma ofensa à espécie humana. Como se São Paulo e os paulistanos como um todo fossem, todos, uma ofensa e um obstáculo.
Ao mesmo tempo, descobri porque é que sou tão loucamente paulistana e porque não poderia deixar de ser: para além dessa selva de concreto que assusta a tantos, está a minha vida construída aqui. E gostar de São Paulo nesse caso não significa algo não-humano: muito pelo contrário, "humano, demasiado humano". Como se São Paulo e os paulistanos fossem, todos, essa bagunça humana intensa de vida.
"Só" isso.
É uma cidade que oferece uma rotina de adaptação feroz a tudo o que a cidade tem de hostil (não são poucas coisas) e de paixão absoluta a tudo o que a cidade tem de maravilhoso (não são poucas coisas).
Uma cidade sem meios-termos, e que não dá para ter preguiça de mergulhar nela, nem de resistir a ela. É isso. Aceite sem se incomodar, adapte-se para sobreviver, e seja muito bem-vindo.

Sexta feira, 22.00.
Acendemos, finalmente, nosso primeiro cigarro do dia. Atravessamos a Paulista para pegar um táxi do lado de lá. Eu, mancando, andando devagar, fiz com que párassemos na "ilha" no meio da avenida entre um farol e outro.
Uma ilha deserta, só com nós dois lá.
De um lado e de outro, carros, tantos, rápidos, barulhentos, buzinam, correm, música alta, vento em uma direção, vento em outra.
Entramos no táxi: "Melo Alves com Tietê, por favor". Perto da Consolação, na Paulista, trânsito. É uma cidade com claros sinais de esgotamento: trânsito sem nenhum motivo aparente às 22hrs de uma sexta é quase insuportável.

Sexta feira, 22.20.
Chegamos e sentamos.
Primeira coisa, ação de urgência, pedimos um chopp.
Segunda coisa, acendemos outro cigarro.
Terceira coisa, pedimos o cardápio.
Quarta coisa, pedimos as fritas.
Quinta coisa, pedimos o sanduba.
Pronto. A festa estava armada.
Papo vai, papo vem, papo bom, o trabalho (comum),
(mais um chopp) a vida, os amigos, as conspirações,
(mais um chopp) a peça, São Paulo, os planos pro final de semana,
(mais um chopp) os planos pra Páscoa, os planos pra Tiradentes,
(mais um chopp) os planos pra vida (a saideira e a conta).

Sexta feira, 23.50.
"Corre lá que o metrô ainda está aberto!"
Ele saiu correndo do táxi, eu segui até em casa.
Capotei pesado, depois de uma semana ultra intensa.
A vida na cidade grande.

2.4.09

I love this man!

Lá, naquela louca farra esbórnia político-econômica que está sendo a cúpula-em-crise do G20 em Londres, Obama fez festa para o Lula.
"This is the man! I Love this man!", ele disse, sorridente e brincalhão.
E não pára por aí: "He is the most popular politician on earth!", e ainda continua "It's because he's good looking."
Pois é, I love this man.

***

Ainda diretamente do Excel Center, nosso I-love-this-man-presidente fez o que ele sabe fazer muito bem: frases boas e emblemáticas que nós, brasileiros, adoramos ouvir.
E aí ele soltou, "Você não acha muito chique o Brasil emprestar dinheiro para o FMI?".
Sim, presidente, nós achamos. Muito chique.

Façanha de uma bêbada de nada

Hoje escrevi na nossa lousa comunitária daqui um poema para o dia de amanhã.

Na lousa está escrito assim:
"Poema de 6a:
O sapo não lava o pé.
Não lava porque não quer.
Ele mora lá na lagoa, não lava o pé porque não quer.
Mas que chulé!"

Daí rolou toda uma comoção e todo mundo ficou dando risada e risada e risada. Todos, um pouco bêbados e lesados depois desse dia loucamente tenso que foi o dia de hoje. Quando eu voltei para me sentar aqui na minha mesa, trombei com o extintor que fica em pé no chão, no meio do caminho. Ele caiu e fez o maior barulhão.

Os veteranos de casa me disseram que não foi a primeira vez que alguém tromba com esse extintor. Mas foi a primeira vez, na história dessa instituição, que alguém o derruba.

ps.: são dez para as sete e tem tanta gente aqui fazendo tanta reunião e tanto barulho que parece que o relógio diz duas da tarde. Hoje vamos longe.

Infinito x Imensurável

Contexto:
terminando uma conversa no msn.
Tínhamos marcado de nos ver amanhã.

Amigo diz:
vamos conversar bastante sim, saudades de ti
Eu diz:
saudades tbm
Amigo diz:
um beijo imensurável
Eu diz:
um beijo infinito
Eu diz:
(precisaremos de um juri que decida o que é maior, o imensuravel ou o infinito?)*
Amigo diz:
gostei da história
Eu diz:
que história?
Amigo diz:
do infinito x imensurável
Eu diz:
é, eu também. fiquei pensando nisso agora.

*é hábito fazermos competiçõezinhas desse tipo, a última disputa tinha sido trilhares de beijos x todos os beijos do mundo. A sensação que fica é que agora chegamos a um impasse definitivo.