25.2.09

A volta dos que não foram

Então tá.

Eu não ia, e tinha decidido isso, e sabia desde sempre que cada escolha tem sua consequência. E colocando em perspectiva assim, ficar o Carnaval em São Paulo simplesmente me parecia "A" coisa a ser feita.

Não era para doer nem para ser sofrido. E de fato não foi. Ou talvez tenha sido até aquela sexta lá pelas 19hrs, quando eu sabia que se eu quisesse, ainda daria tempo de mudar os rumos do feriado e pegar uma estrada. Até aquela sexta lá pelas 19hrs, eu ficava entoando o mantra "sim o carnaval em São Paulo é bom, ele é bom, eu vou gostar, eu vou me divertir... Sim o carnaval em São Paulo é bom, ele é bom, eu vou gostar, eu vou me divertir..."

Mas aí, a sábia frase popular já disse "pau que nasce torto nunca se endireita", e eu que achava que teria um carnaval carnavalesco em São Paulo, fui parar em uma casa de rock obscura na Barra Funda na sexta à noite - SEXTA DE CARNAVAL. No meio do caminho nos perdemos, e lógico que alguma alusão ao carnaval tinha que ter: lá na Casa Verde, cruzamos com um grupo de pedestres seguindo para o sambódromo, com suas gigantescas alegorias carnavalescas. A essa hora já não era mais dolorido ficar aqui no carnaval.

Sábado, ainda com sono porque a minha noite não-carnavalesca tinha ido até cinco e meia, acordei cedo porque queria tomar sol e tinha decidido que assim o faria. Foi o único dia mais carnavalesco: o dia na piscina, regado a caipirinhas. A noite, no bloco na Vila Madalena. E no bloco tudo parecia estar no lugar certo de carnaval: chuva, suor e cerveja, do jeito que o Caetano já cantou. Marchinhas e pessoas conhecidas, meu ex-professor de biologia tocando cuíca ("pau que nasce torto nunca se endireita", e é estranho o japinha mais cínico que eu já conheci se jogar como um bom brasileiro ao som da cuíca). Eu usava meu "óculos de carnaval", e ele fazia tanto sucesso quanto tinha feito ano passado no Rio.

Domingo mudei o lado da fita. Deixei chegar o cansaço acumulado. Liguei o meu "modo hibernar" ("pau que nasce torto nunca se endireita", e tudo que eu nunca liguei em outros carnavais da minha vida foi o meu "modo hibernar". Esse ano aconteceu). Cheguei a um meio termo entre o hibernar e a cinefilia. Quando eu não estava dormindo, eu estava ou lendo o jornal e acompanhando o noticiário sobre o Carnaval (principalmente o de fofocas políticas, tipo o Lula que ficou grudadinho no Paes e no Cabral e a Dilma que foi pro Recife), ou comendo fora em algum bom restaurante (convidada pelos meus pais), ou assistindo a um filme (cinema ou DVD).

E assim se seguiu: domingo, segunda, terça, até quarta... Algumas exceções surgiram: um churrasco debaixo da chuva em Alphaville na 3a; um dia híbrido na quarta, sem trabalho, mas com cara de dia útil, só que com um cineminha às 14hrs.

A rotininha estava boa.

Não fiz meus treinos de corrida e meu personal não vai gostar nada dessa notícia. O sono durava 12 ou 13 horas por noite, assim, direto e reto. Os sonhos eram absolutamente carnavalescos e reais: eu fui para Salvador com as minhas primas, fui para o Recife com alguns amigos, e fui pro Rio com outros. Tudo isso, no meu mais íntimos universo onírico. Mas a vida real não estava nada mal e não deixou a desejar.

Então tá.
Sobrevivi (muito bem, obrigada) ao Carnaval em São Paulo.
Carnavalei só um dia, e entendo isso tranquilamente dentro do contexto das escolhas que são feitas vida afora, algumas coisas priorizadas ou deixadas para trás em prol das outras.
Dormi (muito bem), comi (muito bem), assisti a filmes (muito bons).
Às vezes eu acho que eu não preciso de mais do que isso.

À Carnavália, só ano que vem.
Hoje, à Quaresma.
(Quarenta dias de reclusão dos prazeres carnais, reflexão e redenção, até que Jesus renasça.)
OU
Hoje, à Quaresmeira.
(Árvore por demais hermosa, de flores em tons de rosa, que cresce em abundância na Mata Atlântica, mas principalmente na Serra da Mantiqueira.)

