4.10.08

Exercendo a cidadania (e a civilidade?)

Hoje cheguei em casa e perguntei pro meu pai: " e aí, tá pronto para exercer sua civilidade e sua cidadania amanhã?". Ele, fofo que é, me mostrou meio orgulhoso a "cola" que ele tinha feito pelo UOL: ele digitou o nome dos candidatos dele, e imprimiu o que o UOl chama de COLA UOL Eleições 2008.

Daí ele me devolveu a pergunta: "já escolheu seus candidatos? Já separou seu título?". Bom, o título eu pego amanhã, porque ele está aqui na gaveta ao lado.

Eleições brasileiras são um acontecimento estranho. Bastante ufanista. Horário eleitoral é uma bizarrisse sem fim - mas bem que eu queria assistir o horário eleitoral para a prefeitura de Japarantinga, por exemplo. Se bobear eu daria mais risada do que dou com o CQC - mas não perco por nada o CQC de segunda, especial das eleições.

Voltando... não sei se a nossa democracia funciona, mesmo. Pelo menos não desse jeito, com zero de accountability, com políticos que se repetem, com projetos que não mudam nunca (fora a Marta querendo fazer de São Paulo inteira uma cidade wireless - parabéns, hein, dona Marta?), com todo um esquema underground de corrupção que às vezes vem à tona (só a pontinha do iceberg, sempre) e que permeia absolutamente todo o sistema político brasileiro.

Pois é. Lá no trabalho brincam comigo que eu sou a personificação da crença em um mundo melhor. Em eleições para mim não existe tal mundo. Pelo menos não aqui em São Paulo - e não sei se em algum município do Brasil.

Já fiz aula disso na faculdade, política, sistemas políticos, e se eu lesse mais um pouco do Bobbio eu poderia fundamentar melhor, de maneira quase acadêmica, minha não crença na política do Brasil para os próximos tempos, e minha não crença nessa democracia de faixada aqui estabelecida. De qualquer forma isso aqui não é conversa de bar, e sim monólogo de blog, então meus devaneios são puro senso comum bastante preguiçoso de se embasar melhor.

Hoje perguntei para a Cidoca e para as cabeleleiras quem é o prefeito delas. Todas responderam Alckmin, e na minha humilde opinião isso é simplesmente uma influência bem exercida pelas clientes e patroas. E quando elas devolviam para mim e eu respondia que vou anular, o rosto delas se escurecia, como que afogado em uma decepção infinita. Com alguns cinco minutos de prosa, explicando de maneira didática a minha escolha, algumas entendiam e outras continuavam sem entender.

De qualquer forma, o ponto é que anularei como forma de protesto. E se antes eu pensava em dar um voto útil para a Marta, anti Kassab ou anti Alckmin, hoje eu sei que não darei, e que anularei nos dois turnos. Isso para mim pode ser meu não-exercício de cidadania, mas um sim para o exercício de civilidade. Me negar em dar um voto de credibilidade às opções que estão aí é meu jeito de ser um pouco mais civilizada em um país de puro amadorismo político e democrático.

Mesmo assim eu gosto desse fuzuê político, pesquisas Ibope e Datafolha, pessoas discutindo política e voto. Gosto disso por parte, sempre, dos cidadãos, e nunca dos políticos. Da mesma forma, e isso também é por parte dos cidadãos, fico com um grande pé atrás quando o exercício da democracia beira uma grande festa eufórica.

Mas sobre democracia e festa eufórica falo outro dia. Antes desse outro dia chegar, recomendo "O Espetáculo Democrático", de 2003, dirigido por Guilherme César. É rapidinho: tem 40mins. E ele faz bem isso: a partir da euforia reinante entre os cidadãos e eleitores brasileiros quando da eleição do Lula em 2003, ele faz uma bela crítica ao nosso sistema. Tomei conhecimento tardio desse documentário quando estive, nesse agosto, na sessão temática "Se as eleições pudessem mudar, há muito teriam sido proibidas", dentro da Mostra "Cartas brancas ao submarino vermelho", dentro da Mostra Internacional de Curtas de São Paulo. Meu conhecimento tardio desse documentário não funciona como um impeditivo para que eu recomende fortemente esse documentário, e assim o faço aqui: assistam "O Espetáculo Democrático".