28.4.08

Essa coisa querida que me acomete uma vez por ano

Bom, me acomete uma vez por ano, mas esse ano foi só minha segunda Virada Cultural. E esse ano me acometeu assim, fortemente... tanto que hoje estou só o pó, ainda com dores remanescentes.

Em itens e de forma bem rápida, alguns motivos porque a Virada Cultural desse ano foi demais:

- pulei de galho em galho. Em nenhum instante fiquei com as mesmas companhias por muito tempo. Isso é muito bom, me é muito natural. Juntei amigos também, em junções improváveis, muitos deles. Outra coisa que me é muito natural: juntar pessoas que sejam improváveis de se encontrarem. Ou que seja muito provável mas que nunca tenha acontecido.

- Cheguei lá sozinha. Andei um bom tempo sozinha. Parecia que no final eu precisava daquilo, para enteder que estava de novo na Virada, e que estava sozinha na Virada. Não deu medo. Deu mergulho. Imersão. Sim, eu era de novo parte dessa coisa bonita.

- Encontrei amigona e suas amigas, mas ficamos juntas por pouco tempo. O Samba da Santa Ifigênia e sua pegação eram, a meu ver, menos atraentes que o show da Gal.

- Curti a Gal com o meu irmão, lindo. Momento emoção 1: no meio da muvucona, cantar com todo mundo com as mãos pro alto: "é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte". E depois, em momento tranquilo: "while my eyes go looking for flying saucers in the sky". Momento emoção 2: no bis, Trem das onze e Sampa. Primeiras lagriminhas da Virada. De emocionar.

- Momento grande coincidência da noite: a minha amiga-e-sócia lá na minha frente, do nada, com o namorado querido. Pulei em cima dela e abração. Curtimos juntas a Gal.

- Nesse show da Gal, mil encontros não marcados, com pessoas queridas que já marcaram época. Um ode especial ao menino da corneta, que apareceu, que foi super carinhoso, que me deu um abração, e que está bem perdido nesse mundo. Um quê de carinho de irmã postiça mais velha, um quê de admiração de amiga, um quê de preocupação. É bem isso.

- Fomos, os quatro, até o Palco das Meninas. Marina de la Riva é linda, é simpática, canta bem, mas não sei se empolgou não. Mas eu curti. Curti mais do que o show dela, reencontrar dois amigos que não via há tempos. Curti mais do que isso a coincidência que uma amigona estava por lá também, e daí ela se juntou à trupe.

- Pausa para xixi e comidinha. Mas é a Virada... as pessoas diferentes estão por todos os lados. As pessoas conhecidas também. O centro fica lindo, vivo, cheio. Todos os estímulos ao mesmo tempo agora. Todas as artes por todos os lados. Barulhos, rostos, vozes, músicas, teatro, palhaços, gays e velhinhos, punks e famílias. Todos lá ocupando, democraticamente, com muito respeito e muito felizes, o espaço público. É muito lindo.

- Enfrentamos a multidão, achamos (a R$ 6,00!!!) uma latinha de Smirnoff Ice (ótimo para quem quer administrar o xixi), entramos na bagunça para ver o Zé. Mas era fé e só. Fé de que ele estava lá em cima e que aquilo não era um disco. Porque na verdade não dava para ver... Era fé e festa... dança empolgante com "Frevo mulher", mãos aos céus com "Vida de Gado", e novas lagriminhas.

- Dois abandonaram o barco. Ficamos em três, eu, meu amigo e vizinho querido do peito, e a amiga querida que a gente demora pra se encontrar. Fomos pro palco do Arouche, velhinhos fofos dançando sambinhas, sentei porque as pernas doíam muito. Na mais linda prova de democracia, os velhinhos dançando se misturavam com os gays que estavam em todo lugar nesse palco.