Entre a Quaresma e a Quaresmeira, cada um faz sua opção.
Eu fiz a minha.





17.2.09

Ostra

Bom, se uma ostra é onde nascem as pérolas, acho que a Solange é uma das maiores ostras que eu já conheci.

Semana passada ela tinha falado sobre o calor e as variadas da cabeça.

Daí ontem ela não foi trabalhar, e hoje quando estávamos todos lá bagunçando a copa e tomando café, perguntamos o que tinha acontecido com ela ontem. Ela disse: "peguei umas bactéria de barriga e ontem fiquei matando elas".

Eu adoro a Solange. De verdade. Ela é muito querida.

15.2.09

Descabelada Lifestyle

(continuação do post abaixo)

Daí eu cheguei lá ontem, 11hrs, como combinado.

Sentei na cadeira e tentei a minha última chance, "O que você acha que a gente faz nesse cabelo?" e ele "Gata, você não aprendeu? Eu não acho nada, EU FAÇO. Sou o mestre dos seus cachos a partir de hoje, então senta aí e relaxa, que você vai arrasar". Eu gaguejei: "Mas... mas... veja bem... mas... mas..." - a gente é meio bobo de vez em quando, né?

Aí ele tirou meus óculos e tudo que eu via pelo espelho e através dos meus 7 graus de miopia e 3 de astigmatismo foi alguma coisa bem parecida com o Edward Mãos de Tesoura. Ele passava a tesoura rápido, fazia uns recortes, fazia uns movimentos, e jogava meu cabelo para cima. Tufos e tufos e tufos. "Gata, mas você tem cabelo, hein? Bens a Deus que faz tempo que eu não via uma cabeça com tanto cabelo!".

Mais tufos e tufos e tufos.

"Agora, gata, arrasa! Ele vai armar mesmo, vai descabelar mesmo, e você vai curtir isso! Presilhas e tiaras e faixas estão valendo, mas tem que se assumir, assumir o cabelão e os cachos"

E eu, que há muito tempo não tinha um cabelo tão curto, agora estou com um cabelo acima da nuca e super irregular e... descabelado. Óbvio, muderrrrno do jeito que eu queria ele também está.

Saí de lá feliz da vida.

12.2.09

Novo Cabeleleiro

Todo mundo do meu trabalho corta o cabelo lá, e todo mundo tem uns cortes incríveis, modernérrimos.

Daí eu, que estou com um objetivo de ter cortes modernérrimos desde o ano passado, resolvi experimentar as tesouras dele. A minha cabeleleira conhece meu cabelo como ninguém, mas é bem cochinha nesse sentido. Ela não sabe de vanguardas, então eu tenho que ficar recortando revistas e levando lá. Uma hora cansa, então resolvi ir na mesma viagem das meninas e ter um corte com ele. Marquei para sábado, mas hoje fui para conhecer o cara.

Cheguei lá hoje e não dei nada pelo local. É uma portinha verde que dá para uma escada. Ele fica em cima de um buteco pé sujo. Tudo bem, é um buteco nos Jardins, mas não deixa de ser estranho um cabeleleiro style em cima de um buteco.

Tinha acabado a luz, então ele teve que descer as escadas para abrir a porta para mim. Bicha louca assumidérrima que é, desceu as escadas quase que em uma coreografia saltitante. Cabelos cacheados calculadamente despenteados, em um corte entre o corte quadrado e o black power. Um charme. Sobrancelhas feitas, lógico. Nas mãos, uma taça de vinho - nos pés, havaianas. Completava o look uma calça jeans dessas antigas e com cara de super confortáveis, uma bata branca com cara de comprada no México, bordada com umas flores coloridas. O charme final ficou por conta dos colares de contas verdes escuras que ele usava. E a peculiaridade extra é o sotaque gostoso e atacado de uma bicha-louca-baiana. A-do-ro.

Aí, subindo a escadinha, eu cheguei em um espaço meio lounge, meio cara de casa em reforma. Espalhados por esse espaço, poltronas antigas de veludo escuro, pufes para apoiarmos os pés, mesinhas de madeira trabalhada. Tudo com cara de brechó, e no som Edith Piaf arrasava com o clima blasé* de um salão-descolado-em-cima-de-um-buteco-nos-Jardins.

