18.1.09

Rocket Man

ANTES
Caiu forte a chuva ontem aqui.
Mas não desanimou esse triozinho constituído por mim e por meus pais.
Minha mãe se encontrava em uma espécie inédita de êxtase e ansiedade adolescente, medo do desconhecido, vontade de ver o ídolo. Se comportava como umas menina de 15 anos. Fazia perguntas bobas: "Filha, com que roupa eu vou?", "Filha, estou com medo de te perder na multidão". Naquela ocasião de ontem, eu fazia o papel de mãe de duas crianças amendrotadas descobrindo um novo mundo onde pessoas ficam de pé 4 horas, pegam fila, passam por empurras-empurras, tomam chuva, para ver o ídolo. A gente tinha que andar sempre de mãos dadas.

SHOW DE ABERTURA
James Blunt, a unanimidade planetária conhecida como "o chatinho do pianinho", ele e seu ar de mauricinho mimado e carente, superou minhas expectativas. Antes mesmo que eu me controlasse, estava lá cantando os seus agudos, cantando "You're beautiful", "Three Wise Men", "1973". Canções mela-cueca sem sentido em absoluto, e chatas por princípio, trilhas sonoras de novelas tediosas, top-ten hits da Alpha FM e da Atena 1 FM, mas que foram um bom esquenta.

INTERVALO
Até que depois de sermos xingados por muita gente (não consegui conter minha mãe-adolescente que muitas vezes ultrapassava os limites do bom senso em um show de multidão e de pista), chegamos a um lugarzinho naquele Anhembi que era quase um oásis. Não porque ele tinha qualquer coisa de diferente das pistas de shows desse tipo. Mas porque estávamos, e isso é sério, cercados por pessoas MUITO legais e que interagiram com a gente o tempo todo no show. Formamos quase que uma turma de velhos amigos que vai em bando para shows.

Atrás de nós, uma família de um casal cinquentão e uma mãe (irmã da esposa do casal) com sua filha da minha idade; de um lado, dois casais gays lá pelos seus 30 anos, por quem minha mãe se apaixonou - eles viraram os xodózinhos dela ao longo do show. Do outro, um casal de héteros fofos e simpáticos e bem educados. Lá perto também, reencontrei uma amiga de Brasília que tinha vindo para São Paulo com o namorado só para o show e que tinha perdido contato com ela desde 2005. Na nossa frente, um grupo de 7 caras que eram amigos de infância e tinham uma banda cover do Elton John quando pequenos - eles sabiam TODAS as músicas de cor e viraram meus amigões do peito.

O SHOW
Britanicamente às 22hrs, Sir Elton subiu ao palco. Ele, seu paletó com motivos tropicais (!!!), e seu piano de cauda.

Em "Tiny Dancer" e "Daniel", "Sacrifice", "Rocket Man", o que estava rolando era um "esquenta" pro que viria. A pausa, com Elton sozinho no piano em "Candle in the wind" e "Sorry seems to be the hardest word", aumentou o coro de todo mundo que lá estava. E aí a festa reinou absoluta, com "Sad songs (say so much)", "I Guess that's why they call it the blues", "Benny and the Jets", "Philadelphia Freedom", "I’m Still Standing", "Crocodile Rock" e "Saturday Night’s All Right for Fighting". Ele saiu do palco, fez o charminho, e voltou para duas últimas músicas solo no piano, acompanhadas em uníssono por uma platéia que tinha orgasmos múltiplos: "Skyline Pigeon" e "Your Song".

O som poderia estar mais alto e os telões poderiam ter funcionado sem os percalços. Mas o show foi para além das minhas expectativas e mais um pouco. Em duas horas e vinte de reinado absoluto, o surto coletivo estava lá.

Elton se despediu emocionado, com cara de choro. Ao meu lado, minha mãe chorava. E quando voltamos para casa, só sabíamos cantar - além de tudo, com 7 telefones de pessoas que viraram novos amigos, mesmo que só para essa circunstância específica. E a relação do triozinho aqui saiu fortalecida, por eu conhecer um lado deles que eu não conhecia ainda - e vice-versa.

Nenhum comentário: