28.4.08

Essa coisa querida que me acomete uma vez por ano

Bom, me acomete uma vez por ano, mas esse ano foi só minha segunda Virada Cultural. E esse ano me acometeu assim, fortemente... tanto que hoje estou só o pó, ainda com dores remanescentes.

Em itens e de forma bem rápida, alguns motivos porque a Virada Cultural desse ano foi demais:

- pulei de galho em galho. Em nenhum instante fiquei com as mesmas companhias por muito tempo. Isso é muito bom, me é muito natural. Juntei amigos também, em junções improváveis, muitos deles. Outra coisa que me é muito natural: juntar pessoas que sejam improváveis de se encontrarem. Ou que seja muito provável mas que nunca tenha acontecido.

- Cheguei lá sozinha. Andei um bom tempo sozinha. Parecia que no final eu precisava daquilo, para enteder que estava de novo na Virada, e que estava sozinha na Virada. Não deu medo. Deu mergulho. Imersão. Sim, eu era de novo parte dessa coisa bonita.

- Encontrei amigona e suas amigas, mas ficamos juntas por pouco tempo. O Samba da Santa Ifigênia e sua pegação eram, a meu ver, menos atraentes que o show da Gal.

- Curti a Gal com o meu irmão, lindo. Momento emoção 1: no meio da muvucona, cantar com todo mundo com as mãos pro alto: "é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte". E depois, em momento tranquilo: "while my eyes go looking for flying saucers in the sky". Momento emoção 2: no bis, Trem das onze e Sampa. Primeiras lagriminhas da Virada. De emocionar.

- Momento grande coincidência da noite: a minha amiga-e-sócia lá na minha frente, do nada, com o namorado querido. Pulei em cima dela e abração. Curtimos juntas a Gal.

- Nesse show da Gal, mil encontros não marcados, com pessoas queridas que já marcaram época. Um ode especial ao menino da corneta, que apareceu, que foi super carinhoso, que me deu um abração, e que está bem perdido nesse mundo. Um quê de carinho de irmã postiça mais velha, um quê de admiração de amiga, um quê de preocupação. É bem isso.

- Fomos, os quatro, até o Palco das Meninas. Marina de la Riva é linda, é simpática, canta bem, mas não sei se empolgou não. Mas eu curti. Curti mais do que o show dela, reencontrar dois amigos que não via há tempos. Curti mais do que isso a coincidência que uma amigona estava por lá também, e daí ela se juntou à trupe.

- Pausa para xixi e comidinha. Mas é a Virada... as pessoas diferentes estão por todos os lados. As pessoas conhecidas também. O centro fica lindo, vivo, cheio. Todos os estímulos ao mesmo tempo agora. Todas as artes por todos os lados. Barulhos, rostos, vozes, músicas, teatro, palhaços, gays e velhinhos, punks e famílias. Todos lá ocupando, democraticamente, com muito respeito e muito felizes, o espaço público. É muito lindo.

- Enfrentamos a multidão, achamos (a R$ 6,00!!!) uma latinha de Smirnoff Ice (ótimo para quem quer administrar o xixi), entramos na bagunça para ver o Zé. Mas era fé e só. Fé de que ele estava lá em cima e que aquilo não era um disco. Porque na verdade não dava para ver... Era fé e festa... dança empolgante com "Frevo mulher", mãos aos céus com "Vida de Gado", e novas lagriminhas.

- Dois abandonaram o barco. Ficamos em três, eu, meu amigo e vizinho querido do peito, e a amiga querida que a gente demora pra se encontrar. Fomos pro palco do Arouche, velhinhos fofos dançando sambinhas, sentei porque as pernas doíam muito. Na mais linda prova de democracia, os velhinhos dançando se misturavam com os gays que estavam em todo lugar nesse palco.

- Tudo muito paulistano. Aliás, nesse hora começamos a exaltar São Paulo. Parece que a Virada Cultural nada mais é do que isso: um ode muito lindo à essa cidade maravilhosa onde vivemos. É a população às ruas, para usufruir delas, usufruir da cidade, conviver de verdade em clima de festa e de felicidade pacífica com a diversidade. "Eu verdadeiramente gosto de morar aqui" e "Essa realmente é a cidade que eu escolhi para mim" foram as frases pronunciadas à exaustão por um trio de uma bêbada, uma cansada, e um recém-chegado à festa. E esse trio se deu muito bem, de verdade, por mais improvável que seja essa afirmação seja.