Ele corta o cabelo na frente de uma penteadeira no esquema "minha avó tinha". Um móvel de madeira antiga e bem escura e toda trabalhada, com um espelho gigantesco, e nas laterais do espelho o vidro era todo trabalhado. Em volta do espelho, uma moldura que se ligava ao móvel e que era toda talhada, linda, aquela coisa artesanal que eu adoro. Uma penteadeira do outro mundo, de muito bom gosto. Em cima dessa penteadeira, produtos de cabelo das mais variadas (e caras e melhores) marcas, e taças de vinho - naquele esquema que nenhuma taça combina com a outra.

Me colocou sentada na cadeira de cabeleleiro (o único objeto cliché de um salão de beleza que ele tem lá), e passou a mão loucamente para me ver a pessoa mais descabelada possível.

Me ofereceu um vinho, mas eu não aceitei - tinha que chegar em casa e ainda trabalhar. Aí começou o diálogo.

- Me conta, gata. O que você quer?
- Então, tá vendo? Meu cabelo está totalmente sem corte, e ele fica assim meio espetado. Eu quero tirar esse espetado, quero voltar a ter o cabelo cacheado, e ter uma cara bem muderrna**.
(ele continuou passando a mão loucamente pelo meu cabelo)
- Você veio no lugar certo! E que deslumbre essas luzes que você tem, hein?
- Pois é... fiz no ano passado e gostei do resultado. Nunca tinha feito antes, mas adorei.
- Agora, gata, me diz. Você sabe que esse espetado é porque o relaxamento que você fez é muito forte, né?
- Sei, sim. Pode reparar. Meu cabelo tem três fases: o da raiz do último relaxamento, que já cresceu; o do último relaxamento, que é um bem fraquinho; e o dos outros relaxamentos, que ficou assim, espetado.
- Mas você agora vai fazer só o fraquinhos nas próximas vezes, né?
- Vou, lógico.
- E você tem alguma restrição? No formato, no cumprimento...?
- Não, não tenho. Não tenho medo de cabelo curto e nem de cabelo armado. Só quero que ele fique muderrrno.
- Eu hein, que pessoa desprendida. Qual o seu signo?
- Escorpião...
- Ai, gata! Tenho medo de escorpião!! Não volta aqui sábado não...
(as outras mulheres blasés que estavam lá riram)
- Eu sou uma escorpiana boazinha...
- Então tá, pode voltar sim.
- Mas me conta um pouco, o que você imagina pro meu cabelo?
- GATA!!!! EU SOU UM CABELELEIRO AUTORAL!!!!!! Se você não confia em mim, não sei porque veio. Agora vai, vai, vai... se confiar em mim, seu horário é sábado às 11hrs. Seja pontual.
(me entochou para fora da cadeira, eu realmente ofendi o cara com essa pergunta. Resolvi matar no peito todo aquele ataque de cabeleleiro autoral.)
- Ok então. Pode deixar, nos vemos sábado, e eu serei pontual.
- AAAAAaaaaaaaahhh que alívio!!! É assim que se fala, gata! Vai arrasar com seu cabelo novo!

Um beijinho aqui, outro ali, em nenhum instante ele largou a taça de vinho.

Agora, fica para mim um mega friozinho na barriga de pensar o que será sábado - eu só quero que chegue logo, para estrear meu "look-arraso" no Churrasco-de-Todos-os-Churrascos e na baladinha que tem potencial.

*eu não sou blasé. Muito menos gosto de pessoas blasés e de ambientes blasés. Não tenho paciência pra isso. Mas esse lugarzinho, embora blasé, é um cantinho de mundo por demais interessante.
**muderrrno, assim mesmo, pronunciado exatamente assim, com esse sotaque inventado. Nessa minha fase de mudança de personalidade de looks, lugares a se frequentar, coisas a fazer, cortes de cabelo e companhias, sou auto-pejorativa para tudo e todos.

11.2.09

Frase do Dia

E aí eu, viciada em cafézinho, fui até a copa para pegar mais uma xícara (seria a 3a da manhã de hoje).
Solange, a copeira, estava acabando de passar um cafézinho fresquinho, e disse que levaria para mim na minha mesa quando ele estivesse pronto.
Daí ela veio, com a xícara e o adoçante, para que eu colocasse o quanto eu gosto de colocar. Só que ela esqueceu a colherzinha, então eu voltei com ela até a cozinha para poder mexer meu café - moral da história, de nada adiantou ela me trazer o café, considerando que eu tive que ir lá mesmo.
Ela, percebendo a situação, que inclusive lhe causou um claro incômodo, arrematou:
"Dona Mari, é o calor que deixa a gente tudo dar umas variada nas idéia."

ps.: quão fofa pode ser uma pessoa que me chama de DONA MARI????????

