29.7.08

Compartilhando a Cumplicidade do Silêncio

É engraçado isso, mas a partir de algumas situações pelas quais vivi, eu desenvolvi uma teoria bem simples.
Segundo essa teoria, a gente descobre que é realmente íntimo de alguém quando consegue ficar em silêncio na companhia dessa pessoa sem que isso signifique nenhum tipo de incômodo ou angústia para nenhuma das partes.

Minha teoria não é empírica e nem passou por testes para concluirmos alguma coisa sobre a real veracidade e aplicabilidade dela, mas é fato que, entre as pessoas com quem dividi essa idéia, a aceitação da teoria foi unânime (às vezes penso que posso ter questionado somente às pessoas que têm alguma característica próxima da loucura, similar à minha loucura particular).

Na verdade o ponto é que duas pessoas, quando estão juntas, normalmente não ficam quietas. E ficam falando, falando, falando, incessantemente, mesmo que não tenham mais o que falar. Elas simplesmente inventam assuntos, papos, causos, e preenchem o tempo com isso.
Porque nesses casos o silêncio entre essas pessoas traz sempre uma série de dúvidas:
. No que você está pensando agora?
. Você ficou quieto por que por acaso está bravo comigo?
. O que em seus pensamentos é nesse exato instante mais interessante do que dividir idéias comigo?

O ponto principal é que quando a real intimidade existe, o silêncio não incomoda, o silêncio não soa ameaçador (o silêncio ameaçador, inclusive, faz muito mais barulho do que 10 mil decibéis em algum festival de verão europeu). Muito pelo contrário, o silêncio conforta. Ele não tem nada de antipático nem de anti-social. Um interlocutor não está bravo com o outro simplesmente porque optou por vagar em suas idéias e somente nelas.

O silêncio compartilhado é na verdade o ponto alto da cumplicidade.
. Eu não preciso estar sozinho para mergulhar em meus pensamentos.
. Eu aceito a sua companhia nesse meu momento tão interno.
. E eu gosto da idéia que você também esteja imerso em seus pensamentos enquanto eu estou nos meus.

Essa para mim é a mais alta intimidade: quando é possível para duas pessoas que elas conversem e silenciem com a mesma naturalidade e facilidade. Nas vezes em que vivi isso, percebi que isso é atingido após muita convivência, ou após uma identificação fácil e forte e rápida.
Sabe aquela história que podemos contar nossos amigos de verdade com os dedos de uma mão só? Eu talvez discorde dessa idéia, porque sempre que penso nos meus amigos de verdade isso normalmente dá mais. Mas para além das amizades verdadeiras, existe a intimidade verdadeira. E as pessoas com quem eu divido o silêncio em total conforto são pouquíssimas e raras.

Exemplares únicos.

Óbvio que para as pessoas que discordam da minha teoria, todos os parágrafos acima são a mais linda baboseira já testemunhada pelo universo...
Já para as pessoas que concordaram com a minha teoria, a metade de mim que acredita na magia do mundo vai um pouco mais longe.
Ela acredita que os pensamentos dialogam no silêncio, por isso que o silêncio compartilhado significa tamanha intimidade absurda – ele nada mais é do que um diálogo entre pensamentos.

27.7.08

We could use a little Soulshine

Quando três imagens falam muito mais do que mil palavras.




Créditos:
praia de Juqueí, sábado, 26 de julho de 2008.
Trilha sonora:
What a difference a Day made, Jammie Cullum; Soulshine, Michael Franti & Spearhead.
Vento gelado, mar congelante, areia fresquinha, sol quentinho.

Da Índia para Sumatra

Vou atacar com três, mas você só defende com um.
Na casa da vizinhança, quatro pessoas, quatro taças de vinho novíssimas, de cristal da Boêmia, quatro garrafas de vinho – e mais algumas de cerveja.
Antes disso, o teatro. Aliás, recomendo super: Amargo Siciliano, três mini-peças de textos do Pirandello, no Viga Espaço Cênico, na Capote Valente, encenado pelo grupo Tapa e dirigido pela Sandra Corveloni – nossa Palma de Ouro de melhor atriz. Não sei até quando fica em cartaz, mas vale muito a pena conferir, é altamente recomendável.
Pois bem. Chegamos do teatro e fizemos um pequeno pique-nique no chão de assoalho, com aperitivinhos bons, temperinhos bons, doce de nozes.
E depois armamos o tabuleiro.
No assoalho de taco, um edredon macio para sentarmos em cima e não passarmos frio. Para cada um, um travesseiro. Todos sem sapato. No centro do edredon e das nossas atenções, lá estava: um tabuleiro de War.
Demos risada, perdemos o dado no edredon, tomamos vinho e cerveja, trocamos exército, quisemos conquistar o mundo, lutamos contra nosso inimigo comum: a expansão sem fronteiras do exército vermelho leninista do Coala Rosa.
Na trilha sonora, bossa nova, Stones, Belle and Sebastian, a trilha sonora do Across the Universe. Na sala éramos quatro amigos que se divertem juntos. Na conversa, tentávamos em vão descobrir qual o objetivo dos nossos adversários. Tempo perdido, óbvio, como qualquer outro tipo de reflexão em que suposições têm mais importância do que fatos. Naquela hora, sentados meio tortos no edredon, perder tempo com suposições conspiratórias sobre os objetivos alheios parecia o melhor a ser feito – além de pensar bem na sua própria estratégia e na dúvida existencial “será que os dados estão contra mim hoje?”.
Ficamos todos abismados quando descobrimos que já eram cinco da matina. E eu me lembrei que sempre que a felicidade é assim, simples, fácil, óbvia, ela nos escapa. E que bom mesmo é enxergá-la antes que ela fuja.
Porque daí fica na boca o gostinho bom daquela sexta tão curtida, tão improvisada, tão de repente e tão bem vivida.
No dia seguinte recebi por mensagem de texto no celular a notícia de que tinham descoberto doping nos exames pós-War do Coala Rosa, e que as partidas de sexta tinham sido anuladas porque duas vitórias no War não pode.
Tudo bem, não vejo a hora de chegar a próxima vez em que jogaremos War de novo.