- Tudo muito paulistano. Aliás, nesse hora começamos a exaltar São Paulo. Parece que a Virada Cultural nada mais é do que isso: um ode muito lindo à essa cidade maravilhosa onde vivemos. É a população às ruas, para usufruir delas, usufruir da cidade, conviver de verdade em clima de festa e de felicidade pacífica com a diversidade. "Eu verdadeiramente gosto de morar aqui" e "Essa realmente é a cidade que eu escolhi para mim" foram as frases pronunciadas à exaustão por um trio de uma bêbada, uma cansada, e um recém-chegado à festa. E esse trio se deu muito bem, de verdade, por mais improvável que seja essa afirmação seja.

- No palco da Canja Rock Blues, pegamos o final da palhinha do Kid Vinil. Minhas pernas já doíam tanto que até anestesiadas elas estavam. Mas aquela boa música foi fundamental para eu ver que ainda tinha pique para os Mutantes. Nisso, a amiga que estava alegrinha seguiu rumo pra pista de eletrônica. Eu e o meu vizinho fomos pros Mutantes.

- De novo, era fé. Fé que tinha um Mutantezinho sequer lá em cima. Ficamos brincando do "80% menos": se eu tivesse um desejo pro gênio da lâmpada agora, desejaria que aqui tivesse 80% menos pessoas do que tem e que a gente estivesse sentado em poltronas bem confortáveis. Mas cantar Panis et Circensis com ele foi uma experiência única e memorável. E saber que essa foi a 1a das músicas que mudou a vida dele. De novo, lagriminhas.

- "Zero dois, pede para sair!". Eu pedi para sair às 5 da manhã, e estava no centro desde oito da noite. Tudo doía e os sintomas físicos se confundiam de forma absurda: dor na perna, dor nos braços, fome, sono, rouquidão, sensação de sujeira. Desisti do Cachorro Grande ao meio dia de domingo. Precisava dormir um pouquinho mais.

- Estava de volta às 14hrs, pra ver o mestre Arnaldo Antunes. Ainda com as dores remanescentes da noite anterior. Com pique total, no entanto. Domingo lindo de sol, tinha que ser curtido na Virada mesmo. A companhia, de um só e não de uma trupe mutante, não poderia ser melhor, no entanto. Anyways o showzinho não foi muito bom. Foi bem desanimador. Mas, de novo, encontrei gentes queridas: meu ex co worker de quem morro de saudades, minha prima-amiga-irmã, e o namorado querido da amiga-sócia.

- Zanzamos juntos com outro recém casal. Delícia. Dia lindo. Virada linda. Centro lindo. Todos lindos. E felizes. E de óculos escuros.

- Show do Lobão. Inesquecível. Muito bom mesmo. Cantamos juntos "Noite e Dia": "Você está me convidando, menina quer brincar de amar". Final de tarde, céu azul, centro cheio. Fecho de ouro para a Virada Cultural. Voltamos para casa, porque o corpo pedia arrego e não dava mais.

- Logo depois de sair da República, meu botão on/off foi para o off radicalmente e nada mais eu aguentava. Parecia que não era mais eu, que era um corpo sem dono, sem obedecer mais nada. Dormi, profundo, das 21.30 de ontem às 08.30 de hoje. Mas a satisfação era inenarrável. O gosto doce de poder falar com água na boca: "sim, eu curti tudo que eu pude dessa Virada Cultural".

- Disseram a Gal e depois os Mutantes, em Baby, quando todo mundo engrossou o coro de um jeito bem bonito: vivemos na melhor cidade da América do Sul. Não me resta mais nem uma dúvida sequer de que isso é verdade.

25.4.08

Minhas últimas sextas feiras

Minhas três últimas sextas feiras (contando com hoje) começaram exatamente desse jeito.