9.2.09

Causo de Professor*

Professor barbudo e com cara de jovencito está dando aula.
Seu público?
A molecadinha de 12/13 anos, que está no 7o ano do Ensino Fundamental (ex 6a série do Ginásio).

Enquanto ele explica alguma coisa sobre a Idade Média, dois meninos do fundo da sala batem papo incessantemente.
O professor interrompe a aula e fica em silêncio, observando os alunos.
Os alunos se dão conta e páram de conversar, ficam quietos e esperam a bronca.

O professor começa:
"Vamos combinar assim? Quando vocês quiserem conversar durante a aula de algum assunto que não seja da aula, vocês levantam a mão. Eu paro de dar aula, vocês conversam sobre o assunto, pode durar o tempo que tiver que durar. Quando vocês já tiverem falado tudo e colocado a conversa em dia, vocês levantam a mão de novo e eu volto a dar aula, tudo bem?"

Os dois alunos ficam quietos e acuados, e o professor volta a dar aula.
Depois de algum tempo, um dos alunos vira pro outro e fala: "Acho que isso foi sarcasmo, não foi?"

Fim da história.
Poderia ter acontecido em qualquer quadrinho do Calvin ou da Mafalda.

*diretamente do "banco de causos" do meu irmão professor.

7.2.09

ALIÁS

Fiquei pensando nessa coisa de verão, de música, de beijo... e continuo sozinha-sozinha, nesse esquema "u-hul, estou sozinha".

Fiquei cantando Brand New Start.

E aí descobri que, há um tempo já, eu estou muito a fim de conhecer alguém para cantar essa música.

Cantar essa música debaixo da chuva, dançando no meio da rua, de mãos dadas. De preferência, com aquela leve embriaguez do chopp vespertino do Salve Jorge (ou do Posto 6, ou do Genésio, ou do Sabiá, ou do Genial, enfim...).

Então aqui fica a letra, porque acho que todo mundo gostaria de cantar essa música para alguém em um sábado de verão.
Em qualquer dia de verão.
Todos os dias.
Todos os dias da vida, pro resto da vida, será?*

Brand New Start
Little Joy

Take advantage of the season
to take off your overcoat
the spirits will lift
of those young men you provoke
but I'll be laughing, knowing I will take you home

there ain't no lover like the one I've got
ain't no lover like the one I've got
she and I and a brand new start
I gotta give all my love

all this time they had me thinking
love's a boat that's long been sinking
but you made the claim
that taking a chance is embracing the change
I count my blessings knowing you will take me home

there ain't no lover like the one I've got
ain't no lover like the one I've got
she and I and a brand new start
I gotta give all my love

I've got time to hold my own
what's a day when the years are on their way
I gotta say

there ain't no lover like the one I've got
ain't no lover like the one I've got
she and I and a brand new start
I gotta give all my love

Love won't bring me down

*fica aqui a indagação sobre a existência do tal amor eterno. Assunto para algum outro post quando eu estiver a fim de questionar isso a fundo. Por enquanto, eu só quero cantar Brand New Start.

Trilha sonora do verão

Esse verão está bom...

Tudo bem que eu, rabugenta que sou, não vejo a hora de chegar a frente fria. Não tem jeito. Frio é minha praia e calor me é sofrido.

Mas então, se é para ser verão, que seja um bom verão.
Que seja um verão com sábados à tarde na Vila, tomando cerveja.
Que seja um verão saindo cedo do trabalho e indo tomar sorvete na Haagen Dazs. Indo tomar qualquer sorvete, aliás.
Que seja um verão andando no sol, para ver se a pele pega ALGUMA corzinha, mínima que seja, nos faróis de pedestres do meio do caminho.
Que seja um verão suado, rosto brilhante. Mais do que brilhante, rosto vivo.
Que seja um verão andando até o parque e correndo no parque, junto com as hordas de corredores que invadem o parque, começando bem o dia, com um pique de verão.
Que seja um verão com cabelo molhado deixando a nuca fresca. Ou então, que seja um verão com coque no cabelo.
Que seja um verão com chuvas de verão - e que eu me molhe nelas de vez em quando, porque tomar chuva é bom.
Que seja um verão com um beijo inesperado na chuva - meu primeiro e, por enquanto, o melhor que tive (obviamente, porque afinal, se é o primeiro é o único).

