21.7.09

O mundo contemporâneo e o peixe fora d'água

Como assim, Lipo?
Daí eu estava conversando com uma amiga e ela disse que vai fazer lipo.
Vai fazer no culote, sempre quis fazer, alega que tem o culote imenso e que ela odeia o tamanho do culote. Solução: tirar o culote e ficar feliz (nas palavras dela).
Eu reagi de maneira um pouco incrédula. Disse que fico feliz de ver uma amiga feliz, mas que acho estranho ao mesmo tempo.
E ela me perguntou: estranho por que?
No que eu respondi que ela é a primeira pessoa da "nossa idade" (25-30) que eu conheço que vai fazer lipo, uma estreante no meu grupo de amigas.
Ela se espantou. "Muitas amigas minhas já fizeram!", insinuando alguma coisa tipo "que mundo é esse que você habita onde as pessoas não fazem lipoaspiração?".

Mundo contemporâneo:
fazer lipo como quem come uma banana (todo mundo faz!);
eliminar da vida qualquer coisa que você não goste (com um pouquinho de anestesia e um bom médico, sai sem dor).
Peixe fora d'água:
eu,
que não acredito na banalização da lipo,
em soluções instantâneas
e nem em macarrão instantâneo.

20.7.09

Amostragem: Domingo à noite

Cheguei em casa e os termômetros lá fora marcavam 12 graus com garoa.
Mergulhei na grande e quente gola do meu casacão, e me afundei no sofá, e lá permaneci.
Estática.
Mudando canais de TV.
Respirando pesado.
Quase fechando o olho.
Por muito tempo.

De repente, assolada por uma intensa aunque preguiçosa vontade de sair de casa, mensagei onzer amigos bem selecionados.
"O que vocês estão fazendo right now? Alguém topa programinha light dominical? Estou assistindo a Changer d'Interieurs na TV 5 Monde e não está divertido. Beijos"


Desses onze,
4 ficaram mudas (todas mulheres);
1 veio hoje avisar pelo msn que não conseguiu nem tirar os braços debaixo da coberta para responder a mensagem;
6 responderam:
"Estou fazendo TCC. Durante a semana rola nos encontrarmos"
(do amigo do peito que é namorado da amiga do peito que está de férias viajando, ele está terminando a mesma pós que eu fiz, e eu bem me lembro como era dura essa fase de TCC);
"Estou grudado na minha cama, esse frio me mata. Mas valeu por chamar. Beijos!"
(do amigo carioca que diz no discurso que um dos motivos que o fez vir para SP é amar o inverno);
"Estou em Santa Tereza, RJ. Sambinha, sem Roberto Carlos. Meu amigo volte logo..."
(do amigo carioca que conheci no bar porque ele estava sentado na minha frente no Balcão, e desde então ficamos amigos de verdade, uma dessas coisas incríveis que acontecem no verão e que a gente não acredita que vão durar até o inverno, e as conversas continuam existindomesmo sob 13 graus, e dessa vez ele foi esperto e foi pro Rio esse final de semana, até porque eu acho que todas as pessoas que tiram finais de semana para irem para o Rio tendem a ser bastante espertas);
"Oi amiga! Tô de bode. Amanhã acordo às cinco da manhã. Qualquer coisa liga. Beijão"
(da amiga de infância que, uma pena, começou a semana em um projeto em São Bernardo do Campo, o que a obriga a acordar às cinco da matina todos os dias essa semana);
"Lindona, estou indo pro Canto da Ema"
(da incansável e insaciável formiguinha atômica que pula loucamente de um canto pro outro sem nunca nem parar para pensar direito, e que acredita que a melhor forma de curar uma dor de amor e uma esparrela é se jogando na balada);
"Estou essa semana no retiro, linda. Beijo enorme!"
(do amigo vizinho que tirou férias e fugiu do mundo mas foi para dentro de si).

E eu?
Eu saí da inércia letárgica que me assolava, coloquei o pijama, fiz um leite quente com bastante Nescau, peguei um cobertor, meu maço de cigarros, e liguei o DVD.
O filme escolhido da noite foi Hable con Ella do Almodóvar, que veio na caixa com 4 Almodóvares que ganhei de Natal do meu irmão.

Da amostragem acima, podemos auferir que:
- 4 das 6 mulheres para quem essa mensagem foi enviada não me respondeu. Isso significa que 66,66% (dízima periódica) das mulheres para quem eu escrevi ignoraram solenemente meu apelo e meu pedido de socorro. (essas provavelmente não estarão na lista da minha próxima mensagem desesperada)
- 2 de 2 cariocas (100%) negaram o convite. Um porque estava no Rio, outro porque estava debaixo das cobertas. Entende-se portanto que cariocas não são boas companhias dominicais.
- 5 de 5 homens (100%, incluindo os 100% de cariocas) negaram o convite, por motivos variados. Ou seja, claramente conclui-se que aos domingos à noite os homens tendem a: ser mais preguiçosos do que as mulheres (2 de 5); não estar em Sâo Paulo (2 de 5); estudar (1 de 5).
- Mas também: apenas 2 de 6 (33,33%) do universo das mulheres responderam aos meus apelos. Ou seja, claramente conclui-se que aos domingos à noite 66,66% das mulheres tendem a estar fazendo coisas mais interessantes do que respondendo mensagens de texto pelo celular OU 66,66% das mulheres podem ser deveras relapsas com suas amigas.
- Considerando todos os dados acima, mesmo com a alta porcentagem de respostas (7 de 11, ou 63,63% ), consultei o universo errado de amigos para fazer algum programa dominical em um domingo gelado e garoento. Precisarei fazer melhor seleção na próxima vez.