25.7.08

Eu gosto da idéia

Vamos ao teatro, não sabemos em quantas pessoas, nem exatamente para que peça.
Mas sei que vamos ao teatro.
"Se vocês quiserem, depois do teatro podemos ir para a minha casa e tomamos vinho nas minhas taças novas. E jogamos War."
Eu gosto da idéia. Bastante.

Devendra Banhart e o Coringa

Começou desde quarta com um telefonema básico na horinha de sempre, do amigo-vizinho: "Cineminha?".
Mas eu não estava a fim, então respondi: "prometo que amanhã veremos Batman".
Amanhã seria quinta, e confirmamos que iríamos no Batman. A amiga de Nova York confirmou que iria também, e ela como sempre - e é uma delícia! - chegou em casa logo depois do trabalho dela.
E aí, conversa vai, conversa vem... recomendações de música: Devendra Banhart. Na hora baixei algumas músicas, e meu, que delícia são essas músicas. Estou particularmente viciada em Samba Vexillographica, deliciosa, que ela tinha recomendado com especial ênfase. (Não paro de ouvir o Devendra até agora, e acho que vou continuar ouvindo por muito tempo.)
Outra coisa: ela me mostou um videozinho de passar mal de rir no You Tube, fantástico mesmo, que eu não conhecia mas que foi hit nos US. Vejam aqui:
Pegamos o amigo-vizinho e, ao chegar no Kinoplex (porque íamos assistir ao Batman na sala com o som THX, cheio das frescuras, e animal de bom principalmente para esse tipo de filme), surpresa! Com meia hora de antecedência, em plena quinta, o Batman estava esgotado.
Corremos para o Iguatemi, fiz uma balisa magistral no shopping, em vaguinha ultra espremidinha, e lá conseguimos comprar para a sessão de 21.50 (coincidência ou não, é a única outra sala de São Paulo com o tal som THX).
Mais uma vez, uma noitezinha gostosa, divertida, antológica, com direito a sorvete depois do jantar... na companhia de duas pessoas que me são ultra especiais e valiosas - e que já se conheciam de outra oportunidade, o que só aumentou o entrosamento do nosso triozinho e fez a noite ser ainda mais legal e gostosa e especial.
Na sala de espera do cinema, ficamos zuando dos adolescentes que invadiram São Paulo nessas férias de Julho. Eles são ultra arrumadinhos, fazem cara de blasé com tamanha naturalidade que até impressiona (o que será que será dessa geração?), falam no celular freneticamente e, óóóó, flagrei uma menininha pedindo que o pai fosse buscá-la (jejeje, tempos remotos aqueles em que eu fazia exatamente a mesma coisa, mas não no Iguatemi e nem com cara de blasè, muito menos ao celular - era orelhão mesmo).
O filme é animal, é foda, e dispensa maiores comentários. É um absurdo, ridiculo de bom, sem noção. A gente saiu do cinema em tamanha êxtase que não conseguíamos formular frases muito mais complexas além de "nossa, que animal", "nossa, foi foda", "nossa, olha esse Coringa". A atuação do Heath Ledger, aliás, está incrível, absoluta, soberba, surpreendente, bem além da perfeição.
Em São Paulo, uma lua quase minguante brilhava nebulosa atrás das nuvens: brincávamos que estávamos em Gothan City, e que meu carro talvez fosse o BatMóvel.


What doesn't kill me makes me stranger.

21.7.08

Metendo o dedo na ferida

OU: Refletindo sobre um assunto espinhudo

Li no blog de outra menina que ela viajou, fez tatoo na viagem, pediu demissão do trabalho. E descobri sexta que ela tinha terminado o namoro antes de fazer tudo isso.

E descobri que tudo isso aconteceu comigo também, não necessariamente na mesma ordem que a dela, mas mais ou menos assim:
- término do namoro;
- mergulho desesperado em viagens bacanas todos os feriados possíveis (Floripa, Paraty, Rio);
- duas novas tatuagens;
- demissão do trabalho.
Fora isso, eu:
- mudei o corte do cabelo e resolvi deixar o cabelo crescer inteiro repicado;
- comecei a yoga;
- comecei a dança.
(essa parte é a hora que eu resolvo formar uma rede de atividades que tenham a ver comigo mesma, com meu fortalecimento e crescimento, para tentar passar por tudo isso o mais ilesa possível. Óbvio que nosso grupo de amigos nessa hora é imprescindível, mas nas nossas viagens solitárias - e se propor tantas mudanças assim é uma enorme viagem solitária - bom mesmo é tentar ao máximo estar bem com a gente mesmo, meio que tentando se bastar, meio que tentando ser maior. Por isso essa rede de atividades bacanas me foi tão importante: ao mesmo tempo que eu estava mudando milhares de coisas como que em um tsunami devastador, eu estava também me descobrindo de um jeito diferente em outras coisas, sem nunca imaginar por exemplo que eu poderia fazer determinadas posições da yoga por tanto tempo e tão concentrada.)

E é engraçado isso, porque eu fui percebendo que me propus desafios atrás de desafios, meio que querendo mudar de vida, meio que querendo crescer de outras formas, meio que querendo me colocar à prova, testar minha resistência física, emocional e psíquica, meio que querendo testar a real força do meu instinto de sobrevivência. Também testei bastante a resistência do meu fígado e dos meus pulmões, mas não sei se isso vem ao caso agora. E no meio de tantos testes de resistência, por muitas vezes pedi arrêgo, pedi água, pedi que me levassem pro manicômio, pedi que me deixassem dormir mais e me atrasar.

E não quis fazer nada em partes, veio tudo de uma vez, em um intervalo de três meses no final do ano passado. Na hora, no calor do momento, às vezes batia um desespero, porque eu realmente achava que talvez não sobrevivesse a tudo aquilo.

