11.3.06

Chegadas e Partidas

Eu cheguei da Bahia, mas antes ela tinha chegado da Índia, e antes disso ainda ele tinha chegado de Cuba. Nesse meio-tempo, a de Nova York não voltou e portanto não chegou, ela apenas foi, há mais de ano já, e os pais voltaram do Pernambuco e depois voltaram do litoral. A avó, essa foi visitar os hermanos argentinos, mas também já chegou. Os Stones chegaram e partiram, assim como o U2, e o Oasis ainda está prá chegar. Tem uma que deve ir para Bologna na metade do ano, e outra que economiza para passar as férias na Europa. Talvez ele vá para Paris fazer parte da faculdade lá, e um outro ele foi-se para São José dos Campos, mas esse fica na eterna ponte aérea e nas idas e vindas constantes. A do Rio foi para lá assim como eu e já voltou, e já foi e voltou para alguns lugares, assim como eu, e no entanto só nos encontramos no âmbito virtual. Tem uma, mocinha jovem ainda, que vai e volta da USP todos os dias, toda orgulhosa dela mesma e da grande conquista dela. Tem outra que embarcou num lindo caminho sem volta: será mamãe. A prima-amiga-irmã vai e volta direto como se fosse uma formiga atômica em todos os lugares a todos os momentos. Uma pequenina, cujo nome termina com "inha", foi pra Portugal e perdeu o lugar. Uma do trabalho que conquistou meu coração foi pra Londres, lá permanece, e muito provavelmente não volta. O outro vai e volta de Conchas, num ritmo que oscila entre o frenesi da grande capital e a calma da pequena cidade, sempre regado a quantidades absurdas de nicotina. O Lula foi para Londres mas já voltou, e na volta deu uma esticada em Pernambuco. O trio elétrico vai e volta, lento, mas promovendo uma catarse louca e rápida e generalizada entre todos que o seguem. Tem um que vive na ponte aérea mais chique do mundo, Genebra - São Paulo. E outro que pleitea a bolsa para Cambridge.

O avião decola manhã.

Ela está indo para a Espanha.

Não tem data prevista de retorno.

Vai deixar saudades.

Vai ficar vazio.

Mas a estrela, essa ainda brilha no meu coração - e assim brilhará para sempre.

Ou seja, é infinito, é pra sempre.

Anos Incríveis

Mudei meu ponto de vista sobre os incríveis anos que passam.

Na verdade o tempo passa mas os anos nunca perdem a aura deles, de anos incríveis. E é engraçado perceber que quanto mais o tempo passa, mais muda nossa visão sobre o que já foi e o que será nossa vida.

Pois bem. Outro dia me ocorreu uma extrema mudança de ponto de vista...

Ultimamente, desde o começo desse ano, nos dias que não tenho pós-graduação, tenho me esforçado em chegar em casa antes da 19hs, porque assim eu consigo assistir o "Anos Incríveis" do Kevin Arnold, do Paul Pfeiffer e da Winnie Cooper. Ele passa sempre de dobradinha, das 19 às 19.30 e depois das 19.30 às 20.00. Como costumamos jantar entre 20 e 20.30 aqui em casa, é o intervalo perfeito para me desligar das pendências e do stress que deixei para trás, guardado em alguma gaveta de algum andar de algum prédio lá da rua Tutóia.

Descobri isso em alguma noite de janeiro que eu estava em casa sozinha, descansando pré-balada de sexta, com todos os outros habitantes viajando. Foi o começo de final de semana mais pleno que eu já me dei de presente: deitada só com underwear no sofá, peguei uma coca-light, meus cigarros, e fiquei lá assistindo as aventuras do Kevin Arnold.

Desde então venho feito isso, como se fosse o mínimo necessário pro meu dia terminar feliz.