Que seja um verão rindo pros lados. Para todos os lados.

Que seja um verão com uma boa trilha sonora - que isso é essencial. Trilha sonora de verão são aqueles lançamentos simpáticos que tocam sem parar no rádio mas que, inegavelmente, têm um gosto especial de verão.
E a minha trilha sonora para esse ano é "A lhe esperar", Paralamas do Sucesso; "Noites de um verão qualquer", Skank (já falei dessa música em algum post anterior); e "Brand New Start", do Little Joy, que começa com uma frase muito simpática: TAKE ADVANTAGE OF THE SEASON...

6.2.09

De carro de manhã

Há realmente MUITO tempo que eu não andava no trânsito matutino paulistano. E quando eu falo MUITO tempo, é de fato MUITO tempo.
Para ser mais específica, desde dezembro de 2007.


Na época (dezembro de 2007), eu andava por dez minutos por lugares arborizados e sem trânsito para ir de casa para o trabalho.
Logo em seguida, trabalhei de casa.
Antes desse lugar que me demorava só 10 minutos, eu trabalhava há 23 km de distância de casa, quase na divisa com Taboão da Serra - meu escritório ainda era no município de São Paulo, mas da minha janela eu via Taboão. Em uma cidade como São Paulo, mesmo que você tenha carro e que seu carro tenha ar condicionado, é uma prova de resistência de saúde mental trabalhar há 23km de casa e há 32km da faculdade (para onde eu ia à noite, na época).
E depois, onde estou hoje em dia, privilégio para poucos, vou a pé ao trabalho.

Ou seja, mesmo que indiretamente, minha trajetória profissional tem muito a ver com a minha trajetória de carro, e talvez elas tenham estabelecido entre si uma relação inversamente proporcional.
Enquanto que atualmente eu não me desloco de carro ao trabalho at all e minha vida profissional está ANIMAL e eu estou indo exatamente na direção onde eu queria ir, quando eu me deslocava por uma hora e meia (cada perna) minha vida profissional era aquela bagunça.
(Visualizem: quando o eixo x - deslocamento de carro - era uma média de 60km/dia, o eixo y - realização profissional - oscilava entre o zero-de-Kelvin e o 1. Hoje, que o meu eixo x tende a zero - excluindo-se uso do carro para lazer e outras atividades -, meu eixo y tende a algo muito alto, inumerável)

Óbvio que essa minha afirmação pode ser um contra-senso e tanto. Todo mundo que mora em um grande centro está sujeito a trabalhar muito longe de casa. E, se caso onde eu trabalho agora decidir se mudar para lá de Tabão da Serra*, onde Judas perdeu as meias, eu vou ter que pegar meu carro e ir - e isso é fato. Ou seja, um privilégio e uma sorte não podem ser um padrão.

(Para além disso, se eu morasse em Itaquera e tivesse que pegar um mototáxi, uma lotação, um ônibus, um trem, um metrô, baldeação na Sé, baldeação no Paraíso, e outro ônibus para chegar onde eu trabalho, eu faria sem reclamar e de cabeça baixa, certa da necessidade de levar o dinheirinho mensal para os meus cinco filhos, cada um com um pai diferente - mas eu não sou a personagem do "Linha de Passe" e por enquanto o intuito desse post não é que ele seja uma denúncia social)

Voltando às vacas magras antes de tamanha divagação.
Daí fazia muito tempo que eu não andava de carro pela manhã, nessa hora em que todos estão se deslocando de carro. Mas ontem eu tive que fazer isso, porque tive que fazer um exame lá no Fleury da República do Líbano e não teria jeito de ir a pé. E fazer isso foi realmente muito bom. Sabe? Aquele sol bom de manhã, de um dia que ainda vai ser quente, e todas as pessoas se dirigindo ao trabalho.