7.7.09

Dez e Três

10: ida:
8 horas de vôo e uma host mother atrasada para ir me pegar, tanto que fomos de táxi. Trilha sonora do táxi: Four Non Blondes, What’s up?
03: ida:
overbooking, uma troca de companhia aérea, um atraso (em SP) de quatro horas, um vôo em Classe Executiva.

10: vizinho de vôo:
o menino da bochecha rosa que pediu para trocar de lugar comigo e que inclusive hoje é um dos meus grandes melhores amigos.
03: vizinha de vôo:
a perua que me chamou de vulgar porque eu estava viajando sozinha e mulheres que se prezem não viajam sozinhas.

10: uma roomate que eu não conhecia por um mês dividindo o mesmo quarto. Ficamos grandes amigas.
03: um roomate que eu conhecia de balada e só, que dividimos o mesmo quarto por uma semana. Ficamos amigos, mas não só isso. Em outras paradas, outros roomates, alguns que eu nem cheguei a conhecer, uma que era completamente louca, em Mendoza, uns brasileiros baladeiros que chegavam bêbados.

10: principal companheiro:
meu primo bem próximo.
03: principal companheira:
minha mochila vermelha que eu carregava nas costas como uma tartaruga que carrega sua casa. Assim como a minha máquina fotográfica e meu bloquinho de anotações de devaneios.

10: mico da vez:
sair pelas ruas cantando “Smelly cat”, referente ao gato da nossa host mother, esquecendo completamente que naquele lugar as pessoas falavam inglês e estavam entendendo tudo que a gente cantava, imitando a Phoebe.
03: mico da vez:
me arrumar para a balada usando amostras grátis do duty free do Buquebus entre Montevideo e Buenos Aires: creme para pentear da Redken no cabelo, perfume Givenchy, base, blush, batom, rímel, tudo Lancome ou Mac, de amostra grátis. Foi uma transformação e tanto, e os vendedores ficaram pê da vida que eu não levei nada no final.

10: amadorismo da vez:
não viajar de balão por Londres (oportunidade única na vida) com a minha prima que morava lá, porque eu espalhei para todo mundo da turma que eu estava indo e isso chegou na nossa professora, e ela nos proibiu porque o seguro de vida daquela viagem não cobria viagens de balão.
03: perda da vez:
não fazer vôo panorâmico por Buenos Aires (oportunidade única na vida) em um domingo frio e ensolarado, porque esqueci o Gmail aberto na hora errada.

10: um belo de um choro:
assistir ao Fantasma da Ópera no Her Majesty’s Theatre.
03: um belo de um choro:
ver neve pela primeira vez em Mendoza; ver neve cair pela primeira vez em Pucón.

10: um medo:
quando ficamos conhecidas na vizinhança, uns caras nos seguiam no trajeto de um km à noite entre o ponto de ônibus e a nossa casa.
03: um medo:
o pior vôo da minha vida, de uma hora, entre Mendoza e Santiago, atravessando a cordilheira na maior turbulência ever e sem nem ver direito que Santiago estava chegando e que estávamos descendo, de tanta névoa que tinha na cidade.

10: uma embriaguez:
patê de trufas piamontesas comprado em um restaurante de estrada entre Firenze e Roma, degustado aos delírios no quarto do hotel em plena última noite e arrumação de bagunça de mala.
03: uma embriaguez:
viver em quase constante e leve embriaguez de vinho, Quilmes, e Pisco todos os dias ao longo dos 27 dias.

10: um desafio gastronômico:
aprender a comer aquele feijão doce e vermelho e enlatado dos britânicos (tarefa mal-sucedida).
03: um desafio gastronômico:
aprender a voltar a comer peixe (tarefa bem-sucedida).

10: uma aventura:
disparar o alarme da ala egípcia do museu do Louvre.
03: uma aventura:
sair correndo e fugindo, mochila e tudo, mala e cuia, do albergue fantasma de Santiago que eu não gostei.

10: melhor compra:
uma mug que tem o Ursinho Pooh em relevo, linda.
03: melhor compra:
livros do Neruda originais do sebo.

