24.11.08

Primavera

Das estações do ano, a minha preferida e a mais difícil de todas as estações.
Difícil por que?
Ora, porque é o começo do "clima natalino", desse limbo que eu não sei se me derreto com o clima lindo ou se chuto o balde e viro as costas pro mundo e fico amargando um whiskey enquanto todos confraternizam.
E porque eu sou matutadeira, então se exatos dois meses depois do meu aniversário vem o Natal e o Ano Novo, isso significa que vou me revisar duas vezes: no inferno astral e no final de ano. E ficar me revisando dá trabalho e demanda energia.
Também porque é final de ano na primavera... e todo final de ano a humanidade se auto-acomete de um mal de sempre acreditar no bug do milênio. Aparentemente ninguém acredita em vida inteligente no janeiro seguinte, porque quer terminar tudo antes disso, e encontrar com todos, e fazer tudo. Como se a cada novembro e dezembro fosse um novo fim dos tempos. Ninguém se lembra que janeiro começa tudo de novo, e continua todas as coisas que nunca pararam realmente.
A preferida por que?
Porque eu acho que é a estação do ano mais visivelmente bonita - das flores.
Porque eu acho que é a estação mais simbolicamente bonita - das coisas novas.
Porque embora eu relute contra isso, gosto do clima natalino.
Porque nasci nela - e gosto de fazer aniversário.

À poesia, as flores - há flores.




(fotos de autoria própria tiradas em 23/nov/2008 em Campos do Jordão)

17.11.08

A Lua

A Lua, quando ela roda
É Nova, Crescente ou Meia
A Lua, é Cheia!
E quando ela roda
Minguante e Meia
Depois é Lua novamente
Diz...
Quando ela roda
A Lua, quando ela roda
É Nova, Crescente ou Meia
A Lua, é Cheia!
E quando ela roda
Minguante e Meia
Depois é Lua novamente
Mente quem diz que a Lua é velha...
Mente quem diz!

"Minguante e meia"
Estou febril e filosófica hoje.
Nessa ordem - apenas para deixar bastante explícito que estar febril e essa alta temperatura por aqui acentuam minha capacidade do pensar divagante. Nunca confie em uma pessoa febril - ou confie nela em excesso.

"A lua, é cheia!"
Nesse final de semana ouvi a música acima, do MPB 4, e me lembrei daquela época nos idos de 2006 que a vida vagava entre o leve e o leviano. Quando era gostoso caminhar pelo retiro budista na noite de lua cheia cantando essa música entre amigos. Quando era tão fácil abraçar assim, de corpo e alma, a todos. Quando minha amiga me deu o presente que deveria me ajudar a abrir o meu "chakra do coração" - e de fato ajudou, porque alguns meses depois disso eu andava de mãos dadas. Daí, lembrei da noite em Buenos Aires, quando caminhávamos por Palermo, no começo tardio do janeiro de 2007, na noite de lua cheia. Eu cantava com meu irmão: "é cheia... e quando ela roda". Tínhamos comido Parmeggiana em um restaurante feito por porteños para porteños, faziam abafados 27 graus naquela noite, e a alça da minha blusa tinha arrebentado.

"Quando ela roda..."
Quinta passada, quando estava indo dormir, sozinha, no meu quarto de hotel em plena reunião de planejamento, achei na TV um desses canais de hotel que só tocam música. Estava tocando essa música. Lá fora, refletia na minha varanda o azul da lua cheia. No peito, bateu o quentinho do passado não tão distante mas aparentemente tão remoto.

"É nova"
Me lembrei - e me bateu uma súbita e inesperada e muito forte - saudades dos amigos que moram longe. Aos poucos no final de semana todos eles participaram, de um jeito ou de outro, dos meus sonhos (não os que a gente sonha acordado, os que a gente sonha dormindo mesmo). Hoje, e ainda assim, aos poucos, tento mandar alguma mensagem para eles, de alguma saudade que eu sinto.

"Crescente ou meia"
Quinta passada bateu aquela coisa de "o que eu faço com aquele eu que uma vez existiu e que não está mais aqui?". Não sei se sinto falta daquele "eu" por inteiro, talvez só de algumas partes, que fui deixando para trás conforme as circunstâncias da vida chegavam e saíam, conforme o tempo passava. "Mente quem diz que a lua é velha", mas todos deitados naquele solarium do retiro budista cantando em uníssono essa música para aquela lua que nos hipnotizava como ímãs não existe mais - mas está guardado por aqui.