Sabe criança pequena que acorda no dia do aniversário, ou no dia de Natal, e daí tá na cama e de repente abre o olho rápido e toma um susto?
- Nossa, hoje é meu aniversário!
- Nossa, hoje é Natal!
A criança senta na cama rápido, fica com os olhos meio esbugalhados, querendo acordar e acreditar que é verdade, que a data chegou mesmo.
De verdade! Chegou o dia!
A criança pula da cama, sai correndo do quarto, "Bom dia, dia!", ela grita, "Bom dia, dia!" pela casa, que bom que chegou o grande dia!
Ah, a criança está muito feliz!
Agora, fica com tremeliques esperando chegar a hora. Tremeliques contando os segundos para a festa de aniversário, contando os segundos pelo presente do Papai Noel. Tremeliques, a criança não pára, anda de um lado pro outro, corre, faz muita coisa, o corpo não pára, a cabeça não pára.

Fiquei assim para receber minhas amigas cariocas (penultima sexta).
Fiquei assim para tomar uma breja bacana (ultima sexta).
Estou assim hoje porque chegou a Virada Cultural.
E pensar que fiquei um ano esperando por isso... e aí... chegou...

24.4.08

A over reaction do desespero das pequenas coisas

- Não, eu não pago R$ 10,00 na primeira hora de um estacionamento no Itaim pro almoço. Por princípios. Estraguei uma surpresa que seria bacana porque bati o pé. Almoçamos no Kinoplex ao invés de um restaurante legal "de vanguarda" que ele tinha escolhido. Só porque eu bati o pé. Resultado? No Kinoplex o estacionamento foi R$ 9,00 por duas horas de estacionamento. E ele não estacionava o carro em shopping por princípios também. Merda.

- Não tem jeito. Por mais que eu tente não fumar durante a semana, os cigarrinhos pré e pós terapia são sagrados. Assim como todos os outros no Morumbi, em jogo tenso. Resultado? Um maço, entre o final da tarde e uma da manhã. (ps.: sim, terça feira eu fiquei o dia inteirinho sem fumar, e nem falta eu senti)

- Defina "boa companhia". Defina "relações escapistas". Defina "se proteger". Depois vem me contar.

- Laços de sangue a gente não escolhe, né?

- Alguns laços de sangue a gente escolhe, sim.

- Meu time está jogando um futebol de merreca. Ontem o jogo, mesmo no Estádio, deu sono. Dizem que vai se recuperar, já que agora pode ficar um tempo só focado na Libertadores. Estou bem cética. Sempre acompanhei Libertadores bem de perto e nesse ano, nem a torcida tá empolgando.

- Adoro abastecer meu carro e, com o frentista, abrir o capô. Ver óleo, ver a água, calibrar o pneu.

- Acho que vou pegar mais responsabilidades do meu carro para mim, já que gosto disso e quero aprender mais sobre isso.

- Mas por enquanto ainda serei feliz que meu pai declare meu IR nos próximos anos. Essa responsabilidade, ainda deixo com ele.

- Ontem foi Dia de São Jorge. No Parque São Jorge, os Corinthianos quebraram a estátua do Santo. Será que eles nunca ouviram: "cuidado com o andor que o santo é de barro"?? Aqui em casa somos todos devotos do Santo Guerreiro. Fiz minhas boas mentalizações antes de dormir. Ogum.

- Será que o padre estava mesmo planejando suicídio?

- AAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaaa que tem muita coisa nessa Virada Cultural!! Muita muita muita coisa... que saco ter que ficar escolhendo assim, tanto... Nessas horas me descubro uma pessoa que não sabe bem priorizar...

22.4.08

Da Fé no Amor, do Medo do Amor

Alguns diálogos esse feriado, todas as matutações do mundo sobre o tema, óbvio que nenhuma conclusão.

No bar.
Da amiga namoradeira para a amiga que sempre ficou solteira. Só que agora a amiga namoradeira não namora há muito tempo, e a amiga solteirona está (quase) no seu segundo namoro.
"Outro dia fiz uma relação que eu nunca tinha feito. Percebi que desde que meus pais se divorciaram, eu nunca mais consegui namorar. Acho que deixei de acreditar no amor, quando nosso exemplo de amor mais próximo se esfarela".