10: uma refeição:
uma baguete na Champs Elysèes.
03: uma refeição:
uma ave recheada de brie e damasco em um restaurantezinho gourmet em Potrerillos (Pré-Cordilleta, Mendoza)

10: manifestação artística:
encenação única de Midnight Summer’s Dream nos jardins da Universidade de Oxford, por alunos da Universidade.
03: manifestação artística:
exposição única do Botero no Museo Nacional de Bellas Artes de Buenos Aires.

10: volta:
totalmente alinhada com o ano de piração no qual eu me encotrava no 2º colegial, descobrindo um mundo novo aqui no Brasil e no mundo afora. Consequência: estava preparada para o ano seguinte, de várias chapuletadas na cabeça, do qual eu consegui sair viva e muito melhor do que entrei.
03: volta:
um respiro e um olhar fora da caixa em um ano que eu estava afogada com as mediocridades corporativas que assolam as pessoas inertes das grandes corporações. Trouxe o mundo novo descoberto lá fora para o ambiente de ar parado, sem vento de mudança. Consequência: Uma hora não consegui mais tolerar esse ambiente e pedi para sair.

10: 1999, intercâmbio em Oxford, Inglaterra, e depois um passeio pelas Zoropa.
03: 2006, mochilão solitário por Argentina, Uruguai e Chile.
A cada viagem, uma mudança grande acontece.
Porque descobrir o mundo é, um pouco, ir me descobrindo aos poucos, em pedaços de mim que eu mal sabia que exitia.
Começo de julho é o aniversário dessas duas viagens, que me foram tão importantes, e principalmente a da Inglaterra, que me foi tão emblemática e que agora completa dez anos.

E eu mal vejo a hora de embarcar na próxima... fico contando os dias.

6.7.09

Eu me rendo

Pois é.
Não resisti.
Eu juro que tentei.
A Camilinha (comentário do post abaixo) já viu que eu não resisti.
Eu QUERO MUITO SABER o que acontece nesse mundo onde todo mundo vem seguir um ao outro, porque eu acabei de entrar no Twitter e já tenho 4 seguidores (o que para mim é tempo recorde, mas pelo que eu entendi nos meus cinco minutos de navegação no site 4 seguidores é uma coisa bizarra de pouca).
Bueno.
Estar no Twitter não significa a morte do blog - apenas quero ser uma observadora (não tão oculta) para entender como as coisas funcionam. Fora todas as pessoas da minha lista de email que já estão no Twitter, resolvi seguir, de famosos, a Rainha Rania e o Al Gore.
Vamos ver se esse troço é divertido mesmo.
Se for, eu começo a postar lá.
Se não, não.
(ainda prefiro meu blog, que embora mais demorado e difícil, ainda me permite um mínimo de devaneio quase literário para além dos 140 caracteres).

Como tudo que é muito rápido

Pois bem, vivemos em um mundo de velocidades cada vez mais rápidas, para muitas de nossas coisas.

E aí nesse mundo louco, quando um blog nem bem se situou e começou, já tem gente anunciando que os amadores preferirão os "status updates" do Facebook e os tweets do Twitter.

Está aqui, ó:
http://www.guardian.co.uk/technology/2009/jun/24/charles-arthur-blogging-twitter

... quando ele diz assim:
I see it: NetNewsWire, my RSS feed reader, has nearly 500 feeds. When one of them hasn't been updated for 60 days, it turns brown, like a plant dying for lack of water. More and more of the feeds I follow are turning brown. Why? Because blogging isn't easy. More precisely, other things are easier – and it's to easier things that people are turning. Facebook's success is built on the ease of doing everything in one place. (Search tools can't index it to see who's talking about what, which may be a benefit or a failing.) Twitter offers instant content and reaction. Writing a blog post is a lot harder than posting a status update, putting a funny link on someone's Wall, or tweeting. People are still reading blogs, and other content. But for the creation of amateur content, their heyday for the wider population has, I think, already passed. The short head of blogging thrives. Its long tail, though, has lapsed into desuetude.

Pode ser, de fato, que ele tenha razão e esteja constatando nos seus feeds alguma coisa que vire tendência para todos: optar pelo rápido e fácil, e deixar o blog morrer.

Paguemos para ver então, porque afinal é disso que a vida é feita. (de pessoas pagando para ver, e também, de coisas cada vez mais rápidas)

Só deixo aqui meu protesto, que eu ainda nem sei se entro ou não do Twitter, e mal uso meu Facebook, mas do blog eu não abro mão tão cedo. Não mesmo.

3.7.09

Noite dos Palhaços Mudos (de volta!)

Pois é. Eles voltaram.
Já fui ano passado, mas se bobear me empolgo e vou de novo esse ano, porque é simplesmente fantástico.
Virei entusiasta da peça e do La Mínima, porque em toda a simplicidade da peça está alguma coisa muito elaborada e maravilhosa.
Portanto fica aqui a dica para quem quiser rir até a barriga doer.

ps.: ano passado escrevi sobre eles aqui e ganhei até um comentário do Alvaro Assad, do LaMínima, que ainda em estampa meu gosto de poder ajudá-los na divulgação, mesmo que seja nesse meu bloguinho.