A sensação que fica é que minha atitude tem "eco". Eu não sou a única que, por vontade própria, ou por forças maiores atuando aqui (aquela velha história que coincidências não existem, Cazuza já disse: "a emoção acabou / que coincidência é o amor! / a nossa música nunca mais tocou"), comprou mais briga de uma vez só do que a priori achava que iria aguentar. E no final, a gente aguenta, sobrevive, passa por cima, vai tratorzinho, supera, até a uva passa (nesses momentos de olho do furacão, a gente nunca acredita que até a uva passa, mas é verdade, ela passa).

E eu fico achando esse mecanismo das pessoas (meu, da menina do blog, de sei lá mais quem que possa ter passado por isso) bem louco. Parece que algum dia o indivíduo levanta da cama com uma idéia incessante: "minha vida está um tédio, vamos movimentar tudo um pouquinho".

Não quero passar por leviana, e fazer da maior revolução da minha vida até hoje uma luta contra o tédio. Muito pelo contrário. Hoje fica a sensação que eu TINHA que passar por tudo aquilo, simplesmente pelo amadurecimento e por lutar pelas minhas coisas.

Olho para trás e vejo tudo com muito mais serenidade. Vejo o quanto eu aprendi e quanto eu vivi. Hoje por exemplo eu sei que quando tudo acontecer ao mesmo tempo agora desenfreadamente, eu sobreviverei. Sei também que ninguém a não ser eu mesma vai lutar pelas minhas coisas. Sei da força que a gente guarda e que sabe bem como usar nesses momentos de eterna urgência e até, de um certo desespero.

Quem me viu, quem me vê.

As espinhas do rosto deram uma bela duma aliviada, assim como os kilos a mais. O cabelo está crescendo bacanudo e as tatuagens continuam lindas. O semblante está tranquilo. Não tenho mais aquele rosto com medo do futuro e das dúvidas. É quase uma expressão de quem sabe sempre o que faz (embora isso não seja exatamente aplícável a 100% das coisas da minha, mas, oh!, aprendi que no erro também residem maravilhas ocultas). A questão financeira anda bem complicada e tirando o meu sono, mas não deixa de ser um ótimo aprendizado para quem nunca tinha aprendido antes a controlar o dinheiro direitinho. A questão "trabalhista" anda legal, com mil novas oportunidades de aprendizado, de trabalhos, de pesquisas, de administração de egos acadêmicos, entra outras tantas coisas. E voltei a dialogar amigavelmente, afetivamente, carinhosamente, com o ex-namorado, mesmo que à distância.

A ele, aliás, eu agradeço particularmente bastante por sua inquestionável importância. Mesmo quando não estávamos mais juntos, ele esteve do meu lado acompanhando todas essas mudanças. E quando ainda estávamos juntos, foi ao lado dele que eu fui abrindo os olhos para milhares de coisas que eu via de maneira meio nebulosa.

Precisei que passassem mais de seis meses de tudo isso para conseguir enxergar melhor tudo que me aconteceu. Para conseguir pensar sobre isso com verdadeiros bons olhos. Para olhar para trás sem rancores nem medos do futuro. Hoje eu refleti sobre um assunto espinhudo, mas como se em um passe de mágica a espinha se transformasse em uma rosa - sem espinhos! Meti o dedo na ferida. Mas ela não está mais aberta, não sangra, não arde, não machuca. É só uma casquinha que logo logo cai, e quando cair, a pele novinha de baixo vai aparecer.

Personagens do Final de Semana

O Santo Grão e a Boneca Falante
Todo começo de tudo deve ser preferencialmente bom. Meu começo de final de semana foi ótimo, em um quiosque que é quase um oásis na região da Paulista, colocando o papo em dia e jogando conversa fora com pessoinha querida do coração desse mundo.

A (boa e velha) Dona Augusta
Rua bacana, cheia de histórias. Quando chegamos, às 23hrs, parecia mais uma rua, com apenas poucas putas e poucos travestis. Quando saímos, às 04hrs, parecia que a anarquia tinha tomado conta oficialmente, comme il fault nas noites de final de semana. Um grupo de bêbados, um de skinheads, sei lá quantas putas e quantos travecos, gente entrando na balada, gente saindo da balada, gente trocando de balada. Tudo estava lotado. Músicas nos carros, neon das casas, e a bagunça tinha tomado conta.

O Ludov
Bandinha de sempre, de amigos de amigos, que criou fama e cresceu e continua parecendo a bandinha de amigos de amigos e só. Eles no palco, eu na pista, com um monte de gente querida que ia junto pros shows da banda. Em algum lugar entre o palco e a pista, a nostalgia de um 2005 que passou faz tempo. Nas conversas, a lembrança do dia que eu tirei a foto com o Fábio Assunção no show do Ludov no BlenBlen, e de muitos outros dias e muitas outras ocasiões em que estávamos nós acompanhando o Ludov. Nas gargantas, cantos desafinados quase que berrados de pessoas que pulavam as músicas no ritmo. Parecia mesmo 2005, mas era um aniversário em Julho de 2008.

O Harry Potter
Ele existe de carne e osso! E puxou papo comigo no bar do Studio SP na sexta. Ele era a cara do Harry Potter, fiquei impressionada. Magrinho, pequenino, não muito alto, cabelinho dividido no meio, oculinhos sem graça, e carinha de nerd. Só faltou a marca de raio no meio da testa. Pontos negativos: o bróder era um chato de galocha, aqueles chatos de primeira, pedante, irritante, e eu não aguentei nem cinco minutos de conversa. Acho que sexta eu desisti de procurar pelo meu Harry Potter, opto conscientemente por alguém mais de carne e osso.

O Johnny
No copo cambaleante da amiga dançante, uma dose de Johnny. Duas doses de Johnny. Três doses de Johnny. Não sei quantas doses de Johnny. E ela, sempre tão clássica, perdeu um pouco da sua pose. Falava inglês, espanhol, ou qualquer outra língua. E sempre (sem-pre) terminava seus discursos filosóficos com um "I love you, babe. And keep walking!".

