28.6.08

Me quedo aquí

Por: Gustavo Cerati

Espera
No te enojes esta vez
Lo vi venir
Como siempre la reacción
Es tan lenta como mi voz
Arrasando con la razón
El tsunami llegó hasta aquí
Lo vi venir
Si aprendemos la lección
Sabrás que al finel misterio es contradicción
Con todo aquello que conoces
A veces hago todo al revés
El tsunami llegó hasta aquí
Lo vi venir
Todo se movió y es mejor quedarse quieto
Pronto saldrá el sol
Y algún daño repondremos
Terco como soy me quedo aquí
La tinta no seco
Y en palabras dije muchas cosas
Pero en mi corazón todavía queda
Tanto por decir
Tanto por decir
Tanto por decir
No me voy...
Me quedó aquí
Y si no, no aprendimos la lección
Y si no, no aprendimos la lección

http://www.youtube.com/watch?v=Q6qFAqc5KnM

Créditos ao blog Live Forever, que conheci através do Registro Dissonante, do amigo de uma amiga minha. Foi pelo Live Forever que conheci essa música, que embalou a trilha sonora dessa semana inteira.

Embalou a trilha sonora dessa semana inteira porque:
- A: há muito tempo eu não sentia tantas saudades assim da Argentina;
- B: a letra é bem bacana e bem significativa, muito embora eu não dedique essa letra a particularmente ninguém em específico, sino que a mim mesma.

24.6.08

La Nouveau Chef de Cuisine

OU: como surpreender sua família no almoço de domingo

Personagem principal: nunca fui de cozinhar, mal e mal faço macarrão na manteiga com um bife, não sei descascar laranja, não tenho a mínima familiaridade com as coisas da cozinha. Em viagens de turma, sempre fui responsável por lavar a louça, porque nunca fui responsável por cozinhar. Pontos fortes como produtora de itens gastronômicos: meu café preto é animal, e adoro fazer saladas e inventar molhos.

Mas tinha decidido que nesse domingo eu ia cozinhar. Defini o cardápio, deixei uma lista de compras pro meu pai comprar domingo de manhã, e quando acordei domingo já fui direto para a cozinha.

Primeiro passo:
Organizar a pia.
Lavei todas as louças acumuladas do final de semana, porque da minha primeira vez queria ter uma pia que nem a do programa da Ana Maria Braga, toda organizadinha e limpinha. Minha mãe, da mesa do café da manhã com a Folha de São Paulo e a Veja, ficou dando risada.

Segundo passo:
Preparatórios.
Lava o salmão, arruma nas travessas, joga o molho de limão e sal por cima. Lava o manjericão e o alecrim, faz tipo um pesto deles, joga em cima do salmão. Deixa lá.
Lava a alface, o pepino, corta o brie, monta a salada. Deixa lá.
Rala a abobrinha, rala o gruyère, corta em rodelas uma cebola e pica em pedaços bem pequenos outra cebola.
Separa a amêndoa, o azeite, a manteiga, o vinho, o arroz arbóreo, o sal, o açúcar. Tudo na pia, com fácil acesso.

Terceiro passo:
Light my fire.
Agora o fogo está ligado, o forno está sendo aquecido.
Fiquei com calor e tirei a blusa, porque estava suando.
Coloca a água na medida para o risoto para ferver. Liga a panela do risoto, refoga no azeite a cebola e a abobrinha. Dá uma fritadinha básica, joga em cima o arroz, continua fritando, o vinho, e frita mais um pouco, coloca o sal. A água ferveu, começa a jogar a água no risoto aos poucos, sempre mexendo, conforme o risoto ia absorvendo.
Forno quente. Coloca o salmão.
Frigideira um: um pouco de manteiga, derrete, joga as amêndoas em cima. Doura. Depois de douradas, jogar o açucar, mexer até caramelizar.
Frigideira dois: derrete a menteiga, e joga em cima o pesto de manjericão e alecrim que sobrou do que foi colocado no salmão.
Frigideira três: um bucadinho de azeite e a cebola (que tinha sido cortada em rodelas) vai lá para ficar murcha e dourada.
Enquanto isso, o risoto já absorveu toda a água. Joga o gruyère ralado e mexe bem até o risoto ficar mais cremoso. Tampa a panela e espera.
Termina o trabalho com as três frigideiras ao mesmo tempo (ENLOUQUECEDOR!).

