2.6.08

Te conto, "10 contados"

Sábado à tarde fui no show da Céu com mil idéias na cabeça e algumas lágrimas latentes, que ardiam os olhos e embargavam a voz, mas não saíam de jeito nenhum.

Daí ela começou a tocar a delicadeza sensível de "10 contados", e aquela introduçãozinha terna era tudo o que eu precisava para poder colocar as lágrimas para fora.

10 contados - Alec Haiat e Céu
Meu amor não se atrase na volta não
Meu amor não, não, não
Meu amor não se atrase na volta não
Meu amor, meu amor, meu amor, quem mandou?
Mandei uma mensagem a jato às entidades do tempo
Já me foi verificado que nem mesmo haverá segundos
Que os minutos foram reavaliados e que pra cada suspiro serão 10 contados


Meu amor, que se foi e ainda não voltou, e que provavelmente não voltará. E se para cada suspiro serão 10 contados, então acho que já conto mais de um trilhão. Queria não contar o tempo quando estou com ele, porque o tempo passa rápido demais quando estamos juntos. E é por demais dolorido contar o tempo de estar longe dele, porque a ausência bate por demais doída no peito. Mas é isso, não basta o atraso, é simplesmente um não-retorno.



Quando saímos do show o vento batia tão frio que parecia que estava cortando meu rosto e meu pescoço. Era um entardecer de sábado gelado no centrão. Fomos ao conforto gostoso do Girondino, e minha lógica cartesiana sempre tão atuante me impediu de derramar uma lágrima sequer. Logo quando estávamos entrando no metrô, a mensagem de texto que chegou era o final que eu não esperava, era exatamente o anúncio do não-retorno. Aquilo desceu tão doído que eu fiquei quieta o caminho inteiro, a parada na Sé, a baldeação no Paraíso. Desci no Trianon, e no primeiro sinal de celular disponível comecei a ligar para ver quem iria pro teatro comigo. Aos poucos eu ficava cada vez mais sozinha na Paulista, com os telefones de nãos ou os telefones que ninguém atende. Aí sim as lágrimas começaram a cair e foi dura a melancolia da ausência, do cano, da mudança de planos, tudo junto.


Não adianta pedir que o meu amor não se atrase na volta, já que não tem volta.

Basta comigo a voz doce da Céu e a introduçãozinha terna da música. Como consolo, como abrigo, como abraço.
Bastam comigo todos os suspiros, muitas vezes 10 contados.
Basta comigo a insônia.
Basta comigo a ausência.
Basta comigo essa certeza... que a gente se endurece a cada envolvimento que não deu certo, que a gente morre de medo de se entregar e de sofrer, que acabar relacionamento quando a paixão está começando a bater forte é absolutamente desanimador. Não sei se em um futuro breve quero me envolver de novo.

Está na nossa vontade de nos poupar, no nosso imediatismo, no nosso medo do sofrimento, nas arbitrariedades estranhas das nossas vontades (vontades essas que sempre deverão ser realizadas), essa característica de que a nossa é uma geração de sozinhos, porque compartilhar nos é por demais difícil.

Fácil assim.

Um comentário:

Emilia disse...

Mari, querida,
não caia nessa conversa de nosso amigo pessimista que acha que não somos capazes d amar e conviver. somos sim!!! e vc é muito capaz! mas ,por vezes, dirigimos nosso amor e energia a quem ainda não está pronto para recebê-los... vc sabe d q estou falando. "saber amar", já dizia o Herbert Vianna, "é saber deixar alguém te amar". pense nisso. e se ame, muito. beijos!!!