"Minguante e meia"
O tal do "chakra do coração", no entanto, nunca esteve tão lacrado e fechado. Mesmo. Tudo bem que tenho estado ocupada com outras coisas - mas meus amigos reclamam da minha ausência, da minha rabugentisse, da minha falta de paciência. Minhas amigas reclamam porque sempre que elas me pedem algum conselho afetivo, eu respondo com uma pedrada - não tenho falado o que as pessoas gostariam de ouvir ultimamente.

"Mente quem diz"
Para o próximo feriado, meu lado racional me chama para Campos e meu lado emocional me chama para Floripa. Optei por Campos, indo contra absolutamente todos as opiniões que tenha ouvido a respeito disso na última semana - desde 3a passada, quando tive um surto: conheci o Yunus e ouvi, ao telefone: "tem lugar no meu quarto, vamos?". Inesperado aquele telefonema, e principalmente o teor do telefonema. Naquela mesma terça eu saí e fui comer sushi, porque tinha a nítida sensação de estar perto de algum tipo de surto. Fumei os cigarros argentinos que fiz um estoque desde que minha amiga foi para a Argentina agora em outubro. É estranho conhecer um Nobel da Paz, que de tão humano ele é, tem algo de desumano, de quase sobrenatural, de muito heróico. Na expressão dele, aquela serenidade. É estranho eliminar uma possibilidade de viagem e depois ela se voltar para mim assim, com formatos tão reais.

"Depois é lua novamente"
Não estou ficando antissocial. Mas tenho me protegido em excesso, é fato. Também acho que eu tenho engordado. Mas estou causando algumas boas reações inesperadas de algumas pessoas que me são absolutamente essenciais hoje em dia. Logo volto a fazer exercício físico, porque o corpo já reclama por todos os lados. Por hora, vou comer bolinho de chuva que a Cidoca me fez nesse café da tarde cheio de mimos da menina febril.

"Diz..."
Não sei se tem lógica, sentido, ou realidade, em qualquer uma das linhas acima. Conforme havia avisado no início, hoje estou febril. É fato, no entanto, que nesse frio-novembral-chuvoso-paulistano, eu comi o bolinho de chuva da Cidoca.

4.11.08

Impressionante

Ah, eu adoro a Grande Imprensa Brasileira.

Na capa da Folha de São Paulo de hoje, apenas dois temas: as eleições nos EUA e o nascimento do Megabanco. Temas exclusivos.
Eu até me esforcei para procurar outras notícias, pequenas que sejam, mas elas não estavam lá. Ademais desse tema, informações meteorógicas, sobre o rodízio municipal, e o índice da edição - itens default da capa da Folha.

Daí eu entro na Folha Online e de cara me deparo, de novo, com uma super importância dada às eleições nos EUA. Logo abaixo, a notícia que mais chama a atenção é "Ticiane Pinheiro briga com Luana Piovani". E a boa notícia do dia: "Receita do setor industrial (no Brasil) cresce 10,2% em setembro". Na capa da Folha Online de hoje, é verdade, eu ainda não encontrei nenhuma menção ao Megabanco.

Ah, eu adoro a Grande Imprensa Brasileira...

3.11.08

Nesse meio tempo

As coisas mudam rápido.
Amanhã vai fazer um mês que eu não posto aqui - e eu poderia claramente afirmar que é outro mundo, quiçá outra gente, por aqui.
Nas aulas da pós ano passado foi discutida a sensação de que o tempo passa cada vez mais rápido. Na verdade concluímos que o tempo só passa rápido porque, morando em uma grande cidade e tendo uma rotina corrida, somos bombardeados por informações e demandas que exigem nosso esforço e nossa concentração muito mais do que seria considerado "normal". Fizemos um teste: ora, o tempo no campo, em uma fazenda, na praia, não passa no que parece ser um ritmo normal? Pois é: o número de demandas nessa condição é consideravalmente menor.
Parece que a mesma coisa acontece com relação às mudanças para quem está nesse círculo dos globalizados hoje em dia. Elas acontecem de forma muito mais rápida, sem que no entanto eu saiba exatamente qual a real dimensão delas hoje e no futuro, e qual seria o real impacto hoje e no futuro.
Enfim, retrospectemos.