A Official-Hostess-Coffee-Maker-Chocolate-Server
Essa sou eu. Você pode me encontrar nessa versão diariamente, aproximadamente das 16.30 até umas 18.30. Sábado e domingo foi assim também.

O Shorts, amigo da Meia-Calça
Ficou legal e caiu bem para a baladinha de sábado, shorts bacanudo e bonito, com meia calça preta fio 40.

O B
Bar legal na General Jardim, com preços honestos, ambientezinho bacanudo, bonito, descolado, música ao vivo de primeira, e alguns papos bacanas. Mas todos estavam ficando bêbadas e eu, sóbria como um poste.

O Ex-Apê do Caetano
O prédio era animal, classudo, na São Luis. Chegamos a pé e falamos a senha da festa pro porteiro (achei surreal, nunca tinha ido para uma festa que precisava de uma senha!), que abriu a porta na hora. O apê era animal e a festa estava animal também. Músicas boas, pessoas legais, mas eu fui ficando meio chata pelo excesso de sobriedade. Comi o cheesecake que estava em cima da mesa, com calda de amoras, e a cada garfada eu chegava mais perto do paraíso.

O Gui-Jota-Érre
Foi o fotógrafo oficial do meu aniversário do ano passado, e esse sábado mais uma vez surpreendeu conseguindo looks deslumbrantes em fotos minhas com a namorada dele (minha amiga-sócia). Os lugares, um pouco inusitados, como dentro do elevador, no hall de entrada do prédio, e no meio da rua do centrão paulistano. Eu continua ultra sóbria, mas na nossa sessão de fotos consegui me sentir um pouco bêbada diante das lentes radiantes do Gui-Jota-Érre.

O Bafômetro
Ele NÃO esteve no meio do meu caminho na volta para casa - o que na verdade me causou certa decepção. Meu esforço tinha que ter compensado de alguma forma! Eu estava ridiculamente sóbria, eram 4 da matina, mas o bafômetro não estava no meio do meu caminho...

O Dagoberto
Seu gol aos 42mins do 2o tempo salvou o time. Ao bater o Botafogo, embora ainda estejamos em 5o, embolamos o meio de campo do Brasileirão. São apenas 3 pontos de diferença entre o primeiro e o 5o colocado, mas como bem disse Juca Kfouri na sua coluna na Folha de hoje, meu Tricolor é o time com melhor capacidade para crescer mais no campeonato e fechar em primeiro - de novo!

O Panda Po
Esse simpático, barrigudinho e confuso Panda foi minha companhia no cineminha das 21hrs, para fechar o final de semana rindo sozinha.

17.7.08

Nossa amizade com os Gnomos mudos e invisíveis

Hoje li a Boneca Falante e resolvi que queria dialogar com ela e as memórias da infância. Isso foi inspirado também depois que sexta assisti ao sensível, delicado, divertido e delicioso "Pequenas Histórias", filme infantil nacional, desses que mexe mesmo é com o nosso imaginário.

E na verdade aqui vou colocar uma longa memória, que volta mais especificamente ao ano de 1991.
Mais especificamente, férias de Julho de 1991.
Mais especificamente ainda, passadas em Monte Verde, no Cabeça de Boi - um hotel fazenda que me parecia super.

Fomos, os quatro. Em julho de 1991 eu ainda ia fazer 9 anos, e estava na 2a série da escola. Foi uma semana daquelas que toda criança que se preza gosta: andar a cavalo, brincar com monitores do hotel, caçar girinos na beira do lago no final da tarde, ou então descer do hotel para a vila (naquela época Monte Verde era isso, uma vila) e comer chocolate, fazer trilhas, sujar a calça de moleton de lama...

Eu e o Edudu tínhamos um particular apreço por inventar caminhos, rotas, passagens secretas... e em um hotel fazenda gigantesco e cheio de araucárias, isso era de fato o que de mais legal se poderia fazer. Lembro direitinho, nossos dias eram divididos mais ou menos da seguinte forma: a manhã era ocupada por passeios com os nossos pais, visitar pesqueiros, andar a cavalo, fazer trilhas até os picos, etc; voltávamos para o hotel para o almoço, e na hora que nossos pais voltavam para o chalé para a siesta, a gente ia desbravar novos territórios. Às vezes nossa expedição durava até o anoitecer; às vezes, voltávamos ao chalé no final da tarde para irmos passear na vila com os pais (isso dependia do quão interessante estava a expedição daquela tarde).

Em um desses dias de idas à Vila, acompanhamos os pais em uma visita a uma loja cheia de coisas meio místicas. Na memória, fica a idéia que a dona da loja era meio que uma bruxa, mas eu não saberia dizer ao certo. E ela falava bastante sobre o vento, o vento que leva, o vento que traz, os cheiros, e o vento isso, o vento aquilo... E começou a conversar comigo e com o Edudu sobre o fato que Monte Verde é habitada por Gnomos e que eles ficavam escondidos nos bosques, no pé das árvores.

Não preciso falar que depois disso nossas expedições nunca mais foram as mesmas, né?
Acho que passamos duas semanas por lá, e o encontro com essa mulher foi tipo no dia 4 ou 5 da viagem. Todos os outros 9 dias de viagem passaram a ter uma magia implícita muito forte. A gente não ia mais fazer expedições pelos bosques do hotel - a gente ia procurar gnomos nos bosques do hotel. A bruxa da loja tinha dado algumas dicas preciosas: por exemplo, que gnomos gostavam de cocô de vaca para alimentar seus animais de estimação; que eles também gostavam de frutas silvestres vermelhinhas de um tipo de arbusto que tinha em abundância por lá; e que o jantar deles era pinhão. Então todos os dias antes de sairmos para a expedição, pegávamos sacolinhas plásticas na recepção do hotel, e saíamos recolhendo os ingredientes que precisávamos: cocô de vaca, as tais frutinhas vermelhas, e pinhões desses que caem no chão e a gente sai catando. O Edudu achou que seria bom se levássemos chá de erva doce para dar de beber para os Gnomos, então pedíamos uma garrafa térmica desse chá no restaurante e levávamos juntos.