Quarto passo:
Servir.
O risoto é colocado em uma travessa, e as amêndoas caramelizadas são jogadas em cima do risoto.
A cebola frita é jogada em cima da salada, e o molho de azeite, balsâmico, mel e sal também.
O salmão já está douradinho e todo o suco de limão que estava na travessa já secou, assim como as ervinhas que estavam em cima do peixe quando ele foi pro forno. As outras ervinhas que foram para frigideira com manteiga dão o gran finale para o peixe.

Quinto passo:
Puro deleite.
A adrenalina passou. Já vesti meu casaco. O salmão voou, assim como o risoto. Não sobrou nada para contar história. Meus pais e meu irmão elogiam o almoço. Falam só que eu não deixe a amêndoa passar do ponto na próxima vez. Bate um sono típico de fim de efeito de endorfina. Sim, brincar de cozinheira por um almoço foi bem tenso para mim. Mas a aceitação de todos foi maravilhosa... Agora estou colhendo os louros dessa empreitada no fogão, já que todo mundo da família extendida ficou sabendo e quer um almoço meu. Se a aceitação continuar em níveis bons assim, vou procurar formas de ganhar uns trocados com o meu menu fixo, já que estou mesmo precisando de formas criativas de levantar fundos.

Uma observação importante: não, não foi marmelada meus pais e meu irmão terem adorado o menu. Eles são super exigentes comigo, e a aprovação deles realmente significa muito.

Sol de inverno em uma noite gelada de 2a feira

OU: como fazer sua segunda terminar bem, sua semana começar bem, com uma simples mudança de planos.

Cenário inicial: o quarto.
19.17
No seu computador, ela termina os trabalhos do dia, fala com a sócia pelo MSN, faz o planejamento da semana, decide algumas coisas sobre a reunião de sexta. Está frio e ela tem planos de fazer os exercícios de yoga e logo depois tomar banho, para esquentar os pés bem gelados. Depois da reunião pelo MSN, da yoga, e do banho, In Therapy começa na HBO às 20.30 e os capítulos da análise da Laura estão melhor a cada semana. Ela pretende, já quentinha e de pijama, assistir esse capítulo, depois jantar com os pais assistindo a Lost - o único vício televisivo insuperável da mãe dela -, e depois assistir CQC. Alguma hora da noite ela também pretende comer o pinhão que a Cidoca tinha cozinhado à tarde. Ela dormiria feliz - um pouco miserável, é fato, porque está difícil de superar - mas feliz.

Em alguns segundos tudo isso pode mudar. E muda.

19.21
Toca o celular. É o amigo-vizinho, uma das pessoas mais importantes da vida dela.
Ele pergunta quais os planos dela para hoje, porque ele quer um café e um cinema. Ela (bate preguiça e dá vontade de continuar meio miserável dentro de casa choramingando de vez em quando, curtindo o colo dos pais) fala que não sabe, que tem vontade mas que não sabe, e que não está muito boa companhia hoje. Ele pede que eles não falem de assuntos filosóficos hoje. Diz que quer relaxar de um dia pesado, e que quer boa companhia e boas risadas e só. Diz também que quer filme fácil. Ela pergunta: você assistiria Agente 86? (pergunta e, por dentro, fica com um pouco de vergonha de convidar justo ele para esse filme tão, tão, tão... bobinho). Ele fala, enfaticamente, que era exatamente isso que ele tinha em mente: Agente 86. Ela ri por dentro, e lembra que ela não precisaria ter vergonha dele para convidar para esse filme. Eles marcam a hora e ela fica feliz e surpresa com a atitude dela, e fica feliz e muito aconchegada por esse telefonema inesperado do grande amigo. Ela volta a trabalhar, termina a reunião via MSN com a sócia, se troca, e sai de casa.

