29.5.09

I love Susan Boyle

E MAIS: EU TENHO MEDO DA MAÍSA

Da Susan
Pois é. Ela veio do interior da Irlanda, no meio daquela pobreza toda, e conquistou o mundo com sua simplicidade que se confunde com sua ingenuidade, além de toda aquela voz maravilhosa que emociona de verdade.
Veio de um passado triste, uma vida triste, cheia de coisas dessas que a gente passa mas que não deseja para ninguém, e simplesmente conquistou o mundo.
Mas afinal, o que na Susan conquistou o mundo?
Com certeza suas cantorias hipnóticas, que nos deixam embasbacados, têm bastante relação com isso.
Já disse meu querido amigo e amor Contardo Calligaris, quando da primeira performance da Susan:
"Susan Boyle entrou no palco como uma espécie de anticlímax; ela era tudo o que não se espera de uma aspirante a estrela: quase 48 anos, solteirona, desempregada, vestida (disse um amigo estilista) como a rainha Elizabeth se ela fosse pobre, "gordinha" e "feinha". Os diminutivos indicam que sua aparência não era extraordinária nem negativamente, mas a tornava transparente: aquela figura papel de parede, de quem ninguém se lembra se ela estava na festa ou não.
Para completar, respondendo às perguntas de Simon Cowell (que preside o júri), ela pareceu quase tola e um tanto vulgar, balançando os quadris para dar mostra de sua juventude de espírito.Quando Susan Boyle anunciou que seu sonho era ser cantora como Elaine Page (a inesquecível Grizabella de "Cats", em Londres, em 1981), o júri e a plateia não esconderam seu desdém.
Aí Susan Boyle começou a cantar. A performance foi propriamente incrível; por um instante, pensei que Boyle estivesse apenas mexendo os lábios enquanto tocava uma gravação: uma voz forte, limpa, segura e expressiva, fiel às emoções que se alternam ao longo das letras.
Também a música que Susan Boyle escolheu (letras de Alain Boublil) contribuiu para transformar sua performance numa espécie de exemplo moral: fala de um sonho antigo, sonhado quando "a esperança falava alto e a vida valia a pena", na época em que "os sonhos são criados, usados e desperdiçados"; mas há "tempestades" que "transformam nossos sonhos em vergonha", e, no fim, em regra, a vida massacra os sonhos que sonhamos. Então, qual é a moral da performance?
Para Coutinho, a moral é que, na vida, não basta se esforçar: é preciso ter sorte. Entendo assim: Susan, até aqui, não teve sorte, a gente se comove porque é tarde demais ou porque, enfim, o destino a encontrou em sua aldeia perdida.
Para mim, a moral é outra. Não sei se Susan teve sorte ou não. Cuidar longamente da mãe doente e cantar com os amigos no karaokê da vila é uma vida que pode valer a pena, talvez mais do que uma vida nas luzes da ribalta. O que me comoveu tem mais a ver com a coragem e a resistência de seu sonho.
Os entrevistadores da CBS perguntaram a Susan Boyle como ela conseguiu se concentrar e cantar, embora percebesse que o júri e a plateia não a levavam a sério e já estavam antecipando a zombaria. Ela respondeu, com simplicidade: "É a gente que tem de se levar à sério"."
E tudo isso, antes de Susan levar um banho de loja, ficar um pouquinho melhor na aparência, conquistar meio mundo, e continuar fazendo suas performances maravilhosas. Antes de anunciarem que farão um filme da vida da Susan, no qual a Catherine Zeta-Jones disse que quer fazer o papel principal. Antes de ela ser essa celebridade instantânea e tão simpática e querida por todos.
Ontem eu ouvi no rádio que, agora que ela está na final, tem chorado todos os dias e está com medo de enfrentar as pessoas, com medo de desistir. Tomara que não...
Mesmo que ela não seja a campeã do Britain's got Talent, seria maravilhoso ver ela na final. Porque já que ela chegou tão longe, essa não é a hora de desistir.
(no final das contas a Susan é um pouco cada um de nós e as oscilações que nós temos quando queremos ir em frente com um sonho ou não - e ela está simplesmente indo em frente, e quando assistimos a isso, gostaríamos de fazer como ela como os nossos próprios sonhos, e aí seria demasiadamente desapontador ela desistir no épica)
Então amanhã à noite, não estarei no sofá de casa assistindo, mas definitivamente estarei torcendo por dentro um "Go Susan!" bem forte...

Da Maísa
Provavelmente nem Guy Debord em sua Sociedade do Espetáculo previu que o absurdo da espetacularização da vida humana culminasse nessa aberração chamada Maísa.
Menina pequena, cara de anjo, vinda de família simples do interior e blablabla, é simplesmente o absurdo dos absurdos do mundo televisivo.
Criada, obviamente, pelo maior gênio inescrupuloso da televisão brasileira, Sr. Silvio Santos, self-made man da melhor forma, no melhor molde, e criador de coisas que extrapolam alguns limites humanos de bom senso (ok, ok, esses eu sei que são cada vez menos comuns a todos, cada um cria seu próprio bom senso hoje em dia), Maísa tem audiência.
As pessoas GOSTAM de assistir àquela criancinha se submetendo a tudo isso. Os pais MANDAM a Maísa continuar trabalhando (por motivos óbvios: 20 pilas a mais por mês no orçamento familiar - vindos de origem simples, os caras nem precisam mais trabalhar enquanto a filhinha deles for uma estrela da TV!).
É por isso que a Maísa está aí... porque as pessoas são coniventes com isso, acham engraçado, assistem. Porque o Silvio Santos não tem escrúpulos. E porque os pais dessa menina não têm a menor noção de nada no mundo.
Revoltante, nojento, e assustador.
E sim, eu assisto ao CQC, adoro, morro de dar risada com a "Pequena Petiz", sempre presente no Top Five da Televisão Brasileira. Mas o que eles fazem lá, além de rir da desgraça alheia, é expor ao absurdo o que é tudo isso. Essa indústria que leva uma menina de seis anos em se tornar uma verdadeira monstrinha.
Com certeza o próximo passo vai ser fazer um Big Brother com 22 bebês de 7 meses. Será eliminado quem chorar ou quem não souber trocar a própria fralda.

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