- No palco da Canja Rock Blues, pegamos o final da palhinha do Kid Vinil. Minhas pernas já doíam tanto que até anestesiadas elas estavam. Mas aquela boa música foi fundamental para eu ver que ainda tinha pique para os Mutantes. Nisso, a amiga que estava alegrinha seguiu rumo pra pista de eletrônica. Eu e o meu vizinho fomos pros Mutantes.

- De novo, era fé. Fé que tinha um Mutantezinho sequer lá em cima. Ficamos brincando do "80% menos": se eu tivesse um desejo pro gênio da lâmpada agora, desejaria que aqui tivesse 80% menos pessoas do que tem e que a gente estivesse sentado em poltronas bem confortáveis. Mas cantar Panis et Circensis com ele foi uma experiência única e memorável. E saber que essa foi a 1a das músicas que mudou a vida dele. De novo, lagriminhas.

- "Zero dois, pede para sair!". Eu pedi para sair às 5 da manhã, e estava no centro desde oito da noite. Tudo doía e os sintomas físicos se confundiam de forma absurda: dor na perna, dor nos braços, fome, sono, rouquidão, sensação de sujeira. Desisti do Cachorro Grande ao meio dia de domingo. Precisava dormir um pouquinho mais.

- Estava de volta às 14hrs, pra ver o mestre Arnaldo Antunes. Ainda com as dores remanescentes da noite anterior. Com pique total, no entanto. Domingo lindo de sol, tinha que ser curtido na Virada mesmo. A companhia, de um só e não de uma trupe mutante, não poderia ser melhor, no entanto. Anyways o showzinho não foi muito bom. Foi bem desanimador. Mas, de novo, encontrei gentes queridas: meu ex co worker de quem morro de saudades, minha prima-amiga-irmã, e o namorado querido da amiga-sócia.

- Zanzamos juntos com outro recém casal. Delícia. Dia lindo. Virada linda. Centro lindo. Todos lindos. E felizes. E de óculos escuros.

- Show do Lobão. Inesquecível. Muito bom mesmo. Cantamos juntos "Noite e Dia": "Você está me convidando, menina quer brincar de amar". Final de tarde, céu azul, centro cheio. Fecho de ouro para a Virada Cultural. Voltamos para casa, porque o corpo pedia arrego e não dava mais.

- Logo depois de sair da República, meu botão on/off foi para o off radicalmente e nada mais eu aguentava. Parecia que não era mais eu, que era um corpo sem dono, sem obedecer mais nada. Dormi, profundo, das 21.30 de ontem às 08.30 de hoje. Mas a satisfação era inenarrável. O gosto doce de poder falar com água na boca: "sim, eu curti tudo que eu pude dessa Virada Cultural".

- Disseram a Gal e depois os Mutantes, em Baby, quando todo mundo engrossou o coro de um jeito bem bonito: vivemos na melhor cidade da América do Sul. Não me resta mais nem uma dúvida sequer de que isso é verdade.

3 comentários:

Camila disse...

Eu não fiquei muito tempo na Virada por isso acabei nem te ligando. Queria poder dizer que aproveitei tanto quanto você... Mesmo assim valeu e eu faço coro às suas palavras sobre São Paulo, adoro viver nessa cidade!

E puxa como é bacana ver que no centro tem lugar pra todos os gostos, pelo menos uma vez no ano. Pena o cheiro de mijo, mas ano que vem eles resolvem isso. Tomara tb que na próxima o pessoal do hip hop possa não ficar tão segregado, isso foi chato...

Pra quem já gosta do centro como vc, como eu, não é muito gostoso ver as pessoas que geralmente torcem o nariz pra aquela parte da cidade, por algumas horinhas, também curtirem andar por aquelas ruas?

Marix Flammes, Nina. disse...

Oi, querida!
Pena que não nos encontramos mesmo... sim, a Virada é coisa linda de se ver, o centro lotado também é...
Beijão,

Fernanda Bello disse...

Hey Mariiii!
Você está escrevendo cada vez melhor, hein menina!
Vamos nos ver sim!
Vamos combinar uma visita num dia da semana lá na Erika, para tomar um café e fumar um cigarro as três juntas. Pelo menos isso, já que não conseguimos combinar de sair...
Beijos!!!!