19.49
O carro sai da garagem. Será que, por ser uma noite fria, todo mundo resolveu voltar cedo para casa hoje? O trânsito que ela encontra na rua está bem similar ao de um domingo - sendo que estamos falando de uma segunda feira, 19.50 - hora do rush, oras bolas! A sensação que ela teve é que a cidade estava abrindo caminhos para ela. Metáfora legal se ampliarmos para todos os outros aspectos da vida, não só o do trânsito propriamente dito. Na Augusta com a Santos, a vaga cativa dela estava lá, à espera do Blueberry.

20.03
Chega no Conjunto Nacional. Liga pro amigo. Ele fala: entra na Livraria Cultura e me espera lá, chego em 10 minutos. Ela fuma um cigarro na rua na noite fria, coisa gostosa de se fazer, toma vento frio na cara, veste o capuz do casaco de esquimó, mais um pouco de vento frio na cara, e entra no quentinho da Livraria Cultura. Acha na estante dos lançamentos um livro com a poesia completa do Manuel Bandeira. Ao abrir em uma página aleatória, abre justamente aqui: Vou-me embora para Pasárgada. Será que até o Bandeira estava dialogando com ela naquela noite? Se joga em um daqueles puffs coloridos deliciosos, afoga a cabeça no capuz do seu casacó de esquimó, e fica lá deitada, lendo Bandeira e esperando o amigo. Se sente extremamente bem.

20.16
O amigo chega. Como de um pulo, ela se levanta do puff e praticamente pula em cima do amigo, tamanha a alegria. O abraço parece eterno, e parece naquele instante a melhor coisa a ser feita. Ela mostra para ele o livro do Bandeira, que ele gosta também. Começa a conversa que não acaba nunca. Eles decidem ir pro Viena jantar. No caminho do Viena, mais uma vez ela se lembra como é bom ter esse amigo por perto, como ele muda o mundo dela para um lugar melhor, como ele faz dela uma pessoa melhor, como ele tem a melhor conversa do mundo, e a melhor companhia, e todos os outros melhores que alguma pessoa possa ter.

20.21
No quentinho do Viena, com cheiro de sopa, de pizza, de massa, os dois conversam, conversam, conversam, conversam, conversam, conversam. A conversa nunca segue uma linha reta, mas sempre volta para onde ela tinha parado. E assim os assuntos mudam, começam, recomeçam, e acabam. A conversa não segue uma linha reta, mas a melhor sensação que dá é de dois amigos juntos com uma intimidade absurda, uma proximidade absurda, um sentimento tão verdadeiramente verdadeiro que até emociona. E eles falam muito de tudo, se atualizam dos assuntos, comem bastante também, e estão felizes.

21.25
Ela olha no relógio do celular. "Temos 20 minutos pro filme". Ele pede a conta, eles pagam, saem andando rápido. Quando chegam na faixa de pedestres da Paulista com a Augusta, o farol está verde mas quase indo pro vermelho. Se entreolham. "Vamos?", "Vamos!". Vão. Correndo. De mãos dadas e dando risada. Ele diz que "a pizza está aqui", ela dá risada mais gostoso ainda, e eles chegam do outro lado sãos e salvos, mesmo que correndo.

21.45
Já sentados no cinema e ainda conversando, começam os trailers. O trailer do filme novo do Will Smith, chamado alguma coisa parecida com Hancock, o trailer do filme da Viagem ao Centro do Mundo, que terá exibição em 3D. Eles combinam de ir em todos esses filmes. Ela comenta, feliz, que adora filmes de férias. Então de quebra eles combinam de assistir Kung Fu Panda. Ele brinca que então nunca mais vai querer assistir os filmes europeus com ela.