Com tudo isso de aparatos, quando chegávamos em alguma lugar que a gente achava que teria Gnomo, sentávamos quietinhos e começávamos a espalhar as coisas pelo chão - forrado de folhas secas de inverno, para não sujar nossas oferendas aos gnomos. Agora nossa diversão era ficar quietinho, em algum canto longínquo e silencioso do bosque, esperando nossos amigos Gnomos chegarem.

Até que um dia, depois de algumas tentativas mal-sucedidas, eu e o Edudu preferimos acreditar que Gnomos eram seres invisíveis, que só apareciam quando eles queriam aparecer. E a gente gostou dessa nova idéia, porque ela significaria automaticamente que então em todas as outras tardes de supostas tentativas mal-sucedidas, na verdade a gente ficou o tempo todo brincando em silêncio com Gnomos, sem nunca nem sabermos disso. E na verdade os Gnomos eram sim mudos e invisíveis, mas eles nunca foram silenciosos: ora, o que seria então aqueles passos que ouvíamos nas folhas? Ou o barulho de alguma coisa caindo da árvore? Ou o vento batendo nas folhas? O que seria tudo aquilo, se não as mais concretas provas de que estávamos na companhia de Gnomos mudos e invisíveis??

Essa idéia dos Gnomos mudos e invisíveis evoluiu tanto que eu cheguei, algumas vezes, em acreditar que eles tinham vindo para São Paulo com a gente, no banco de trás, sem a gente nem perceber. Então eu acordava no meio da noite, e falava para a minha mãe que não estava conseguindo dormir porque estava preocupada com os Gnomos. E ela me levava para fazer um tour pelo apartamento, para eu ver que não tinha nenhum Gnomo ali (minha mãe nunca entendeu exatamente o conceito de "Gnomo mudo e invisível"). Eu insistia que sim, que o Gnomo estava de fato ali, ela é que não enxergava, porque ele era invisível.

"Viu, mãe? In-vi-sí-vel! Tudo que é invisível a gente não enxerga!"

A partir dessa noite, em que brigamos pelo conceito de invisível que ela não entendia, ela deixou que a gente começasse a deixar comidinhas pros Gnomos antes de irmos dormir. Passou a ser todo um ritual de preparação antes de irmos dormir: cenoura, pepino, alguma frutinha, um copo d'água, um pouco de chá de erva doce (o Edudu insistia no chá). A partir daí a gente começou a dormir tranquilo, que os Gnomos estavam bem cuidados.

O padrão que a gente seguia era o mesmo da época de Natal, quando deixávamos um monte de comida para a Rena do Papai Noel, e no dia seguinte quando a gente acordava o chão estava todo bagunçado de comidinhas, porque a Rena tinha se alimentado direitinho! E para o Coelhinho da Páscoa também, deixávamos cenoura e água, e no domingo de Páscoa tinha pedacinhos de cenouras por todos os cantos da sala (o Coelhinho da Páscoa que visitava a nossa casa era muito porcalhão). Os Gnomos também faziam a maior bagunça com a comida durante a noite.
(Algum tempo depois, quando descobri que não existe Papai Noel e nem Coelhinho da Páscoa, fiquei super decepcionada de saber que na verdade eram os meus pais que bagunçavam a comidinha)

Toda essa história de ter Gnomos em casa fez com que eu ganhasse um livro sobre Gnomos de presente dos meus pais, e aí, para completar a volta toda, a Boneca de Pano falou desse livro no post dela sobre memórias de infância que ela andou visitando ultimamente.

Eu adorei esse livro, e hoje eu peguei ele na estante para ler, e é coisa linda demais. Umas aquarelas lindas de Gnomos, ilustrações enormes, milhares de lendas, explicações sobre as casas dos Gnomos, as famílias, as roupas, tudo...

15.7.08

10 Idéias

10
Crocs
Comprei um para mim em abril. Sempre achei isso uma coisa mega feia, mas resolvi comprar mesmo assim. Simpatizei com as cores e o conforto, principalmente o conforto. Alguém um dia me viu com ele e chamou de "o sapato do Jason", devido aos furinhos. Tudo bem, eu realmente concordo que um Croc pode muito bem ser uma aberração estética sem precedentes, uma mistura de tamando holandês com máscara do Jason com design moderno feito de uma borracha ultra light e confortável. Mas não consigo tirar isso do pé... trocando em miúdos, meu Croc é uma pantufa com a qual eu posso sair de casa. E vou para a aula de yoga, vou fazer coisinhas na vizinhança, faço tudo isso. É muito bom.

9
Comer, Rezar, Amar
Dei esse livro no Natal do ano passado para a minha amizade mais antiga que tenho nessa vida, a Nei, que juntas estudamos desde o maternal. Ano passado ele era lançamento, e esse ano já está nos mais vendidos da Liv. Cultura e de algumas outras. Estou lendo, 400 páginas, e termino hoje com certeza. Basicamente em cinco dias. Mas a protagonista virou minha companheira, minha amiga (praticamente do mesmo jeito que quando eu lia Harry Potter eu realmente acreditava que poderia me casar com ele). Isso é simplesmente mais um sinal do meu poder de simbiose com personagens dos livros. Vou acabar hoje a história de mudanças da Liz Gilbert, e com certeza sentirei falta dessa "amiga" que me acompanhou nos últimos tempos. E, exclusivamente para as mulheres, recomendo bastante esse livro.

8
O Segredo do Grão
Filme bom, muito bom, de uma família de árabes em alguma cidade litorânea na França que decide abrir um restaurante. O filme angustia todo o tempo, e a sensação que temos é que todos os personagens sejam um pouco protagonistas, porque o diretor dá uma atenção especial para cada um. As cenas são filmadas muito de perto, principalmente pelo fato de o diretor querer personalizar muito o filme e as relações, mas essas cenas de perto podem ser bastante nojentas na cena do almoço com cuscuz. De qualquer forma, o filme é ótimo.

