8.9.08

Y-O-G-A

(pronunciado pausadamente, como quem respira, expira, inspira, lentamente, respeitando o ritmo do próprio corpo e não o ritmo imposto por conjunturas externas à nós)

Fiquei duas semanas sem ir à Yoga. Hoje quando saí do trabalho às sete e meia da noite estava me sentindo uma super revoltada ultra revolucionária com um rompante de indisciplina radical que joga a toalha e vai embora, esquecendo o Inbox abarrotado, e corre para a yoga.
A ironia fina é importante de ser destacada: revolta, revolução e indisciplina não há nenhuma quando já são 19.30 e você ainda está no trabalho. Não, eu não fui displicente com meus compromissos profissionais - embora a priori fosse assim que eu me sentisse. E é nessa contradição (realidade/sensação) que reside a ironia fina. E também nos termos usados para descrever essa sensação: rompante de indisciplina radical pode ser um bom exemplo disso.

OK.
Continuemos sem mais metalinguísticas-dialéticas-auto-explicativas.

Voltando ao ponto onde interesse: larguei lá o Inbox abarrotado e desci a mil por hora, vento gelado no rosto, para a yoga. Fiquei duas semanas sem ir à yoga - meu corpo já gritava: yoga, yoga, yoga, yoga, um gritinho assim, exaurido e abafado ao mesmo tempo. Gritinho de ombro duro, de lombar gritando, de canela dolorida, de pescoço travado. Eu posso não conseguir ir à yoga com a boa e velha frequência de sempre desse primeiro semestre de 2008 - 3 ou 4 vezes por semana. Posso me esforçar em excesso para ir duas vezes por semana, ao sair do trabalho. Mas, pôxa vida, ficar 15 dias sem yoga é displicência demais comigo mesma!

Cheguei em casa, tirei correndo a roupa do trabalho, coloquei correndo a roupa da yoga (ah, como eu gosto de Crocs nos meus pés) e me joguei na cama estatelada (aquela cena de filme que a pessoa senta na beira da cama, coloca o sapato, e dá aquela oscilada antes de partir para a próxima: deita e fica vendo a luz do quarto no teto, admirando o nada, e tomando coragem).

Contra tudo e contra todos, a favor dos gritinhos abafados que meu corpo tem dado ultimamente, fui. E a uma hora e meia da yoga de hoje (obrigada, Marcella, professora, mestra e amiga!) foi o suficiente para que eu começasse nova uma nova semana. É engraçado isso, o corpo pedia taaanto a yoga nos últimos tempos, que para além de todas as "posições mágicas" que tenho conseguido fazer após esse um ano praticando (sim, essa semana comemoro um ano de aniversário de Mariana-yogi), hoje fiz as posições mágicas e me estiquei muito, muito muito.

Saí de lá com um trato, um trato quieto e silencioso, mas que eu coloco aqui para depois eu não me trair - e ter testemunhas: Mariana - a pessoa vs. Mariana - o corpo.

Meu trato é:
te prometo, ó corpinho de gritos abafados, que vou à yoga no mínimo duas vezes por semana. Te prometo, ó corpinho, que a acupuntura será quinzenal. Te prometo, ó corpinho, que me esforçarei ao máximo para que você não pague mico na dança. Te prometo, ó corpinho, que vou dormir mais cedo e não acordar mais tão atrasada.

Rolling Stones já cantou: you cant' always have what you want. Eu estou devidamente mergulhada na eterna luta entre o tempo que eu cuido de mim e o tempo que eu cuido do meu trabalho.

Anyways, não queria perder tanto o foco assim. Quando li Comer, Rezar, Amar, a moça do livro foi praticar yoga e meditação em um ashram da India. E o que ela escreve sobre a importância da yoga na vida dela é tão lindo e é tão eu, que eu tomo a liberdade de reproduzir por aqui.

Esse era meu foco inicial (mas eu sou uma pessoa que me perco em meus pensamentos e em minhas idéias mesmo quando estou escrevendo): simplesmente falar como a yoga do dia de hoje mudou radicalmente a minha vida, e como o que a Liz Gilbert (do Comer, Rezar, Amar) escreveu sobre a prática da yoga é exatamente, literalmente, coincidente com o que eu penso da yoga.