23.45
Com a barriga doendo de tanto rir, e com todas as endorfinas do mundo circulando pelo sangue, e com a melhor companhia do mundo ao lado, eles saem do cinema. Bem felizes. Vão conversando mais e mais e mais, atravessam de novo a Paulista - mas dessa vez, sem pressa. Ele coloca o capuz nela, fecha muito o ziper do casaco, e fala: "nossa, nunca tinha visto um esquimó na vida!". As risadas estão muito gostosas nessa noite. No relógio do Conjunto Nacional, o termômetro marcar 9 graus. Faz frio gostoso. Na hora de atravessar a Santos, eles brincam se puxam de volta para a sarjeta, meio que dançam no meio da faixa de pedestres ao atravessar a rua... um abração dos mais gostosos, e o retorno mais feliz do mundo para casa.

A noite poderia acabar aqui e já teria sido maravilhosa, fantástica, perfeita.
Mas se em alguns segundos todo o sentimento de "feeling miserable" pode mudar após um telefonema, outro telefonema leva ela do "feeling absolutely good" para o "feeling absurdly great" já no final da noite.

00.03
Está chegando em casa e toca o celular. Ela toma um susto. Será que é o telefonema que ela espera há tanto tempo? Atende. Do outro lado da linha, uma voz que parecia tão longe fala: MEU AMOR!!!! De fato, ele mora na Austrália, está bem longe mesmo. Fica falando com ele, colocando os papos em dia, acende um cigarro na cozinha e fica lá papeando, pega pinhão na panela e fica lá papeando... Ele conta de tudo da Austrália, da vista que ele tem para a Baía de Sidney, do Rhys que cozinha muito e que eles se dão super bem e que é muito bom morar com ele, de todos os planos, dos causos do café, do departamento de imigração na Austrália, da idéia de fazer um curso, da impossibilidade de ele vir pro Brasil enquanto não sai o visto dele de "interdependência"... Ela fala um pouco também. Ela sente saudades da noite de whiskey e muito cigarro num pub escuro e irlandês, noite que mora no imaginário dos dois e só, que nunca existiu. Será possível sentir saudades de alguma coisa que mora no imaginário e que nunca existiu? Ela sente saudades da noite no pub com ele, e ele também sente saudades dessa noite. Parece que essa imagem é um acalanto para os dois. Antes de desligar, ela fala: eu te amo. E ele fala: eu te amo.

01.15
Ela vai dormir tão feliz e realizada que tudo o que ela precisa agora é de um bom cobertor pesado e uma cama quentinha. Ela tem certeza que essa não será mais uma das muitas noites de insônia que ela tem tido desde a semana passada.

20.6.08

Diálogo Inusitado

Mãe:
- Cê tá aí?
Eu:
- Tô.
Mãe:
- O que você está fazendo?
Eu:
- Contemplando...

Cenário: eu sentada em uma poltrona na sala de casa, minha mãe no corredor saindo da cozinha.

Temporada Surrealista

Outro dia eu estava trabalhando, olhando pela janela do meu quarto, e vi um hipopótamo voando de asa delta. Ele descia da Pedra do Baú em direção ao Vale do Paraíba, e dos Jardins eu conseguia observar seu pouso tão suave.

Nesse exato mesmo instante, uma mosca assassina do Quênia, ao migrar para as Américas, matou um urubu que também sobrevoava o Atlântico, jogou seus miúdos ao mar, e se alimentou de penas até ela se fortalecer de um tanto que ela se transformou em urubu.

As Rochosas, assim como os Andes, resolveram perder barriga e emagreceram, emagreceram, até que depois de 10 minutos nesse processo o que a gente encontrava não eram mais montanhas, e sim uma enorme depressão funda e florida, resultado do esforço das placas tectônicas para voltar ao lugar. Me disse o New York Times que ninguém morreu nesse processo, e que todos estão felizes porque agora em um relevo de depressão, pessoas que viviam em picos nevados conseguem plantar e colher. E eles plantam e colhem muitos avestruzes. Nesse processo, o Atacama virou mar e o Aconcágua ficou mais fundo do que a Fossa das Marianas.