(Me senti parte da musiquinha da Jovem Pan de novo: "a cidade não desperta / apenas acerta a sua posição / porque tudo se repete / e às sete explode em multidão / portas de aço levantam / todos parecem correr / não correm de, correm para / para São Paulo crescer / vambora vambora / olha a hora, vambora vambora", bem no esquema positivista da "ordem e progresso", a Jovem Pan anuncia que todos fazem São Paulo crescer. Quando meu pai me levava para a escola, a gente TINHA que sair de casa antes das sete porque essa música toca no jornal da manhã pontualmente às sete. E meu pai, eu e meu irmão ADORÁVAMOS cantar essa musiquinha indo para a escola. E isso acontecia comigo, com minhas amigas e os pais delas, e aconteceu também com o MEU pai, quando o pai dele o levava paraa escola.)

O ponto é que me senti de volta à massa das pessoas que se deslocam, ainda com sono, ainda perturbadas com a perspectiva de um novo dia (que pela caras delas de manhã, é deve ser bastante maçante). E eu me desloco perfumada, banho tomado, cabelo lavado, janela aberta, música alta, saia florida, sandalinha rasteira. Dentro do meu BlueBerry, companheiro de aventuras. E ao mesmo tempo, em uma sensação quase infantil, eu estava lá: realizada de pegar o trânsito da República do Líbano às oito da matina. Simplesmente porque aquilo me parecia uma sensação inédita.

E no retorninho que eu peguei, e que eu pegava quando eu voltava do parque de carro de manhã cedinho depois dos meus treinos de corrida, sempre tinha um cadeirante que pedia dinheiro. E ele estava lá ontem de novo. E ele sempre me chamava de boneca de porcelana, elogiava meu sorriso, e falava "para você eu não tenho nem coragem de pedir uma moeda!". Ontem, quando eu passei por ele, ele abriu um sorrisão e disse "Boneca de porcelana! Eu achava que você não existia mais! Que saudades!" E ficou lá, debruçado na minha janela, batendo papo. Quando o farol abriu, ele se despediu: "falar com você me vale muito mais do que uma moeda, apareça sempre!"

E incrível, porque ser elogiada com um cadeirante que (não) me pede uma moeda pode ser a coisa mais boba do mundo. Mas de fato, na época que eu corria ele fazia meu dia muito mais feliz com tudo isso de elogio. E ontem ele fez, também, meu dia muito muito mais feliz!

Subindo a Campinas, engravatados dentro de seus carros importados começam a reinar. O trânsito dessa chegada na Paulista é terrível - assim como é na chegada na Berrini e também na Faria Lima. A cara de amargurados dessas pessoas é ainda maior. Acho que na República do Líbano, pelas árvores e pelo parque, as pessoas esquecem um pouco que elas são amarguradas. Mas quando vai chegando perto do trabalho delas, subindo a Campinas em direção à Paulista, não há santo que aguente.

E tem isso em São Paulo, que é muito dificil para todos: quando dirigimos, não conseguimos ver o horizonte. Não tem horizonte com tanto prédio. Mesmo assim, todos ficam com a sensação de fazer São Paulo crescer. Mas quando não se vê o horizonte, para onde é que se cresce?

Enfim.

Às nove eu cheguei em casa, depois de fazer os exames. Deixei o carro na garagem e, largando a sensação positivista de fazer parte do grupo de pessoas que faz São Paulo crescer, fui a pé trabalhar.

Cheguei em 15 minutos, suada e morrendo de calor. Mas não tinha na cara toda aquela amargura.

2.2.09

Dois de Fevereiro


Todo dois de fevereiro tem sido assim desde que eu comecei com essa história de Iemanjá: todo dois de fevereiro tem sido uma bênção, no sentido mais amplo e também mais restrito que isso possa significar.
Aqui está então, essa imagem grande e linda, demonstração de minha devoção e veneração pela Rainha dos Mares, deusa - como Oxum - da fertilidade e do feminino.
Em homenagem a ela, coloco aqui não uma letra específica para Iemanjá, e sim para tudo quanto é fé de tudo quanto é orixá das religiões afro-brasileiras. Porque fé não me costuma faltar, e Iemanjá é só o meu melhor exemplo disso.
Milagres do Povo
(Caetano Veloso)
Quem é ateu e viu milagres como eu
Sabe que os deuses sem Deus
Não cessam de brotar, nem cansam de esperar
E o coração que é soberano e que é senhor
Não cabe na escravidão, não cabe no seu não
Não cabe em si de tanto sim
É pura dança e sexo e glória, e paira para além da história
Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia
Xangô manda chamar Obatalá guia
Mamãe Oxum chora lagrimalegria
Pétalas de Iemanjá Iansã-Oiá ia
Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia
Obá
É no xaréu que brilha a prata luz do céu
E o povo negro entendeu que o grande vencedor
Se ergue além da dor
Tudo chegou sobrevivente num navio
Quem descobriu o Brasil?
Foi o negro que viu a crueldade bem de frente
E ainda produziu milagres de fé no extremo ocidente
Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia
Xangô manda chamar Obatalá guia
Mamãe Oxum chora lagrimalegria
Pétalas de Iemanjá Iansã-Oiá ia
Ojuobá ia lá e via
Ojuobahia
Obá...