No cinema.
Sobre a torta de BlueBerry que sempre sobrava intacta ao final do dia.
"Nunca comeram a torta de BlueBerry. Mas eu continuarei fazendo ela todos os dias, todas as vezes, porque algum dia sempre chegará alguém que vai querer comê-la. Alguém que vai de verdade escolhê-la."
E no fim desse mesmo filme, a voz em off falava:
"Porque às vezes tudo o que a gente tem que fazer é atravessar a rua sem olhar para trás".

No quarto.
Na música do Wilco, que tem cara de música de final de filme melancólico e escuro.
"True love will find you in the end
You gonna find out just who's your friend
Don't be sad, I know you will
But don't give up until
True love will find you in the end
This is a promise with a catch
Only if you're looking can it find you
True love it's searching too
How can it recognize you
Unless you step out into the light, the light
Don't be sad, I know you will
But don't give up until
True love will find you in the end"


Engraçado esse único sentimento e tantas reações diferentes e opostas embutidas nele. Engraçado principalmente porque, quando paro, racionalizo, penso nas minhas próprias reações, eu teria mais medo do que fé. E eu não acharia que compensa. Mesmo.

Na Estrada

Não viajei no feriado, só passei o domingo fora de São Paulo. E é engraçado isso, foi só um dia, mas parece que foi todo o descanso que eu precisava e merecia... Pegar a estrada faz toda a diferença na minha vida. É uma das coisas que eu mais gosto...
Gosto disso, de estar no carro, da sensação de estar indo para algum lugar, de mudar de paisagem, de ver a estrada compriiiida na nossa frente. Gosto do vento, do cheiro de mato. Gosto do céu azul, e de ver o céu lá longe, ver que em algum lugar está chovendo. Gosto de placas com nomes de cidades estranhos, e gosto de placas com kilometragens: 32 km para Santo Antônio do Pinhal. Tenho uma paixão especial pela Serra da Mantiqueira e pela vista que se tem do Vale do Paraíba para a Serra e vice-versa. Até hoje me lembro daquele julho de 95 quando subíamos para passar uma semana com a Carol K. no nosso carro e eu perguntei pra ela: "não está nítido?", e ela não sabia o que era nítido e ficou rindo do meu vocabulário, tão rebuscado para uma pessoa de 12 anos.
Adorei quando ficamos 2 dias na ida e 2 dias na volta só na estrada, para passar o carnaval em Itacaré. Não fico cansada na estrada, adoro, ouvir música, filosofias de asfalto, moda de viola, cochilos gostosos. Foi na volta da Bahia que soltei uma das minhas maiores pérolas: "acho que já fui uma vaca", quando fiquei feliz de sentir o cheiro de capim já na região de Governador Valadares.
Pegar uma boa estrada é a melhor coisa para desanuviar das idéias.
Chega logo, Corpus Christi, que eu quero ir para Foz!

17.4.08

Reflexões na ponta da cabeça

Hoje eu fiquei de ponta cabeça na aula de yoga. Quando a gente fica de ponta cabeça, já me falaram isso lá na yoga milhares de vezes, a realidade é vista de outro jeito. Literalmente, de ponta cabeça.
A gente tem que fazer mais força para respirar e para impedir que o sangue vá tão rápido assim para a cabeça. Tem que manter tudo funcionante, mesmo que de outra perspectiva. E na yoga a respiração é a forma de corpo se ligar com a mente, então respiração com esforço de ponta cabeça, é na verdade tudo de ponta cabeça.
E é engraçado, que às vezes mesmo quando eu estou de pé e está todo mundo ao meu redor de pé também, eu sinto que estou de ponta cabeça.
Isso significa que quando eu estou de ponta cabeça e todo mundo continua de pé, então eu estou de ponta cabeça ao quadrado?
Ou será que é quando estou de ponta cabeça e os outros estão de pé que eu estou tão de pé quanto eles, na mesma perspectiva?
Fiquei pensando muito nisso... daria para passar uma noite inteira de buteco discutindo qual perspectiva que eu tenho que é igual a daqueles todos outros.