7
Uma boa segunda feira
Com exceção da segunda feira passada, quando comecei minha semana no hospital acompanhando minha mãe, e cheguei em casa sem me entender direito, sem quase nem saber mais o meu nome, nas outras três segundas feiras (ontem, a do dia 30/jun e a do dia 23/jun) tive segundas feiras maravilhosas. E eu ando um pouco na contramão das pessoas ultimamente. Espero mais coisas dos meus dias úteis do que dos meus finais de semana. Segunda feira sempre tem significado para mim um novo ciclo, novas oportunidades, novas esperanças, novas mudanças, enfim... Elas têm sido mais positivas do que uma sexta, um sábado, um domingo... e eu chego verdadeiramente feliz às segundas feiras. Pois bem, além da sempre salvadora sessão de acupuntura (ontem o mote foi: "sua energia está boa, mas agora acalme seus pensamentos, Mariana. Essa intranquilidade não vai te levar a lugar nenhum"), ontem fui ao cinema. E foi ótimo o cinema... mesmo mesmo. (Ver acima sobre o filme) A amiga de Nova York ontem ao descer do carro disse que eu sou uma das melhores coisas que poderia acontecer na vida dela nessa estada de dois meses por aqui. Pois bem. Eu acho que ela é a melhor companhia que eu poderia ter nesses exatos dois meses. Ô coisa linda de ver...

6
Sonhos de viagem
Pois bem... eu sei que eu não estou de férias, e sei também que a grana é curta, mas também sei que essa rotininha anda cansando bastante e que eu queria férias. Queria, talvez praia, talvez montanha, queria repor energias, conhecer um lugar novo, conhecer gente nova, trocar idéias novas. Queria ir pro Rio com a Lau, para a Bahia com a Vi, para Macchu Picchu (ou seria o Atacama?) com o Gil, para Brasília visitar. Fica o sonho do dia em que eu poderei de novo programar viagens.

5
Sideways - Entre umas e outras; Um Bom Ano
Não sei quando farei isso, mas quero fazer isso em um futuro breve. Comprar uma boa garrafa de um bom vinho e ficar tomando o vinho ao assistir esses filmes que têm essa temática e que mexeram tanto comigo. E o vinho, bebida que hoje em dia simboliza tanta sofisticação, na verdade nada mais é do que um legítimo brinde à vida simples - seja na França, seja na Califórnia, seja na sala da minha casa em São Paulo. Ó, sim, o bom e velho Néctar dos deuses...

4
Tempo seco
Hoje ouvi na previsão do tempo que, chuva, só lá pelo dia 22 de julho. MAN! Até lá ficaremos nesse clima de inversão térmica, dias quentes, sol muito forte, e um deserto de poluição acumulada. Meus olhos já ardem, e as mucosas (nariz, boca) também.

3
O último Harry Potter
Ontem me dei conta que ainda não li o último Harry Potter da série, lançado há exato um ano. Aliás, foi uma experiência bem interessante. A gente tinha jantar de aniversário do amigo em comum, então fomos, eu e o vizinho-amigo, na Cultura do Conj. Nacional comprar um presente para ele. Qual não foi nossa surpresa que era o dia do lançamento do último livro do Mr. Potter, e pessoas fantasiadas de alunos e de seres habitantes de Hogwarts circulavam pela Livraria. E não, não eram pessoas contratadas como uma ação de marketing. Eram consumidores. Sim, senhores, eram consumidores! Voltando ao foco... o ponto é que eu ainda não li o último livro da série do Harry Potter, e preciso saber se afinal das contas eu me caso ou não com ele!

2
Me sentir bem com pessoas bacanas
Sábado foi exatamente isso. Me senti bem com pessoas bacanas. Ele é meu amigo desde 99, e foi meu primeiro amigo homem. Uma pessoa linda e uma aura iluminada. E eu nunca perco os aniversários dele. E fui, e comi feijoada, e encontrei todos de conversas bacanas e olhares bons, e atenção, cuidado, carinho, amigos de longa data, outros, recentes, amigos desconhecidos que me conheciam de vista, a mãe dele e suas histórias de vida difícil (sim, ela é um exemplo de mulher), o amigo-vizinho, a prima-irmã, a professora de dança do ventre, o casal que acabou de mudar para morar junto contando as aventuras de tudo isso... Poderia ficar 72hrs com exatamente aquelas pessoas, jogando conversa fora, jogando sinuca, e me sentindo bem.

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O novo disco do Coldplay
Ganhei de presente de um amigo o download completo do novo disco do Coldplay e virou um vício que eu não consigo largar de jeito nenhum. Recomendo, principalmente: Lovers in Japan/Reign of love. É a música que eu não consigo parar de ouvir de jeito nenhum.