No que eu olhei de novo pela janela, todas as cozinhas do prédio ao lado tinham se transformado em saunas úmidas, e eu via pela janela formas humanas nuas das mais bizarras. Não gosto de voyeurismo, mas vi estrias e celulites que jamais tinha imaginado. Peitos caídos e barrigas bizarras. Pés peludos e orelhas cheias de cera. Tudo isso, na sauna que era cozinha, no prédio ao lado.

E aí quando eu olhei para baixo, a garagem do meu prédio tinha se transformado em uma piscina gigantesca, cheia de bolhinhas (sim, de bolhas e não de bolas) de gude que pulavam no fundo da piscina vazia e roxa.

Então, todas as minhas unhas caíram, e no lugar delas nasceram flores. Rosas, lírios, violetas e orquídeas. O vaso de cerâmica virou oxigênio. Os vidros e esquadrias das janelas da nossa cozinha derreteram em uma lava azul gelada, que percorreu todo o chão do apê até chegar na porta do meu quarto, onde ela não entrou.

Cazuza, o canário da família, deixou de cantar seus assobios de canário e começou a cantar a lamentosa canção "eu preciso dizer que te amo, te ganhar ou perder sem engano". Eram os vizinhos de mudando e levando junto a canária Ella (de Fitzgerald mesmo), e o Cazuza ficando aqui e curtindo sua esparrela.

Se meu Blueberry falasse ele teria explicado o porquê de sua greve. Como ele ainda não aprendeu a falar, só sei que um dia desci na garagem e o Blueberry tinha tirado todas as rodas, desmontado a direção, e quebrado o banco da motorista. Um carro que não fala o que ele reinvidica com essa greve não tem direito a almoço.

No parque Ibirapuera, esportistas deram lugar a fashionistas de cabelos mudernos e calças sem pernas e mangas sem braços e saias sem rodas. Por todos os cantos, sentados no gramado, cheiro de cigarro. Os batedores da PM faziam questão de protegê-los da selva humana que frequenta o parque buscando bem-estar físico. Quando alguém falou para eles que endorfina é mais gostoso do que outras químicas sintéticas, eles começaram a correr. Assim começou a Maratona Fashion Week.

Voltando dessa ida ao parque, parei em um café onde Jorge Amado debatia com George Gershwin a importância das eleições do Obama nos EUA. Tentei interagir com eles, mas meu mandarim não era fluente o suficiente para esse tipo de debate. Falaram também alguma coisa sobre a descoberta da maior estrela da Via Láctea, que está atraindo com sua força gravitacional todo o Sistema Solar para perto dela, e então todos derreteremos e seremos engolidos por gases (só ficará intacta a depressão formada pela ex-Rochosas e pelo ex-Andes). Me faltou conhecer Darjeeling para poder falar com eles de igual para igual nesse assunto, então decidi sair do café.

Quando eu saí do café, ora ora, me deparei com Evo Morales e seus cocaleiros em uma passeata pedindo a posse da Cracolândia para a prefeitura de SP. Segui com eles até o Viaduto do Chá, onde comprei um xale à la Arafat. A polícia me acusou de terrorista e me mandou para Guantánamo.

Lá, fui resgatada pelo hipopótamo, que ainda estava voando de asa delta pelo Vale do Paraíba, e ele me levou para a procissão do Padinho Cisso perto das estátuas dos budas ditosos na Turquia. Me resgataram dessa empreitada o Visconde de Sabugosa e o Minotauro que, melhores amigos que sempre foram, decidiram se casar no casamento gay liberado na California. Aparentemente eles querem tirar o green card para... ora ora, votar no Obama nas eleições desse ano!