Outra coisa que pensei: hoje, depois do almoço, com o cafézinho, acendi meu "cigarrinho na janela" sagrado. Mas foi assim que parei de fumar a primeira vez e devo parar de fumar a segunda vez: se a respiração é nossa forma de conectar corpo e mente, não faz o menor sentido entupir esse canal de nicotina. Ou seja, yoga e cigarro não convivem. Por que eu insisto nisso há seis meses, mesmo fumando pouco e mesmo parando de fumar por um bom tempo?

E última coisa que pensei hoje quando fiquei de ponta cabeça na yoga: cada vez mais essa posição tem se tornado mais confortável e menos angustiante para mim. É absolutamente relaxante. Será que ponta cabeça é minha posição natural e só aos 25 anos eu descubro isso? Vou precisar fortalecer muito abdomen e costas para poder viver minha vida de ponta cabeça, isso me preocupa.

E frase final da fábula da yoga hoje:
somos marcianos em uma terra de medíocres.

16.4.08

Muito bom estar lá

Engraçado isso, porque eu não convivo muito com ela, mas se me perguntarem eu obviamente a incluiria no meu grupo de amigos Top Top Queridos e Especiais e Estrelares. E aí ela entregou o mestrado dela dia desses, e ontem defendeu. Eu não pude ir na defesa, mas pude ir ao jantar. É engraçado isso, eu já tinha falado com uma amiga minha, a melhor forma de se conhecer pessoas novas é ir para um lugar onde a gente só conhece UMA pessoa. No caso, eu conhecia só a recém mestre. Mas até que me dei bem, consegui superar a timidez e conversar bem com as pessoas. O grande lance é que a conversa lá era "um nível acima". Gente muito boa, muito gente fina, risadas inteligentes e olhares mais ainda, conversas bacanas, poesia, sexo, Febem e adolescentes criminosos e tudo o mais. Deu preu me sentir à vontade com eles em meia hora de convivência. E aí é muito aquela coisa da boa energia circulando também, não basta só a conversa ser boa, tem que rolar boa troca de energias. E ontem lá isso tinha de sobra. Privilegiada minha amiga Mestre, que além de Mestre, linda e inteligente, é também cercada de pessoas tão especiais. E além de privilegiada e de mestre, ela é um dos "parabéns" mais enfáticos e verdadeiros que eu já pude dar para alguém. Oh yeah, baby, paguei um pau.

Quando as estrelas começarem a cair, it makes me kinda nervous to say so

Estava ouvindo Angra dos Reis, da Legião, ôpa coisa linda de se ouvir. Lembrar de quando eu tinha quinze anos e era legal, nas viagens da escola, sentar em uma rodinha de violão e ficar cantando a noite inteira debaixo de um céu estrelado.

Mas prestei atenção nisso daqui:

Mesmo se as estrelas
Começassem a cair
A luz queimasse tudo ao redor
E fosse o fim chegando cedo
Você visse o nosso corpo em chamas!
Deixa prá lá...

Quando as estrelas
Começarem a cair
Me diz, me diz
Pr'onde é que a gente vai fugir?
(Angra dos Reis, Legião Urbana)

Pode até ser auto-sabotagem, mas está tudo tão legal até agora que eu fico me perguntando se fosse o fim chegando cedo, se as estrelas começarem a cair... Para onde é que eu vou fugir?

Dez anos depois, a música das rodinhas de violão, aquela euforia adolescente, bochechas rosadas depois de um dia inteiro estudando o mangue debaixo de sol, tudo isso muda para uma melancolia adulta. Uma melancolia que tem medo de acreditar simplesmente que as coisas estão dando certo. Uma melancolia de entrega ressabiada. Medo de não ter amanhã o que eu tive ontem.

