21.7.08

Metendo o dedo na ferida

OU: Refletindo sobre um assunto espinhudo

Li no blog de outra menina que ela viajou, fez tatoo na viagem, pediu demissão do trabalho. E descobri sexta que ela tinha terminado o namoro antes de fazer tudo isso.

E descobri que tudo isso aconteceu comigo também, não necessariamente na mesma ordem que a dela, mas mais ou menos assim:
- término do namoro;
- mergulho desesperado em viagens bacanas todos os feriados possíveis (Floripa, Paraty, Rio);
- duas novas tatuagens;
- demissão do trabalho.
Fora isso, eu:
- mudei o corte do cabelo e resolvi deixar o cabelo crescer inteiro repicado;
- comecei a yoga;
- comecei a dança.
(essa parte é a hora que eu resolvo formar uma rede de atividades que tenham a ver comigo mesma, com meu fortalecimento e crescimento, para tentar passar por tudo isso o mais ilesa possível. Óbvio que nosso grupo de amigos nessa hora é imprescindível, mas nas nossas viagens solitárias - e se propor tantas mudanças assim é uma enorme viagem solitária - bom mesmo é tentar ao máximo estar bem com a gente mesmo, meio que tentando se bastar, meio que tentando ser maior. Por isso essa rede de atividades bacanas me foi tão importante: ao mesmo tempo que eu estava mudando milhares de coisas como que em um tsunami devastador, eu estava também me descobrindo de um jeito diferente em outras coisas, sem nunca imaginar por exemplo que eu poderia fazer determinadas posições da yoga por tanto tempo e tão concentrada.)

E é engraçado isso, porque eu fui percebendo que me propus desafios atrás de desafios, meio que querendo mudar de vida, meio que querendo crescer de outras formas, meio que querendo me colocar à prova, testar minha resistência física, emocional e psíquica, meio que querendo testar a real força do meu instinto de sobrevivência. Também testei bastante a resistência do meu fígado e dos meus pulmões, mas não sei se isso vem ao caso agora. E no meio de tantos testes de resistência, por muitas vezes pedi arrêgo, pedi água, pedi que me levassem pro manicômio, pedi que me deixassem dormir mais e me atrasar.

E não quis fazer nada em partes, veio tudo de uma vez, em um intervalo de três meses no final do ano passado. Na hora, no calor do momento, às vezes batia um desespero, porque eu realmente achava que talvez não sobrevivesse a tudo aquilo.

A sensação que fica é que minha atitude tem "eco". Eu não sou a única que, por vontade própria, ou por forças maiores atuando aqui (aquela velha história que coincidências não existem, Cazuza já disse: "a emoção acabou / que coincidência é o amor! / a nossa música nunca mais tocou"), comprou mais briga de uma vez só do que a priori achava que iria aguentar. E no final, a gente aguenta, sobrevive, passa por cima, vai tratorzinho, supera, até a uva passa (nesses momentos de olho do furacão, a gente nunca acredita que até a uva passa, mas é verdade, ela passa).

E eu fico achando esse mecanismo das pessoas (meu, da menina do blog, de sei lá mais quem que possa ter passado por isso) bem louco. Parece que algum dia o indivíduo levanta da cama com uma idéia incessante: "minha vida está um tédio, vamos movimentar tudo um pouquinho".

Não quero passar por leviana, e fazer da maior revolução da minha vida até hoje uma luta contra o tédio. Muito pelo contrário. Hoje fica a sensação que eu TINHA que passar por tudo aquilo, simplesmente pelo amadurecimento e por lutar pelas minhas coisas.

Olho para trás e vejo tudo com muito mais serenidade. Vejo o quanto eu aprendi e quanto eu vivi. Hoje por exemplo eu sei que quando tudo acontecer ao mesmo tempo agora desenfreadamente, eu sobreviverei. Sei também que ninguém a não ser eu mesma vai lutar pelas minhas coisas. Sei da força que a gente guarda e que sabe bem como usar nesses momentos de eterna urgência e até, de um certo desespero.

Quem me viu, quem me vê.

As espinhas do rosto deram uma bela duma aliviada, assim como os kilos a mais. O cabelo está crescendo bacanudo e as tatuagens continuam lindas. O semblante está tranquilo. Não tenho mais aquele rosto com medo do futuro e das dúvidas. É quase uma expressão de quem sabe sempre o que faz (embora isso não seja exatamente aplícável a 100% das coisas da minha, mas, oh!, aprendi que no erro também residem maravilhas ocultas). A questão financeira anda bem complicada e tirando o meu sono, mas não deixa de ser um ótimo aprendizado para quem nunca tinha aprendido antes a controlar o dinheiro direitinho. A questão "trabalhista" anda legal, com mil novas oportunidades de aprendizado, de trabalhos, de pesquisas, de administração de egos acadêmicos, entra outras tantas coisas. E voltei a dialogar amigavelmente, afetivamente, carinhosamente, com o ex-namorado, mesmo que à distância.

A ele, aliás, eu agradeço particularmente bastante por sua inquestionável importância. Mesmo quando não estávamos mais juntos, ele esteve do meu lado acompanhando todas essas mudanças. E quando ainda estávamos juntos, foi ao lado dele que eu fui abrindo os olhos para milhares de coisas que eu via de maneira meio nebulosa.

Precisei que passassem mais de seis meses de tudo isso para conseguir enxergar melhor tudo que me aconteceu. Para conseguir pensar sobre isso com verdadeiros bons olhos. Para olhar para trás sem rancores nem medos do futuro. Hoje eu refleti sobre um assunto espinhudo, mas como se em um passe de mágica a espinha se transformasse em uma rosa - sem espinhos! Meti o dedo na ferida. Mas ela não está mais aberta, não sangra, não arde, não machuca. É só uma casquinha que logo logo cai, e quando cair, a pele novinha de baixo vai aparecer.

Um comentário:

Fernanda Bello disse...

Você encara tudo, de bom e de ruim, na sua vida de uma forma linda linda linda.
Mas ando achando que são tempos de mudanças.
Sei lá porque.
Espero que só tenha boas novas daqui em diante.
Beijos!