19.5.09

Vergonha alheia (cont.)

R.F., 29 anos e uma lua, mulher, paulistana.*

"Sabe como é, né? Estou com quase trinta anos. Começa a bater o desespero. Mulher tem a complicação do relógio hormonal, né?" (acende um cigarro, tem os braços inteiros tatuados, nariz e sombrancelhas de piercing, cabelo liso e bem curtinho e bem vermelho, mas o style muderrrna rock'n'roll, aos sábados gosta de ir na Inferno, na Augusta) "Chega uma hora, você sabe, né?, que a gente quer parar com a vida louca. Não aguento mais fumar e beber e sair de balada. A gente vai ficando velho, né? Meu último namorado, aquele barbudo maravilhoso, forte, peludo inteiramente, grandão em tudo, me trocou pela vocalista da banda de punk hard core deles - que é minha melhor amiga." (acende outro cigarro e eu percebo que seus dentes são deveras amarelos) "A vida é assim. Um domingo a tarde eu estava trepando loucamente com o meu ex namorado barbudo, né? No outro domingo, coloquei uma roupa careta para aproveitar essa tarde de sol nessa passeata maravilhosa no Ibira. Até já comecei a gostar dessas marchinhas desses caras da Bola Preta aí. Né que preciso estar sempre de acordo com as fases da vida, e agora sou uma quase-trintona-futura-mãe. Que surja logo meu marido!"

K.W.Y., 17 anos, gênio precoce de origem coreana que foi aprovado em primeiro lugar na Medicina da USP ano passado, morava em Roraima antes de se mudar para cá.*

"Então" (vai para longe e volta em pensamento, demora para continuar a falar, e só fala gaguejando) "Cheguei aqui e estou muito sozinho" (vai para longe e volta em pensamento, demora para continuar a falar, e só fala gaguejando) "Queria uma companheira" (vai para longe e volta em pensamento, demora para continuar a falar, e só fala gaguejando) "Uma mulher que não se importasse em cuidar da casa e dos nossos filhos, como minha mãe faz para o meu pai lá em Boa Vista" (vai para longe e volta em pensamento, demora para continuar a falar, e só fala gaguejando) "Vida de médico não é fácil" (vai para longe e volta em pensamento, demora para continuar a falar, e só fala gaguejando) "Nossa vida de casal não será fácil" (vai para longe e volta em pensamento, demora para continuar a falar, e só fala gaguejando) "Mas eu quero, quero muito, a mulher da minha vida" (vai para longe e volta em pensamento, demora para continuar a falar, e só fala gaguejando) "Meu avô fala que eu devo ir para a Coréia e voltar de lá com uma namorada" (vai para longe e volta em pensamento, demora para continuar a falar, e só fala gaguejando) "Mas eu queria uma brasileira genuína" (vai para longe e volta em pensamento, demora para continuar a falar, e só fala gaguejando) "Morena, que samba muito, cabelos cacheados e compridos" (vai para longe e volta em pensamento, demora para continuar a falar, e só fala gaguejando) "Quero uma gostosa do meu lado" (vai para longe e volta em pensamento, demora para continuar a falar, e só fala gaguejando) "Peituda e bunduda" (vai para longe e volta em pensamento, demora para continuar a falar, e só fala gaguejando) "Não precisa ser muito inteligente" (vai para longe e volta em pensamento, demora para continuar a falar, e só fala gaguejando) "Só precisa ser uma boa mulher de casa" (vai para longe e volta em pensamento, demora para continuar a falar, e só fala gaguejando) "Porque de inteligente na casa já vai bastar eu mesmo" (Passa por nós uma morena bonita, alta, lábios carnudos, cabelo cacheado e comprido, peituda e bunduda) "Obrigada pela entrevista" (vai para longe e volta em pensamento, demora para continuar a falar, e só fala gaguejando) "Foi legal você me ouvir abrindo o coração"

L.T., 57 anos, charmoso e divorciado, RayBan tradicional no rosto, boné de couro na cabeça, barba grisalha quase branca por fazer.*

(toma um gole do whiskey "cowboy" que está na garrafinha portátil que ele carrega com orgulho) "Vim aqui porque quero conhecer as carentes, solteiras e bonitas" (mais um gole) "Alguém de não mais do que 25 anos, porque além de minha namorada precisa ser amiga da minha filha" (outro gole) "Não sei na verdade se quero uma amiga para a minha filha, isso poderia ser namoro sério, e eu não quero namoro sério" (um gole meio violento) "Sabe o que? Quero uma loira gostosa para traçar e jogar fora depois. E só. Tá bom, né?"

M.P., 22 anos, shorts curto com bota de platarforma e cano alto, e regata decotada no frio de fim de tarde de quinze graus, cabelo loiro comprido com escova japonesa E chapinha preso em um rabo de cavalo.*

"Todo mundo fala e é verdade" (masca chiclete freneticamente) "Sou piriguete mesmo. Mas quero sair dessa vida. Cansei, sabe? Beijar 9 ou 10 caras por noite é muito fácil" (solta o rabo de cavalo, pega uma ponta do cabelo, e fica mexendo. Continua mascando chiclete) "Sabe o que eu quero mesmo? Beijar só um por 9 ou 10 noites. Esse sim seria meu grande desafio" (a amiga chega, as duas se cumprimentam freneticamente, aaaiiiiiii amiiiiiigaaaaaaa. As duas se parecem absolutamente idênticas. Devem usar o mesmo tamanho de jeans e de sapato e de blusa. Se bobear, devem trocar sutiãs para as diversas ocasiões) "Acho que o cara que eu alguentar beijar por nove ou dez noites deve ser o homem da minha vida, o pai dos meus filhos. Quero ter família, sabe? Colocar criança no mundo." (pergunto sobre as qualidades que ela admira em um homem) "Tem que gostar de balada e saber viver bem, frequentar bons restaurantes. Prefiro algum que tenha boa formação, trabalhe em banco, ou seja adevogado. A gente precisa pensar no futuro da família e dos filhos, né? Ah, e gosto de homem que se vista com Osklen, viu? Isso é importante!" (pergunto sobre a formação dela) "Fiz fisioterapia. Sabe como é, difícil arranjar emprego. E faculdade com muita mulher, né? Por isso que virei piriguete e quero um homem para sustentar a casa - parece que no final das contas as mulheres são educadas para serem assim hoje em dia..." (a outra amiga cansa de esperar para a entrevista, puxa M.P. pelo braço, que sai toda saltitante e falando:) "Tchauzinho! Valeu aí pela entrevista! Hoje eu quero é beijar móóóóóóóóóóiiiito!!"

*Entrevistas fictícias concedidas voluntariamente e que poderiam muito bem ser reais sobre as pessoas que frequentaram a passeata dos que não namoram no domingo aqui em SP no Parque do Ibirapuera.

3 comentários:

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