Ao mesmo tempo que tudo isso acontecia, um chinesinho de oito anos tirava um cochilo em uma das camas expostas na loja da Ikea em Pequim - sim, a maior loja da Ikea no mundo. E o governo chinês, essa mistura bizarra de ditadura política com economia liberal com maior poder de consumo com bomba atômica, compra terras pela América do Sul e pela África, para alimentar as barrigas dos chineses que já estão no mundo e dos que chegam ao mundo todos os dias.

A hipotenusa do próton em uma relação logarítmica com a nota musical "Lá" fez com que o guarda-chuva brigasse com a cortina.

17.6.08

Top 5 coisas que me deixaram feliz nessa tarde de terça

5- Aspirações consumistas.
Me deliciar só admirando as araras da Nonsense da Lorena. Ah, quando eu voltar a ser assalariada... que delícia será!
http://www.nonsense.com.br/loja/intro.asp

4- Gulodices.
Fazer "lanche das cinco", comer pão francês amanhecido com manteiga, queijo branco, geléia de amora.

3- Mimos.
Começar a chorar descontroladamente na hora do almoço, e ter por perto uma Cidoca para fazer cafuné e me dar água com açucar; e uma Dequinha para chorar junto comigo, simplesmente por não suportar me ver chorar.

2- Bem-estar.
Sair para caminhar à tarde sob o sol invernal, aquele que não esquenta, mas que amorna as bochechas a ponto de elas ficarem rosadas.

1- Calorzinho.
Levar casacão de esquimó para a aula de yoga e usá-lo para fazer o relaxamento do final da aula, afogando a cabeça no capuz gigantesco e peludo.

16.6.08

Tudo se converge na Blogosfera

Uma loucura essas coisas... eu sempre tenho meus blogs favoritos, de amigos ou de amigos de amigos. E os leio quase todos os dias, conforme o tempo me permite.

Porque é uma delícia ler a poesia cotidiana da Emilia; as crises existenciais da Fer; o humor ácido do Renato (amigo da amiga); as críticas políticas do Phitz, meu irmão de consideração; as risadas solitárias e (por que não?) melancólicas do Dé; o deleite, a devoção, e a veneração do delicioso Xico Sá; as críticas futebolísticas do corintiano Juca Kfouri; entre mil outras coisas de blogs tão legais - e reais - que eu me perco da realidade ao lê-los. Assim, em um puro aconchego virtual.

E hoje parecia isso, sabe? Parecia que os blogs estavam lá dialogando comigo...

Eu ia escrever sobre minha crise pré-operatória da miopia e do astigmatismo, ia escrever sobre a delícia que foi fazer hoje o exame psicodélico do Orbscan para ver se a minha córnea permite a cirurgia, ia escrever sobre meu óculos como meu acessório que existe há mais tempo na minha vida - e cujo apego a ele, não sei se eu consigo me livrar. Na verdade, ainda vou escrever sobre tudo isso (aguardem!), mas eu abri o blog do Renato e hoje, lá estava: "Eu não nasci de óculos".
Leiam aqui, ó:
http://registrodissonante.blogspot.com/2008_06_01_archive.html
No post de 16 de junho.

Eu não ia escrever de novo sobre dores de amores e outras tantas coisas decorrentes disso, até porque o "Te conto, 10 contados" é bem suficiente e, mesmo com as reviravoltas pós-post (tudo que aconteceu e que eu não contei aqui), ele continua bem atual. Assim como continua atual o comentário da Emilia, que ela deixou aqui hoje, e mais atual ainda o post dela de hoje, que me derramou lagriminhas mas que é aquela fresta de luz que a gente vê em uma porta entreaberta, a fresta de luz que dá força, e traz a esperança e a certeza de que dias melhores virão. Na verdade, é a fresta de luz que me mostra que não, o fundo do (meu) poço não é mais embaixo, definitivamente - e eu não sou tão louca quanto às vezes eu acho que eu sou.
Para ler, aqui:
http://emilianas.blogspot.com/2008/06/liberdade.html

Esses foram os dois diálogos que encontrei na Blogosfera no dia de hoje, mas queria trazer também uma menção honrosa ao blog do Phitz.