E o engraçado de tudo isso é que em primeiro lugar eu não tenho motivo nenhum por enquanto de acreditar que o que eu tive ontem eu não terei amanhã. E em segundo lugar que historicamente a vida vem me provando que as coisas, mesmo que aos trancos e barrancos, se apresentam em uma curva ascendente e não descendente. Ou seja, que mesmo que se amanhã eu não tiver o que eu tive ontem, pode ser que o que eu tenha amanhã seja ainda melhor.

Basta acreditar nisso para assumir aquele sentimento que eu tô fazendo questão de manter escondidinho, longe dos meus holofotes, longe dos holofotes dos outros, longe de assumir qualquer coisa.

E aí, para assumir, melhor coisa é a música do Beck. Grande Beck, letras inteligentes e dançantes, aquela coisa encantadora do perdedor e do cara que está descobrindo suas "Sexxlaws".

What if it's wrong
To pray in vain?
(...)
I think i'm in love
But it makes me kinda nervous to say so
I think i'm in love
But it makes me kinda nervous to say so
Really think I better get a hold of myself
(Think I'm in Love, Beck)

14.4.08

Eu tive um sonho, vou te contar

Essa noite sonhei que ele me pedia em namoro cantando "Minha Namorada", do Vinícius, e depois me dava 12 dúzias de rosas vermelhas cultivadas nos morros no norte da Albânia por freiras virgens.

Daí eu acordei assustada.

Lá fora, milhares de trovões e raios, parecia que tinha raio aqui dentro do meu quarto.
Aqui dentro, uma barata debaixo da minha cama, já que não tínhamos conseguido matar ela ontem.
No peito, aquela coisa misturada cheia de coisas.
No feriado eu não quero ficar aqui de novo, não.

6.4.08

Por que não um bom final de semana?

Começou com aquela sexta quando meus hormônios eram maiores do que eu, e o DVD com chocolate entre meninas virou uma noite divertidíssima no Santo Grão Café. Decidi que sábado seria um bom dia. E foi. Dormi muito, o suficiente para acordar bem humorada e com os hormônios diminuídos. Li o jornal tranquilamente no café da manhã, tomei um banho comprido, lavei o cabelo com calma e fiquei cheirosa. Recebi um telefonema bacana, continuei me arrumando, arrumando tudo, o quarto, a casa, a vida, o cabelo, a lente de contato. Arrumando até o abraço com a mãe. Daí ele chegou e a gente foi até lá onde se arruma a vida espiritual. E que conversa gostosa, de novo, só para variar um pouco! Quero sempre. Voltamos para São Paulo após uma ótima tarde. Escolhi o lugar errado pro almoço, e ficamos passando frio no Pé no Parque. A companhia, no entanto, compensou todo o frio do mundo. No carro voltando, uma conversa que indica que eu posso ter estragado alguma coisa simplesmente por medo. Enfim, nem tudo está perdido e eu ainda me redimirei. Cheguei em casa e tivemos alguns contratempos entre a garagem, o elevador, o carro dele e a minha casa. Aqui, um papo agradável com bons amigos dos meus pais, e meu irmão estava visitando também. Ótimo. Um cochilo gostoso depois, com a casa vazia, e a saída de visual caprichado para lugar legal com gente que eu gosto muito e com papo bacana. Dois casais e eu, ouvindo jazz. Um Bloody Mary, dois Bloody Mary, três Bloody Mary. Três Bohemias depois também. Um ataque de cinco minutos e a volta para casa, ainda bebinha. Dormi cedo, lá pelas 3, e acordei tarde, depois da uma. Belo dia de preguicite aguda esse domingo, e não coloquei a cara para fora de casa. Almoço em família, passa a folha de uva por favor, futebol de domingão decidindo as semifinais do Paulista, São Paulo ganha bonito e Corinthians perde de virada, e então Elizabethtown. A frase final do filme? "Those who risk, win". Preciso falar com ele urgente de novo, arriscar um pouquinho, e ver se dá para ganhar. Pôxa, Elizabethtown é um filme muito bom. Eu já tinha assistido, e sempre gostarei de assisti-lo. Agora, preguiça de novo, minha mãe está assistindo a reprise de Lost no AXN e eu acabei de decidir que vou comprar pão francês na padoca porque, com a linguiça que temos aqui, posso comer Choripán.