14.7.08

Reencontro

"Dizia ele estou indo para Brasília, nesse país lugar melhor não há".
E foi-se, desde o começo do ano.
Mantivemos contato por um tempo, depois paramos de nos falar, depois voltamos a nos falar bem menos do que antes, e nesse final de semana ele esteve aqui. Aparentemente esse reencontro estava agendado desde que ele esteve aqui em junho e eu não consegui vê-lo, por estar viajando.
Mandei mensagem de texto na 4a, do show do João Donato, falando que estava no show do João Donato e que tinha me lembrado dele. 5a recebi um email de resposta, e assim foi para marcarmos nosso reencontro essa semana. 6a liguei para ele duas vezes e não obtive sucesso, então deixei um pouco para lá, mas domingo ele me ligou e enfim conseguimos marcar que nos veríamos no Bar do Sacha.
Desde que eu tinha decidido que gostaria de reencontra-lo, a única idéia na minha cabeça era muito simples e eu não quis que ela evoluísse muito acima disso (ou seja, não fiquei fritando os neurônios). A idéia o tempo todo foi: estou com saudades e quero encontrá-lo. Ponto.
Pois bem. O fato é que bate sim friozinho na barriga, no carro a caminho do Sacha, de pensar como será o reencontro.
***
Ao chegar no bar, encontro um ambiente mais do que agradável e extremamente carinhoso. Pessoas que há muito eu conheci quando namorávamos, e que eram amigos queridos e especiais, estavam lá. E foi ótimo encontrá-lo, especialmente ele. Ao me abraçar, ouvi de cara "Nossa, como você está cheirosa!" e consegui fazer uma pequena festa com cada um na mesa, de saudades legítimas. Tudo era matar saudades na tarde de ontem. Depois dos abraços em cada um, e da troca de sorrisos e gentilezas, e era tudo de fato bem legítimo, sentei-me ao lado dele (essa coisa meio solene de ser ex-namorada).
Não sei explicar em palavras o que eu senti ao seu lado. Mas era alguma coisa muito boa e muito forte, com certeza. Ficamos conversando da vida, falando mais ou menos por cima o que estava acontecendo, sabíamos que o tempo era curto e que tínhamos que aproveitar ao máximo aquilo tudo. Mas o que eu levo desse reencontro não são as conversas, e sim os olhares. Os olhares, o cuidado, o carinho um com o outro.
Sua mão oscilava entre um carinho gostoso nos meus ombros e cabelos, ou então pousava, carinhosa, nas minhas pernas. Às vezes ele até começava a apertar um pouco minhas pernas, e quando se dava conta me olhava e falava: "às vezes eu até esqueço!". Daí tirava a mão, e não muito tempo depois ela voltava a pousar carinhosamente na minha perna. E eu ficava feliz por dentro.
Eu fiquei feliz com tudo. Fiquei feliz em ver o olho sorridente, a boca sorridente, em encontrá-lo extremamente bem e feliz - embora mais gordinho também. Em ouvir suas histórias de cantos do mundo para os quais ele foi esse ano, e do projeto que ele chefia.
Fiquei feliz por matar as saudades, por ouvir a voz.
Fiquei feliz por sentar perto e por sentir o bom e velho perfume dele. Mais do que o perfume, fiquei feliz por sentir o cheiro.
Fiquei feliz por fazermos brincadeiras que desmistificaram alguns entraves do nosso final de namoro (ele: "conheci esse meu amigo naquela festa em que a gente brigou feio, lembra?" eu: "festa que brigamos feio? que festa? não lembro não, não sei do que você está falando... você lembra de alguma festa que brigamos feio?", diálogo seguido por uma gostosa gargalhada cheia de cumplicidades).
Fiquei feliz por ser hiper bem recebida pelos amigos dele.
Fiquei feliz porque ele me olhava como se eu tivesse voltado a ser uma das pessoas mais importantes na vida dele, mesmo que só por uma horinha, em uma tarde de domingo ensolarada.
Fiquei feliz porque mesmo sem vê-lo por seis meses, parecia que a gente não se via por quinze dias só. O papo estava bom.
Recebi elogios dele, do cabelo, da pele, da cara de feliz, do corpo mais magro. E elogiei ele também. É muito bom ver uma pessoa de quem a gente gosta estar feliz. Isso me realiza, me deixa feliz também. Cada vez mais fica mais claro que São Paulo nunca fez bem para ele, e não adiantaria forçar isso. Ele está bem em Brasília, aquela sim é a sua casa.
Ao me despedir, uma amiga dele também me elogiou. E ele disse: "acho que é o fato de não estarmos mais juntos que está fazendo bem para ela". Todos demos risadas. E eu só queria ter dito que não é a presença ou a ausência dele, e sim todas as mudanças que esse 2008 vem trazendo. Mas ficou intalado, e o máximo que eu fiz foi soltar um risinho sem graça.
E aquele abraço de despedida foi delicioso. Lembrei-me bastante do meu "ato de apertar mais gostoso do mundo", mas resolvi deixar quieto. Seria injusto com nós dois. Beijávamos, um as bochechas do outro, como que pedindo que nunca mais fiquemos sem nos ver. Acomodávamos juntos a cabeça um no ombro do outro. Não falávamos, em teoria era um silêncio, mas nossos sentimentos estavam berrando pelos nossos corpos.
***
Eu vivia falando que queria ter com ele um relacionamento civilizado de ex-namorados.
Ontem, muito mais do que civilizado, tive um reencontro absolutamente terno e carinhoso.
Quando eu saí do bar, a vida voltava ao normal aos poucos. Não quis fazer histórias desse nosso reencontro. Ficar imaginando um beijo na boca, ou ficar pensando o que será que ele sentiu, ou ficar imaginando quando nos reencontraremos. Não quis nada disso. Talvez uma lágrima tenha escorrido, muito mais pela intensidade de tudo aquilo do que pura tristeza propriamente dita. Foi um reencontro realmente forte. Fica lá guardado, em um cantinho especial e fechado, meu carinho por ele, minha consideração absurda por ele, um amor gigantesco, e o gosto gostoso e familar das lembranças boas que colecionamos.
Nosso reencontro me rendeu bons sonhos - no sentido literal e não figurado da palavra.
Mas hoje é segunda feira e a vida precisa voltar ao normal.

10.7.08

Uma boa vida aqui

Mais uma vez eu vou babar ovo para as inúmeras possibilidades já descobertas e as ainda não exploradas e nem conhecidas dessa cidade. Poderia muito bem morar em Londres, Buenos Aires, Nova York ou Paris. No Brasil, penso até que me mudaria para Brasília, Porto Alegre, e Curitiba, mais ao norte não porque o pseudo frio brasileiro e a possibilidade de fazer 10 graus ou menos me é por demais necessária (pelo menos fica a esperança da chegada da frente fria).

Fico feliz, inclusive, que nesse ano o inverno está com cara de inverno, as frentes frias chegam e vão, o dia é ensolarado e a noite é bem geladinha. Mas não vou me enveredar pelo caminho da meteorologia, outro dia falo disso. O meu ponto é que eu poderia muito bem morar em outros cantos, mas moro em São Paulo por "n" motivos, sendo o mais marcante deles é que eu nunca me mudei daqui.