Há muito tempo ele recomendou um livro que eu comprei semana passada. Desde então, estou totalmente imersa nessa história de muita força e coragem e de muita humanidade de um cara que deixou, mesmo que discreta, uma marca importante nesse mundo das políticas internacionais, das organizações internacionais, da guerra e da paz.
Recomendo aqui:
http://geraldocotidiano.blogspot.com/2008/03/notcia-nova.html
E o livro, pode pedir emprestado daqui uns 15 dias que eu empresto com o maior prazer.

That's all for today, que eu vou curtir esses 12 graus nas ruas paulistanas tomando chocolate quente.

2.6.08

Te conto, "10 contados"

Sábado à tarde fui no show da Céu com mil idéias na cabeça e algumas lágrimas latentes, que ardiam os olhos e embargavam a voz, mas não saíam de jeito nenhum.

Daí ela começou a tocar a delicadeza sensível de "10 contados", e aquela introduçãozinha terna era tudo o que eu precisava para poder colocar as lágrimas para fora.

10 contados - Alec Haiat e Céu
Meu amor não se atrase na volta não
Meu amor não, não, não
Meu amor não se atrase na volta não
Meu amor, meu amor, meu amor, quem mandou?
Mandei uma mensagem a jato às entidades do tempo
Já me foi verificado que nem mesmo haverá segundos
Que os minutos foram reavaliados e que pra cada suspiro serão 10 contados


Meu amor, que se foi e ainda não voltou, e que provavelmente não voltará. E se para cada suspiro serão 10 contados, então acho que já conto mais de um trilhão. Queria não contar o tempo quando estou com ele, porque o tempo passa rápido demais quando estamos juntos. E é por demais dolorido contar o tempo de estar longe dele, porque a ausência bate por demais doída no peito. Mas é isso, não basta o atraso, é simplesmente um não-retorno.



Quando saímos do show o vento batia tão frio que parecia que estava cortando meu rosto e meu pescoço. Era um entardecer de sábado gelado no centrão. Fomos ao conforto gostoso do Girondino, e minha lógica cartesiana sempre tão atuante me impediu de derramar uma lágrima sequer. Logo quando estávamos entrando no metrô, a mensagem de texto que chegou era o final que eu não esperava, era exatamente o anúncio do não-retorno. Aquilo desceu tão doído que eu fiquei quieta o caminho inteiro, a parada na Sé, a baldeação no Paraíso. Desci no Trianon, e no primeiro sinal de celular disponível comecei a ligar para ver quem iria pro teatro comigo. Aos poucos eu ficava cada vez mais sozinha na Paulista, com os telefones de nãos ou os telefones que ninguém atende. Aí sim as lágrimas começaram a cair e foi dura a melancolia da ausência, do cano, da mudança de planos, tudo junto.


Não adianta pedir que o meu amor não se atrase na volta, já que não tem volta.

Basta comigo a voz doce da Céu e a introduçãozinha terna da música. Como consolo, como abrigo, como abraço.
Bastam comigo todos os suspiros, muitas vezes 10 contados.
Basta comigo a insônia.
Basta comigo a ausência.
Basta comigo essa certeza... que a gente se endurece a cada envolvimento que não deu certo, que a gente morre de medo de se entregar e de sofrer, que acabar relacionamento quando a paixão está começando a bater forte é absolutamente desanimador. Não sei se em um futuro breve quero me envolver de novo.

Está na nossa vontade de nos poupar, no nosso imediatismo, no nosso medo do sofrimento, nas arbitrariedades estranhas das nossas vontades (vontades essas que sempre deverão ser realizadas), essa característica de que a nossa é uma geração de sozinhos, porque compartilhar nos é por demais difícil.

Fácil assim.