20.7.09

Amostragem: Domingo à noite

Cheguei em casa e os termômetros lá fora marcavam 12 graus com garoa.
Mergulhei na grande e quente gola do meu casacão, e me afundei no sofá, e lá permaneci.
Estática.
Mudando canais de TV.
Respirando pesado.
Quase fechando o olho.
Por muito tempo.

De repente, assolada por uma intensa aunque preguiçosa vontade de sair de casa, mensagei onzer amigos bem selecionados.
"O que vocês estão fazendo right now? Alguém topa programinha light dominical? Estou assistindo a Changer d'Interieurs na TV 5 Monde e não está divertido. Beijos"


Desses onze,
4 ficaram mudas (todas mulheres);
1 veio hoje avisar pelo msn que não conseguiu nem tirar os braços debaixo da coberta para responder a mensagem;
6 responderam:
"Estou fazendo TCC. Durante a semana rola nos encontrarmos"
(do amigo do peito que é namorado da amiga do peito que está de férias viajando, ele está terminando a mesma pós que eu fiz, e eu bem me lembro como era dura essa fase de TCC);
"Estou grudado na minha cama, esse frio me mata. Mas valeu por chamar. Beijos!"
(do amigo carioca que diz no discurso que um dos motivos que o fez vir para SP é amar o inverno);
"Estou em Santa Tereza, RJ. Sambinha, sem Roberto Carlos. Meu amigo volte logo..."
(do amigo carioca que conheci no bar porque ele estava sentado na minha frente no Balcão, e desde então ficamos amigos de verdade, uma dessas coisas incríveis que acontecem no verão e que a gente não acredita que vão durar até o inverno, e as conversas continuam existindomesmo sob 13 graus, e dessa vez ele foi esperto e foi pro Rio esse final de semana, até porque eu acho que todas as pessoas que tiram finais de semana para irem para o Rio tendem a ser bastante espertas);
"Oi amiga! Tô de bode. Amanhã acordo às cinco da manhã. Qualquer coisa liga. Beijão"
(da amiga de infância que, uma pena, começou a semana em um projeto em São Bernardo do Campo, o que a obriga a acordar às cinco da matina todos os dias essa semana);
"Lindona, estou indo pro Canto da Ema"
(da incansável e insaciável formiguinha atômica que pula loucamente de um canto pro outro sem nunca nem parar para pensar direito, e que acredita que a melhor forma de curar uma dor de amor e uma esparrela é se jogando na balada);
"Estou essa semana no retiro, linda. Beijo enorme!"
(do amigo vizinho que tirou férias e fugiu do mundo mas foi para dentro de si).

E eu?
Eu saí da inércia letárgica que me assolava, coloquei o pijama, fiz um leite quente com bastante Nescau, peguei um cobertor, meu maço de cigarros, e liguei o DVD.
O filme escolhido da noite foi Hable con Ella do Almodóvar, que veio na caixa com 4 Almodóvares que ganhei de Natal do meu irmão.

Da amostragem acima, podemos auferir que:
- 4 das 6 mulheres para quem essa mensagem foi enviada não me respondeu. Isso significa que 66,66% (dízima periódica) das mulheres para quem eu escrevi ignoraram solenemente meu apelo e meu pedido de socorro. (essas provavelmente não estarão na lista da minha próxima mensagem desesperada)
- 2 de 2 cariocas (100%) negaram o convite. Um porque estava no Rio, outro porque estava debaixo das cobertas. Entende-se portanto que cariocas não são boas companhias dominicais.
- 5 de 5 homens (100%, incluindo os 100% de cariocas) negaram o convite, por motivos variados. Ou seja, claramente conclui-se que aos domingos à noite os homens tendem a: ser mais preguiçosos do que as mulheres (2 de 5); não estar em Sâo Paulo (2 de 5); estudar (1 de 5).
- Mas também: apenas 2 de 6 (33,33%) do universo das mulheres responderam aos meus apelos. Ou seja, claramente conclui-se que aos domingos à noite 66,66% das mulheres tendem a estar fazendo coisas mais interessantes do que respondendo mensagens de texto pelo celular OU 66,66% das mulheres podem ser deveras relapsas com suas amigas.
- Considerando todos os dados acima, mesmo com a alta porcentagem de respostas (7 de 11, ou 63,63% ), consultei o universo errado de amigos para fazer algum programa dominical em um domingo gelado e garoento. Precisarei fazer melhor seleção na próxima vez.

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