Por que não um bom final de semana?

4.4.08

Noite de Menininhas

Hoje:
- meus hormônios estão maior do que eu;
- mesmo o que deu certo, deu errado;
- o friozinho contribui pra essa sensação;
- a carência também;
- alguma saudade também;
- saí da mesa do jantar muito mais cedo do que o normal, e voltei pro meu quarto pra dormir;
- esperando meu amigo ligar e ele não ligou;
- e fiquei assim, debaixo das cobertas, meio dormindo, meio acordada;
- ouvindo Ryan Adams, seu violãozinho e sua gaita como deliciosas companhias pra uma noite meio deprêzinha.

Daí a Princess ligou e me acordou. Vamos fazer alguma coisa, dizia ela, e meu sono era maior do que eu pra responder. Depois de 10 minutos, liguei pra ela de novo. Ela deu risada da minha rapidez e eu dei também, provavelmente essa sendo a primeira risada realmente gostosa do dia.

Perguntei:
Princess, quer ver comédia romântica e comer chocolate?
Você vai aguentar eu, meu bode e meus hormônios?
Vamos brincar de ser felizes e de acreditar que vai dar tudo certo?
Ela disse que sim para todas essas perguntas.
Perguntei se ela queria que eu levasse ovo de Páscoa, ou se ela tinha lá. Ela disse que ela tem lá, e que assim é melhor porque pelo menos os ovos dela vão embora mais rápido.

Ok, eu disse, em meia hora aí.

E concluí, mais feliz do que ir na casa dela ver DVD feliz e comer chocolate, é saber que do lado de lá do bairro tem alguém que gosta de mim mesmo quando eu estou mal humorada e que vai me dar colo e me fazer rir, tudo ao mesmo tempo agora.

Ai, como eu amo essa minha irmãzinha.

3.4.08

Contagem Regressiva

Já estão divulgando a Virada Cultural desse ano.
Promete, parece.
Gente boa toda junta, concentrada em 24 horas de muita coisa entre sábado e domingo, 26 e 27 de abril.

Ano passado foi minha primeira Virada Cultural. Noite histórica. Tudo que poderia ter acontecido, aconteceu. Novela mexicana mesmo. Muitas boas músicas e muitas boas apresentações, andarilhos em grupo gigantesco pelo centro de São Paulo, brigas, intrigas, porres e choros, beijos estranhos, beijos na boca, muita risada, muita zueira, xixi em banheiros químicos, e muitas boas fotos. Noite completa. Entre tudo e todos, a cerveja. E de vontade superior, a certeza de diversão. E de força gravitacional, a ressaca - forte, física, moral - do dia seguinte.

Enquanto isso, não muito longe de mim e de toda a novela mexicana (embora mexicana, foi pacífica), meu irmão fugia de balas de borracha e do gás lacrimogênio na Praça da Sé. Não, a violência na Sé não foi maior do que todo o resto da Virada, que aconteceu cheia de méritos. Mas nunca é bom esquecer esse fato, essa violência gratuita, tudo aquilo de confusão no meio da multidão.

Esse ano quero repetir a dose. Não vejo a hora de ter tudo de novo. Serão diferentes as pessoas, mas será tão forte quanto a diversão. Talvez a ressaca de domingo esse ano tenha que ser um pouco menor, porque domingo quero estar lá na Virada também.