Agora, volto mais de 10 anos na história da minha vida. Mais especificamente 92 ou 93, quando foi lançado na TV Cultura. Nessa época, eu tinha 10 anos e assistia a programação da Cultura também esperando o jantar. Mas tinha que ser já de banho tomado e pijama vestido, antes disso, nada feito assistir TV. Onde já se viu?, criancinhas porquinhas vendo TV!! A programação era basicamente Anos Incriveis, Confissões de Adolescente, e As Aventuras de Tintin.

Nesses dias de 92, eu achava que a voz em off no programa era a consciência do Kevin Arnold, e que era um programa feliz. Hoje, 2006, ao assistir me caiu a ficha que na verdade a voz em off é o próprio Kevin Arnold já adulto relatando sua vida a partir da pré-adolescência.

(ah, sim, eu cresci junto com o Kevin Arnold, praticamente, na sequência que ele passava na TV: ida ao ginásio, ida ao colegial...)

Hoje eu percebo que o relato do Kevin Arnold adulto muitas vezes é um pouco ácido, e que o programa tem um grande quê de melancólico. E mais uma vez me identifico com o Kevin Arnold. Essa vida bitter-sweet, talvez poucos entendam ou saibam o que é. Mas é vida.

9.2.06

Presentinho de 2006

Dentre muitos presentes que 2006 me trouxe, tem um especial que eu queria mencionar aqui.

É uma amiga nova.

Conversamos direito pela primeira vez numa daquelas confraternizações de final de ano, embora tivéssemos estado em diversos eventos juntas ao longo de 2005. Mas na confraternização de final de ano descobrimos que passaríamos o Ano Novo no Rio. E foi aquela coisa: troca telefone, adiciona no orkut, adiciona no MSN.

Não conseguimos nos encontrar no Rio. Mas o Ano Novo foi muito bom para as duas. Desde então, temos nos falado pelo MSN com uma frequência realmente frequente, e tentado marcar um encontro de carne e osso que nunca é possível mas que algum dia será possível.

Ela é uma admirável amiga nova, a quem estou aprendendo adorar, e cujas pequenas e cotidianas lições de vida fazem uma diferença.

À Boneca de Pano, o meu muito obrigada!

Relações Perigosas

É engraçado.

Não sei se porque tenho o meu irmão, com quem convivi muito perto durante a infância e a adolescência;
ou se porque tenho meu primo apenas e exatamente um ano mais novo, com quem cresci junto dividindo tudo;
ou se porque tenho meu pai, que faz desnecessária qualquer descrição ou definição;
ou se porque aprendi que "meninos não mordem" (fora os três acima, que eu sempre soube que não mordiam) com um carinha muito especial no trem de Paris à Veneza, em julho de 99, que continua sendo um grande amigo;
ou se porque fazer trabalho em grupo, na época de escola, era muito melhor e mais fácil com os meninos do que com as meninas - tendência que se confirmou na faculdade, quando meu único dez em um seminário foi na vez que fiz o grupo eu de menina e mais seis meninos;

... não sei porque. Mas acho as relações entre as mulheres, uma coisa perigosa. Não me excluo disso, na verdade faço uma auto-crítica também.

Mas o fato é que tudo que é com mulher é tão mais difícil...

Tem sempre uma picuinha, um vingancinha, uma coisa de jogar coisas na cara. São, digamos, "agentes dificultadores de relações".

Parece que mulher tem que estar sempre competindo. Uma tem que ser sempre melhor do que a outra. E daí eu paro e penso: me deixem em paz!

Acho que sou meio masculina com relação a isso: FACILITEM A VIDA!

Nunca vi bicho que complica melhor do que a mulher.

Quando eu fazia trabalhos em grupo com as meninas, ficávamos talvez uma tarde inteira discutindo qual a cor da canetinha para preencher as letras gordinhas (sim, sempre tinha que ser letras gordinhas, daquelas "recheáveis"). Com os meninos, era basicamente: ver o conteúdo, dividir as funções, marcar um dia para juntar tudo e montar a apresentação - ponto final.

No further complications, Mr., please.

O fato é que estou nessa fase... meio que de asco das companhias femininas. Ou talvez de asco das companhias femininas que complicam. "Vamos ao cinema?" é uma pergunta que permite duas - e note, apenas duas - respostas possíveis: sim e não.