Música de fim de sábado

Lá, no fim da Augusta, encrustrado em algum imóvel que não deixa suspeitas mas também não passa ileso, entre os puteiros e perto da Inferno e da Vegas, está o Studio SP. Lá, naquela uma e meia da manhã daquele sábado, eu entrava na balada depois de beber algumas e jogar papo fora na Vila Madalena.
You know that I'm no good - e talvez isso seja verdade.
Ou pelo menos era no sábado. Ou talvez não - porque a gente ficou conversando como dois esclerosados com amnésia da vida no curto prazo.
Mas estávamos lá e quem estava no palco era a Miranda Kassin, cover da Amy Winehouse, ou como alguns gostam de dizer "Nossa Amy tupiniquim, porque a britânica não chega aqui tão cedo".

Daí acabou o show e entrou o dj - tocando electro, rockinho indie, rock 80s. Essas coisas que tocam nessas baladas que as pessoas que se dizem descoladas costumam achar bacana.
E é engraçado estar em um lugar assim, tão tipicamente paulistano, e só conversar com sotaques cariocas. Nos acompanhando (eu e LouLou, companheira de aventuras), um grupo de amigos, desses que podem se tornar potencialmente queridos e especiais na minha vida, e que invadiram São Paulo - todos ao mesmo tempo e pelo trabalho, mas cada um tem um trabalho diferente. E a diversão deles é essa: descobrir São Paulo e se entregar sem resistir às delícias dessa cidade. O mais louco: para dois desses cinco cariocas, a escolha foi consciente, algo como "sim, eu troco a beleza do Rio pelo concreto de São Paulo". E não pelo dinheiro nem por nada. Pura e espontânea vontade. E aí, ao contrário de muitas pessoas que vêm de fora e que acham essa cidade sofrida, esses cariocas estão felizes da vida aqui, e totalmente adaptados. E imitam o meu sotaque como ninguém. Cariocas, pessoas queridas, por aqui - quase o mesmo gostinho de mate limão e biscoito Globo na praia de Ipanema. QUASE a mesma coisa... Só que a gente estava entre os puteiros da Augusta.

E aí, enfim, som na caixa dj, sol quase batendo na rua, e a música é essa: Everyday I love you less and less. Kaiser Chiefs e seu rock FANTÁSTICO que é uma loucura, com uma letra surreal e um ritmo assim: de fim de sábado.

Everyday I love you less and less
(Kaiser Chiefs)

Everyday I love you less and less
It's clear to see that you've become obsessed
I've got to get this message to the press
That everyday I love you less and less
And everyday I love you less and less
I've got to get this feeling off my chest
The Doctor says all I needs pills and rest
Since everyday I love you less and less
Unless, unlessI know, I feel it in my bones
I'm sick, I'm tired of staying in control
Oh yes, I feel a rat upon a wheel
I've got to know what's not and what's real
Oh yes I'm stressed, I'm sorry I digressed
Impressed you're dressed to SOS
Oh, and my parents love me
Oh, and my girlfriend loves me

Everyday I love you less and less
I can't believe once you and me did sex
It makes me sick to think of you undressed
Since everyday I love you less and less
And everyday I love you less and less
You're turning into something I detest
And everybody says that your a mess
Since everyday I love you less and less
Unless, unlessI know, I feel it in my bones
I'm sick, I'm tired of staying in control
Oh yes, I feel a rat upon a wheel
I've got to know what's not and what is real
Oh yes I'm stressed, I'm sorry I digressed
Impressed you're dressed to SOS
Oh, and my parents love me
Oh, and my girlfriend loves me
Oh, they keep photos of me
Oh, that's enough love for me