29.7.08

Compartilhando a Cumplicidade do Silêncio

É engraçado isso, mas a partir de algumas situações pelas quais vivi, eu desenvolvi uma teoria bem simples.
Segundo essa teoria, a gente descobre que é realmente íntimo de alguém quando consegue ficar em silêncio na companhia dessa pessoa sem que isso signifique nenhum tipo de incômodo ou angústia para nenhuma das partes.

Minha teoria não é empírica e nem passou por testes para concluirmos alguma coisa sobre a real veracidade e aplicabilidade dela, mas é fato que, entre as pessoas com quem dividi essa idéia, a aceitação da teoria foi unânime (às vezes penso que posso ter questionado somente às pessoas que têm alguma característica próxima da loucura, similar à minha loucura particular).

Na verdade o ponto é que duas pessoas, quando estão juntas, normalmente não ficam quietas. E ficam falando, falando, falando, incessantemente, mesmo que não tenham mais o que falar. Elas simplesmente inventam assuntos, papos, causos, e preenchem o tempo com isso.
Porque nesses casos o silêncio entre essas pessoas traz sempre uma série de dúvidas:
. No que você está pensando agora?
. Você ficou quieto por que por acaso está bravo comigo?
. O que em seus pensamentos é nesse exato instante mais interessante do que dividir idéias comigo?

O ponto principal é que quando a real intimidade existe, o silêncio não incomoda, o silêncio não soa ameaçador (o silêncio ameaçador, inclusive, faz muito mais barulho do que 10 mil decibéis em algum festival de verão europeu). Muito pelo contrário, o silêncio conforta. Ele não tem nada de antipático nem de anti-social. Um interlocutor não está bravo com o outro simplesmente porque optou por vagar em suas idéias e somente nelas.

O silêncio compartilhado é na verdade o ponto alto da cumplicidade.
. Eu não preciso estar sozinho para mergulhar em meus pensamentos.
. Eu aceito a sua companhia nesse meu momento tão interno.
. E eu gosto da idéia que você também esteja imerso em seus pensamentos enquanto eu estou nos meus.

Essa para mim é a mais alta intimidade: quando é possível para duas pessoas que elas conversem e silenciem com a mesma naturalidade e facilidade. Nas vezes em que vivi isso, percebi que isso é atingido após muita convivência, ou após uma identificação fácil e forte e rápida.
Sabe aquela história que podemos contar nossos amigos de verdade com os dedos de uma mão só? Eu talvez discorde dessa idéia, porque sempre que penso nos meus amigos de verdade isso normalmente dá mais. Mas para além das amizades verdadeiras, existe a intimidade verdadeira. E as pessoas com quem eu divido o silêncio em total conforto são pouquíssimas e raras.

Exemplares únicos.

Óbvio que para as pessoas que discordam da minha teoria, todos os parágrafos acima são a mais linda baboseira já testemunhada pelo universo...
Já para as pessoas que concordaram com a minha teoria, a metade de mim que acredita na magia do mundo vai um pouco mais longe.
Ela acredita que os pensamentos dialogam no silêncio, por isso que o silêncio compartilhado significa tamanha intimidade absurda – ele nada mais é do que um diálogo entre pensamentos.

2 comentários:

Fernanda Bello disse...

Eu seeeempre acreditei nessa teoria. E vou além, o silêncio mostra uma cumplicidade confortável quando sabemos que aquela pessoa ali, apesar de quieta, não está nos julgando, nos avaliando. É aí que está a maior intimidade/cumplicidade, reside num tipo de confiança no outro. Adorei. Bjo.

Denis disse...

Parabéns pelo texto. Não tenho críticas... vou tentar apenas adicionar algo: "Podemos ser íntimos de quem nunca vimos, e ser cumplices de nossos inimigos"