Yoga, em sânscrito, pode ser traduzido como união. A origem da palavra é o radical yuj, que significa algo como dedicar-se a uma tarefa com a disciplina de um boi. A tarefa do ioga é encontrar a união - entre mente e corpo, entre indivíduo e o seu Deus, entre nossos pensamentos e a origem de nossos pensamentos, entre professor e aluno, e até mesmo entre nós e nossos semelhantes às vezes tão pouco flexíveis.
Ioga pode também significar tentar encontrar Deus por meio de meditação, por meio do estudo erudito, por meio da prática do silêncio, por meio do serviço de devoção, ou por meio de um mantra - a repetição de palavras sagradas em sânscrito.
O caminho do ioga consiste em desatar os nós inerentes à condição humana, algo que definirei aqui, de forma extremamente simplificada, como a desoladora incapacidade de sustentar o contentamento. Ao longo dos séculos, diferentes escolas de pensamento encontraram várias explicações para o estado de aparente falha inerente ao ser humano. Os Taoístas chamam-no de desequilíbrio, o Budismo, de ignorânciam o Islamismo põe a culpa de nosso pesar na rebelião contra Deus e a tradição Judaico-Cristã atribui todo nosso sofrimento ao pecado original. Os freudianos afirmam que a infelicidade é o resultado inevitável de um embate entre nossas pulsões naturais e as necessidades da civilização. Os iogues, no entanto, dizem que o descontentamento humano é um simples caso de identidade equivocada. Nós somos infelizes porque achamos que somos meros indivíduos, sozinhos com nossos medos e falhas, com nosso ressentimento e nossa mortalidade. Acreditamos equivocadamente que nossos pequenos e limitados egos constituem toda nossa natureza. Não conseguimos reconhecer nossa natureza divina mais profunda. Não percebemos que, em algum lugar dentro de todos nós, existe um EU SUPREMO que está eternamente em paz. Esse EU SUPREMO é a nossa verdadeira identidade, universal e divina. Se você não perceber essa verdade, dizem os iogues, estará sempre desesperado, idéia expressa de forma inteligente na seguinte frase irritada do filósofo estóico grego Epítero: ”Você leva Deus dentro de si, seu pobre desgraçado, e não sabe disso!”
Ioga é o esforço que uma pessoa faz para vivenciar pessoalmente a sua divindade, e em seguida para sustentar essa experiência para sempre. Ioga é o domínio de si e o esforço dedicado a desviar a atenção de reflexões intermináveis sobre o passado e preocupações infindáveis com o futuro para, em vez disso, conseguir buscar um lugar de eterna presença, de onde se possa olhar com tranqüilidade para si emso e paro o mundo ao redor. Somente dessa perspectiva de equilíbrio da mente é que a verdadeira natureza do mundo (e de você prórpio) lhe será revelada. Os verdadeiros iogues, de sua posição de equanimidade, vêem este mundo todo como a mesma manisfestação de energia criativa de Deus - homens, mulheres, crianças, nabos, piolhos, corais: tudo isso é Deus disfarçado. Mas os iogues acreditam que a vida humana, e somente com uma mente humana, é que a percepção de Deus pode ocorrer. Os nabos, os piolhos, os corais - eles nunca tem a oportunidade de descobrir quem realmente são. Nós temos essa oportunidade.
Nosso propósito nesta vida, portanto - escreveu Santo Agostinho, ele próprio um pouco iogue - é 'recuperar a saúde do olho do coração através do qual podemos ver Deus'.”
(”Comer Rezar Amar” de Elizabeth Gilbert/ editora Objetiva)

Só uma observação final: contraditória é uma pessoa que, por uma hora e meia - e apenas duas horas e meia atrás - vivencia o aquietamento profundo da mente e sua admiração diante do Sagrado - ali, tão próximo, tão dentro - e mesmo assim continua com o pensamento tão viajante que dá mil voltas em post para escrever o que eu queria ter escrito in the very first place.

Boa noite para vocês também - que ficar sem dormir, eu acho, tem-me feito mal, muito mal.

2 comentários:

Anônimo disse...

Salve, salve ... (to tentando adivinhar seu nome...mas não deu)
Devo dizer que foi a melhor definição de Yoga que eu já "ouvi"...quase fiquei com vontade de sair da cama e procurar uma "Mariana".

Estava por aqui de bobeira e "gritinhos" no meu cérebro me mandaram vir até aqui..pooorem...se o excesso de visitas e/ou comentarios estiver me transformando em um mala...me avise...não vou parar de ler nem de comentar hahahaha...mas posso usar nomes diferentes.

Bjão

Marix Flammes, Nina. disse...

Putz, estou achando legais os comentários, por incrível que pareça. Quando eu cansar eu aviso, tá?
Bom, agora acho que você já sabe meu nome e eu já sei que seu cérebro tem gritinhos também. Achei meio louco que os gritinhos dele são com relação ao blog - meio louco e no mínimo divertido e bacana. (Espero que você leia essa resposta: tem um sistema que você clica um botão e pede para sempre receber comentários de acompanhamento, lá embaixo, tá vendo?)