"Estou triste que não vou mais ao show dos Stones" é uma observação que permite um comentário à la: que pena que você não vai, se você queria tanto ir. Não permite um sermão; nem a "fórmula da boa filha"; nem lições de auto-estima; nem nada de outras coisas.

Mulher é um bicho complicado.

Às vezes tenho a sensação que, por mais que eu goste de uma amiga e que ela goste de mim, dependendo da amiga ela sempre vai ficar feliz porque alguma coisa deu errado na minha vida e daí eu não farei algo a mais do que ela.

Note: o ponto não é que eu tenho uma amiga que torce para que as coisas dêem errado. O ponto é que eu tenho uma(s) amiga(s) que torce para que nada do que eu seja e faça e pense e sinta seja diferente (não diferente - "a mais", no ponto de vista e na escala de valores particulares dela) do que ela tem na realidade dela.

E aí, tudo que é diferente ("a mais") e importante é legal para mim, sim, se torna muito ruim e muito pior para ela - de maneira a fazer com que uma tristeza, uma fraqueza minha, abram portas não para um apoio e uma consolação, e sim para uma sermão, uma bronca, e uma discussão filosofica transcedental surreal e desnecessária.

Mulher é um bicho complicado.

E uma das coisas nesse mundo da qual eu mais sinto medo é olho gordo.

ps.: independentemente do olho gordo, outra coisa que me incomoda demasiadamente são mocinhos (heteros ou homos, sem preconceito algum) que pensam como mocinhas no quesito: vamos ao cinema? Talvez, não sei, preciso pensar. Meu, facilita! Sim ou não?

ps.2: SARAVÁ, SARAVÁ!

9.1.06

Pro dia nascer feliz!

Pois é. E chega 2006.

Com força, intenso, brilhante. Um dia que amanhece ensolarado.

Já chega ao som de U2, Beautiful Day - música que nos recepcionou na festa do Reveillon.

Já chega quebrando tudo, agitado que só, com altas emoções e diversos micro surtos (que talvez não sejam tão micros assim).

2006 chega com cara de ano devastador, avassalador, que vai passar rápido e deixar lembranças, é o ano de construir. Regido por Saturno (naõ entendo muito dessas coisas, mas dizem que um ano regido por Saturno para um nativo de Escorpião - eu! - é bom)

E é incrível... porque é o único ano que começa com uma iniciativa diferente da minha parte: não fiz promessas de ano novo. Fiz sim planos, mas nada de promessas. E meus planos são absolutamente reais, tangíveis e pé no chão. Até porque ano passado aprendi a viver o que eu tô vivendo, e não mais viver olhando pro passado e aguardando o futuro...

E aí isso tem tudo a ver com o dia que nasce. Já vi o dia nascer duas vezes esse ano... sendo que ele é inteiro prá mim simbolizado como um dia que nasce.

A primeira vez foi no final da festa de Reveillon, com bastante champagne na veia, ajoelhada no concreto venerando Alá e o dia que nascia na Baía de Guanabara, tentando assimilar toda a tonelada de novas informações após a festa. Foi lindo e emocionante.

Mas hoje cedo foi muito mais, eu diria, pleno e calmo. Estava eu dirigindo a caminho do meu treino no Ibira (hoje foi o primeiro dia) e quando olhei pro céu, lá estava, uma listrinha alaranjada, que logo foi se multiplicando. E a cada esquina que eu virava, parecia que surgiam mais listrinhas, muito rápido... É incrível como amanhece rápido. E é incrível a sensação de paz que dá conseguir contemplar o amanhecer quando seu dia está de fato começando, e não acabando (como nas outras vezes que observei o amanhecer). Dá um pique, uma vontade de amanhecer junto, de começar, de aquecer prá brilhar forte depois...

É isso, aquecer e brilhar forte. Amanhecer, nascer, começar...

Recomendo que todos observem o amanhecer, pro dia nascer feliz.