POLÍTICA
Aqui
Acabei meu 1o turno votando nulo e declarando a todos o porquê do meu nulo. Comecei meu 2o turno declarando meu voto a torto e a direita, com muito medo desse retrocesso em forma de partido político. Queria convencer as pessoas que elas fossem contra esse coronelismo barato reinante no DEM. Quando a candidata começou sua campanha nojenta e preconceituosa, justo ela, sexóloga, perguntando "é casado? Tem filhos?" vi aí um novo motivo para refletir sobre meu voto: estava voltando pro nulo. E fiquei assim, oscilante, anulada, entre o asco da campanha dela, e o repúdio ao retrocesso que é representado por ele. Domingo dia 26 eu decidi lá, eu e a urna, a urna e eu, se eu seria nula ou se eu penderia para o lado que eu penderia. Não sei afirmar que "a esperança venceu o medo", mas sei afirmar que o repúdio ao retrocesso foi maior do que o asco. Não adiantou, meu voto ficou na minoria, e o retrocesso foi oficialmente escolhido por 61% dos co-habitantes dessa cidade. Que lindo. Vivo em uma cidade de patéticos que preferem dar de bandeja a maior cidade do país a um partido que já estava em seu enterro (na cova ao lado da do ACM). Ressuscitaram o DEM/PFL/Arena, assim, sem mais nem menos.
No Rio, estava um pouco na cara que não daria Gabeira, mas bem que ele iluminou meu 2o turno, com a esperança de que um político íntegro e sem amarras chegasse a ser tão votado quando ele realmente foi. E foi um 2o turno apertadíssimo, o mascarado do Paes ganhou por pouco, e o grande vitorioso dessa eleição, além do próprio Gabeira, é o eleitor - que usou de sua força em prol de uma forte e ao mesmo tempo simbólica demonstração por mudança nesse cenário político brasileiro, que dialoga tão intimamente com a desesperança.
E 2010? Deixa 2o10 para lá, porque embora a grande imprensa adore colocar na nossa cabeça que uma coisa está atrelada com a outra, na verdade a gente sabe que eleições de prefeitura não influenciam diretamente eleições de presidência - até porque, com a crise que aos poucos dá sua cara, demosntrando sua feição cada vez mais devastadora, tudo em qualquer contexto em qualquer cenário fica, na verdade, bastante imprevisível.

Amanhã começam oficialmente e terminam definitivamente as eleições que estão "pipocando em soft opening" desde semana passada. Pesquisas fazem previsões extremamente irregulares, muitas dando vitória ao simpático candidato negro, e embora o resto do mundo, se votasse, já teria eleito o Obama, não dá para confiar nisso tudo não. Dizem os analistas de política mais conscientes que eleger McCain/Palin é fazer papel de palhaço perante o mundo. Eu hei de concordar - mas não hei de duvidar que o eleitorado americano seja capaz de uma coisa dessas. Imprevisibilidade tem sido o mote de várias das últimas eleições americanas, e o sistema de colegiado deles dá ainda mais espaço para isso. Torço sim, com toda a minha força pro Obama - mas quem viver, verá - e eu só acredito vendo.

ESPORTE
Pois é. Quando começou o returno desse Brasileirão, meu Tricolor estava em 5o lugar na tabela. Agora ele é líder, e cada rodada é decisiva a favor ou contra isso se manter. Mas o Juca Kfouri é meu melhor oráculo futebolístico, e há algum tempo já ele vem anunciando que o campeão desse ano provavelmente tem o uniforme preto, branco, e vermelho. Lotar o Morumbi se torna essencial nessas circunstâncias - e aí eu não consegui meu ingresso para domingão, e tive que assistir o jogo do bar, conhecendo outros são-paulinos frustrados sem seus ingressos. Tudo bem, porque ano que vem viro Sócia Torcedora, pago metade do preço pelo ingresso, pego fila especial, tenho ingresso garantido, e ganho camiseta oficial.
Na F1, tudo mudou em um segundo, uma ultrapassagem, a 100m do final da corrida. Sim, as mudanças do mundo estão assim: na velocidade de um carro de F1.

CRISE
Aqui e lá
Diz o meu chefe: não existe crise para quem transcende.
E, acima da minha tensão com as minhas ações no homebroker, acima do meu reveillon que foi-se embora crise abaixo, acima da ansiedade gerada por uma mudança sem cara e sem previsão, a idéia é transcender nas idéias e nas atitudes e na inovação e nos desafios o que aparece como essa nuvem negra. Para além das notícias de insônia, dos prejuízos espetaculares, do número surreal de desempregados que só tende a aumentar, quem vê realmente além acha, disfarçada pelo medo, a oportunidade.
Boa sorte aos de boa visão é o que eu desejo.
Só aqui
Não sei se o Unibanco estava quebrando, mas de fato tudo leva a crer que essa "fusão" com cara de aquisição é bastante assustadora. Os grandes bancos privados de varejo no Brasil hoje em dia são três, Bradesco, Itaú+Unibanco, Real+Santander. O mercado se concentra, e as opções, assim como a concorrência, diminuem. Não sei fazer uma análise muito afiada dessa estranha "fusão" sem que leia melhor as opiniões sobre o causo - mas posso adiantar que, pro consumidor, será muito pior. E que o contexto no qual essa fusão surge é de levantar todas as suspeitas do mundo sobre a tal "fusão". Tudo indica que os Moreira Salles foram, na verdade, engolidos sem dó pelos Setúbal - informação que nunca a grande imprensa confirmará.