A Prefeitura está caprichando no evento. Gente muito fera estará lá, muito concentrada também. Fica todo mundo que nem barata tonta naquele centro deliciosamente cheio na madrugada. Não sabe onde ir, porque são todas as boas opções ao mesmo tempo e agora, sempre, a todo minuto. As pernas cansam de zanzar tanto. A cabeça cansa de tanto estímulo por todos os lados.

Mas é coisa bonita de ver, o centro lotado, seguro, bonito, e as pessoas felizes. De casais de velhinhos a famílias com crianças, a turmas de jovens. E em todos os grupos, gente de tudo quanto é canto. Do centro, da periferia, dos bairros nobres, dos bairros pobres. Punks e descolados, GLS e a turma do Hip Hop. Todo mundo lá, andarilho do mesmo jeito, na mesma noite, no centro.

Não vejo a hora de chegar a Virada Cultural esse ano. Faço contagem regressiva desde o ano passado. É festa bonita de se ver, a Paulicéia ainda mais desvairada. Música que São Paulo merece, dança que São Paulo quer, semana difícil e um final de semana histórico que compensa tudo. Ô coisa linda de acontecer... coisa linda linda linda.

Apenas como não poderia deixar de ser, uma crítica política. Esse ano o Kassab simplesmente dobrou o investimento na Virada, com relação ao ano passado. Óbvio que esse aumento no investimento tem relação direta com o ano de eleição. Isso é coisa feia de ver. Coisa muito feia. Outra crítica política: os caras excluíram os Racionais para esse ano. Fico me perguntando se é medo que se repita o mesmo absurdo do ano passado, quando a PM pulou em cima da galera com tudo.

De qualquer forma, é isso aí.
26 e 27 de abril, aquela coisa histórica e gostosa: Virada Cultural.
Tô na contagem regressiva.
Não vejo a hora.

2.4.08

Um dueto entre um homem e uma mulher

No dueto que eu ouço normalmente, Nina Simone e Ray Charles dando um show de interpretação na letra de Frank Loesser.
Lindo, lindo.

Baby, it's cold outside

I really can't stay
- Baby it's cold outside
I've got to go away
- Baby it's cold outside
This evening has been
- Been hoping that you'd drop in
So very nice
- I'll hold your hands, they're cold as ice
My mother will start to worry
- Beautiful, what's your hurry
My father will be pacing the floor
- Listen to the fireplace roar
So really I'd better scurry
- Beautiful, please don't hurry well
Maybe just one drink more
- Put some music on while I pour
The neighbors might think
- Baby, it's bad out there
Say, what's in this drink
- No cabs to be had out there
I wish I knew how
- Your eyes are like starlight now
To break this spell
- I'll take your hat, your hair looks swell
I ought to say no, no, no, sir
- Mind if I move a little closer
At least I'm gonna say that I tried
- What's the sense in hurting my pride
I really can't stay
- Baby don't hold out, Baby it's cold outside
I simply must go
- Baby, it's cold outside
The answer is no
- Ooh baby, it's cold outside
This welcome has been
- I'm lucky that you dropped in
So nice and warm
- Look out the window at that storm
My sister will be suspicious
- Man, your lips look so delicious
My brother will be there at the door
- Waves upon a tropical shore
My maiden aunt's mind is vicious
- Gosh your lips look delicious
Well maybe just a half a drink more
- Never such a blizzard before
I've got to go home
- Oh, baby, you'll freeze out there
Say, lend me your coat
- It's up to your knees out there
You've really been grand
- I thrill when you touch my hand
But don't you see
- How can you do this thing to me
There's bound to be talk tomorrow
- Making my life long sorrow
At least there will be plenty implied
- If you caught pneumonia and died
I really can't stay
- Get over that old out
Baby it's cold outside

ps.: quizz master óbvio, mas quem adivinhar quem é o homem e quem é a mulher nessa música ganha um prêmio.

Enquanto vocês não adivinham, eu danço dois pra lá, dois pra cá (sozinha).