E essa cidade, tão dura, tão cinza, tão cheia, tão poluída, tão impraticável, que muitas pessoas não gostam, ainda me encanta. Me encanta porque nela residem pequenas coisas, eventos, possibilidades, que formam uma mistura deliciosa em prol do meu amor infinito por aqui, que vai além do fato de essa ter sido a minha casa desde sempre, e minha família, amigos, e meu coração morarem aqui.

(Mas gostaria de deixar aqui meu protesto. Não cabe mais. Aqui realmente não cabe mais um prédio e um carro sequer, peloamordedeus, que a capacidade de São Paulo já está bem devidamente esgotada.)


Dando louros aos que merecem, vou mencionar aqui algumas das últimas coisas só de São Paulo que andei fazendo e que me deixaram feliz da vida.

- Comemoração de 100 anos da Imigração Japonesa no Planetário
Espetáculo: Ryoto.
O trajeto feito pelo primeiro barco imigrante aqui no Brasil, e retratado pelo céu que mudava pelo caminho e pelas diferentes lendas para explicar as estrelas nos diferentes países. De trilha sonora, uma flauta tipicamente japonesa. Espetáculo muito bonito e emocionante, que mistura história, diversas mitologias, astronomia e música.

- "A Noite dos Palhaços Mudos"
Espaço dos Parlapatões, Pça Roosevelt, 4as e 5as às 21hrs, até o final de julho.
Encenada pela La Mínima e escrita pelo Laerte.
Peça linda, demais engraçada, com expressões faciais e corporais extremamente bem elaboradas a ponto de tornar a voz um instrumento absolutamente desnecessário. Discutimos qual seria a melhor cena, e eu achei particularmente a queda de lá de cima com o guarda-chuva. Mas muita gente adorou a perseguição, teve gente que adorou a escalada pela janela, ou as caminhadas lá no alto, quase perto de cair, e todo o medo de altura estampado na cara deles. A cerveja que se seguiu, e a carne seca temperada com a maionese especial do Papo, Pinga e Petisco, e a conversa sempre tão boa, tudo isso fez dessa despretenciosa noite de quinta uma das mais gostosas que há muito eu não via.


- Uma cerveja no Hassan
Lá em uma esquina escondida na Lapa longínqua um boteco fez fama com meu primo e meu irmão, e por coincidência fica do lado da escola onde meu pai faz aulas de canto, então marcamos todos... Meu pai, seus filhos, e alguns de seus sobrinhos. Sábado passado a noite estava gelada, e a rua do Hassan fazia um vento encanado absurdo, gelado. O boteco é boteco mesmo, o típico pé sujo, com comidinhas com cara de duvidosa, cadeiras de alumínio com a eterna sensação de uma iminente queda. Quatro horas sentada na mesa do bar, comendo petiscos árabes muito bons, e tomando uma boa cerveja , e deixei lá menos de dez reais. Um bom boteco, e realmente barato. Quando cheguei em casa meu nariz ainda estava com a ponta congelada.


- Um vinho no Kilyx
Estava eu quinta passada querendo fazer alguma coisa de diferente que se pode fazer em São Paulo, querendo explorar territórios nunca dantes navegados. E eu nunca tinha ido a um winebar, por mais que eles estejam ficando cada vez mais populares aqui. Até que a nova-iorquina me aborda querendo ir a um winebar. Seria ótimo, juntando minha vontade de explorar o desconhecido, a vontade dela por um paladar específico, e a nossa vontade por uma noite de conversas adoráveis. E bebemos uma garrafa do vinho branco (é mel? é ameixa?) e outra do tinto (amadeirado, mas com nozes talvez?) tentando adivinhar os sabores escondidos por trás do Sauvignon Blanc e do Syrah. Gosto demais disso de bom vinho, a embriaguez do vinho é uma sensação fantástica, boa demais para ser compartilhada ou para ser curtida solitariamente. As conversas que acontecem com um copo de vinho na mão são absolutamente sensíveis. E aí, na nossa super noite dos prazeres gastronômicos que essa vida pode nos oferecer, emendamos no Havanna. Emendamos com vontade, tomamos um drink de café e chocolate especial de inverno, comemos bocaditos argentinos, dividimos nossas experiências com os argentinos... e a intimidade que sempre existiu simplesmente se acentuou belamente, de forma sutil e natural.


- Um show no Ibirapuera
Jovens homenageando João Donato: Marcelo Camelo, Marcelo D2, Bebel Gilberto, Adriana Calacanhoto, Fernanda Takai, Roberta Sá
Fazia frio quarta à tarde quando chegamos no parque, e já entardecia. O público estava inteiro sentado na grama, e Nelson Motta apresentava os cantores novos que entrariam no palco. A grama umida penetrava pela calça e deixava o bumbum frio, mas tudo bem, tudo era tão lindo, e estava tão legal, que era isso o que eu precisava. A qualidade do som não era das melhores, mas as músicas eram. E me permiti entrar em uma viagem gostosa de saudades embalada por "Naquela estação" na versão da Adriana Calcanhoto. Era a saudades da qual eu tanto fugia. Saudades como a sensação gostosa de sentir falta de alguma coisa boa que já esteve aqui e não está mais. Senti saudades de uma pessoa boa. Boa, maravilhosa, e com uma importância absurda na minha vida. A sensação que fica é que essas saudades sempre foram latentes e que eu estava precisando admiti-la para mim mesma. Finalmente consegui. Ao som de "Naquela Estação", com o J. Donato no piano e a Adriana Calcanhoto na voz. "Você entrou no trem e eu, na estação, vendo o céu fugir. Também não dava mais para tentar lhe convencer a não partir, e agora? Tudo bem, você partiu para ver outras paisagens."

Tudo isso aqui, em São Paulo, gastando no máximo R$ 10,00 pro programa, e aproveitando de fato tudo que de melhor essa cidade tem a nos oferecer.