SUPERSTAR
Pois é. Meu dia de ser uma superstar chegou.
Já peguei a toalha suada do Xororó no show dele com o Chitão, no prêmio "pecuária sustentável" (disse meu irmão, sóbrio e certeiro, que isso é uma contradição em termos: pecuária e sustentabilidade não co-existem na mesa frase nunca).
Já representei minha chefe na premiação de uma grande revista de decoração - e devo aparecer na próxima edição da revista em várias fotos ao lado dos vencedores e do editor-chefe da revista.
Vou conhecer o Nobel da Paz Mr. Yunus - aqui, alive, e na minha frente.
E serei apresentadora de um programa sobre SP gravado por uma grande rede de TV internacional.
A conquista do mundo chega quando mesmo?

UM A MAIS
Quando começou esse ano, fiz planos e estipulei metas para coisas que eu gostaria de alcançar (pessoais e profissionais) entre os 25 e os 35. Na minha véspera de fazer 26, entrei em crise de desespero de falta de cumprimento de metas. Daí resolvi jogar todas elas - as metas - pro alto. E foi lindo. Quando metas viram planos, elas ficam mais gostosas - e os 26 anos não pesam tanto nas costas.
Ao mesmo tempo que joguei as metas pro alto, mudei o visu: cortei as madeixas, curtas, mudernas, repicadas, e fiquei um pouco loira, um pouco ruiva, um pouco morena como sempre. Essa mudança de visual, por incrível que pareça, foi uma das coisas mais relevantes do meu dia de aniversário.
Outra coisa: dessa vez não encarnei nenhum personagem: não fui o bêbado bobo da corte do meu próprio aniversário, como que rindo escancaradamente da minha própria tragédia - exatamente como ocorreu ano passado, naquele riso escandaloso e incrivelmente alegre que ecoava pela varanda pequena e lotada. Foi um aniversário menor em tudo, mas menor não de "mais pequeno", e sim de alguma coisa sem excessos.
O mais louco é isso: a pessoa que estou me tornando é exatamente mais humana e menos excessiva do que a pessoa que eu já fui.
Totalmente coerente.

ALGUNS A MENOS
Enquanto o coração vazio permanece, minha vida de outras coisas se enche. E, se eu pego como exemplo minhas amigas que estão com "hómis", vejo que eu não daria conta da metade de tudo isso se eu tivesse um hómi também, e se esse hómi fosse sinônimo de angustia, ansiedade, aflições, isso seria ainda pior.
(Isso tem sido comum para as pessoas que me cercam: infelizmente, todas as minhas amigas que se dizem felizes na vida afetiva, em maior ou menor grau apresentam algum tipo de angústia, de stress. Não sei se são os homens que não estão dando das demandas delas, ou se elas que não estão dando conta de um relacionamento com um pouco menos de demandas.)
Vou conhecer o Sr. Nobel daqui há pouco e já volto - prefiro ficar quieta no meu canto até que nesse canto caibam dois de novo, porque por ora eu sozinha tenho ocupado bastante espaço.
E aí, sei lá quando isso vai ser - conforme a gente apanha, fica gato escaldado, fica coração de pedra, fica mais difícil de se encolher para caber mais um ao lado.

WORK HARD, PARTY HARDER
Em compensação, reinaugurei o perído de muita diversão - seja lá o que isso signifique.
Mesmo que seja só deitar ao sol no Ibirapuera lendo meu Diplô e depois comer creme de abacate. Ou então, que seja me jogar na pista duas noites seguidas, e ficar um pó na 2a. O ponto é que foi reinaugurado o período de muita diversão, ou seja, o "portal da rabugentisse" se fechou ou está se fechando.

DO LADO ESQUERDO DO PEITO
A sensação que eu tenho é que os realmente relevantes permanecem - mesmo que por um tempo eles sumam, mesmo que essa coisa humana de não ficar feliz com a atitude de alguém aconteça, mesmo que problemas de rotina e de tempo impeçam que a gente se encontre, mesmo que quando eu fico chateada com alguém eu tenda a evitar essa pessoa, mesmo que tenha namorado(a) novo(a) no pedaço que impeça que a gente se veja com tamanha frequência, mesmo que tenha algumas horas de vôo nos separando.
O ponto é que os realmente relevantes permanecem.
Então eu rogo: que cada um cuide de fato da sua relevância, e que não se deixe ser levado pela mediocridade - porque para a mediocridade eu não tenho muita tolerância, principalmente quando uma pessoa que não é medíocre se torna medíocre.