21.11.07

Ode à São Paulo

Só São Paulo mesmo para permitir que certas coisas aconteçam...

- só em São Paulo tenho livrarias como a Cultura do Conjunto Nacional, onde posso mergulhar em livros e me afogar no Visa Electron sem medo de ser feliz.

- só em São Paulo posso descer a Padre João Manuel em um 15/nov que mais parecia inverno, com frio e garoa fininha, em um final de tarde deveras melancólico, ouvindo jazz, e me sentindo em Londres. Ou em qualquer outro lugar que parecia não ser o Brasil. Desci eu e o capuz e a sacola com cinco livros, flanando, tomando cuidado para não escorregar na calçada, passando pelos cafés cheios e ouvindo o ruído de muitas vozes lá dentro, no quentinho. E eu lá fora, no frio. Senti a solidão e a melancolia na prática e na pele. E nunca foi tão bom ser uma paulistana solitária, no meio de tanta gente.

- só em São Paulo saio caminhando pela rua depois da IBM, chego ao Paraíso, encontro a Princess, vou a um cinema preferido (Reserva Cultural), vejo um filme dos bons (El Pasado), saio de lá aliviada ao perceber que eu não sou tão louca quanto a protagonista do filme, e que meu fim de relacionamento tem sido mais saudável e menos melodramático do que o fim de relacionamento visto no filme, volto para casa tendo ótimas conversas com ela que é minha irmãzinha, descubro que abriu um Starbucks lá, logo entre a Campinas e a Santos, e depois vamos jantar no japonês, comendo em excesso. Fora o mico de parar mal o carro em uma vaga na frente do restaurante, logo onde tinha mil mocinhos interessantes que poderiam virar nossos paqueras e no entanto viraram nosso deboche (a manobrista era eu).

- só em São Paulo saio de cidade nublada, em duas horas estou com os pés na areia e debaixo do sol, e em mais duas horas estou na cidade nublada de novo.

- só em São Paulo como hamburguer dos mais deliciosos no St Louis, sigo para a Roosevelt onde encontro boa amiga com uma boa cerveja, e encontro gente de todo o tipo, nerds, cools, cults, putas, artistas, escritores, gente do teatro, gente da rua, gente da vida. E daí ficamos lá dando boas risadas, até que resolvamos ir dar boas risadas em outro canto. E por um caminho mágico pela madrugada do centro de São Paulo chegamos ao Teatro Mars rapidinho. O carioca chega depois com mais tantas outras meninas, leves como fadas, sorridentes como crianças, e simpáticas como se fossem minhas velhas amigas. Daí a luz acaba e o baterista continua sozinho, porque mesmo sem luz a festa não pode acabar. Até que nós cansamos e resolvemos voltar e dormir... e qual não é a Lei de Murphy que, assim que pedimos os carros pro manobrista, eis que a luz volta. Ah, esse Teatro Mars, baladinha legal, músicos dos bons, buraco preto com cara de festa, andares e andares de andaime, cara de cidade decadente, e lá dentro pessoas tão jovens e animadas enxem a casa de luz.

- Simbora para a energia frenética do Mercadão. Domingo, duas da tarde, solão lá fora, multidão lá dentro. Multidão de tudo, de comidas, de pessoas, de barulhos, de coisas legais para bater fotos... multidão de vida. Só em São Paulo paguei de turista fashion e fui feliz.

- Outro feriado... dessa vez, só em São Paulo vi o museu que eu não conhecia. Fui no parque que eu só tinha ido no show dos Mutantes, e me diverti pacas andando pelos jardins, tirando fotos lindas, aproveitando bem aquela luz amarela, azul e verde do dia ensolarado, do céu, do prédio do museu, do jardim.

- Depois, só em São Paulo de novo, almocei com amiga do coração e amigos do coração que são quase meus amigos, e experimentei rabada, algo de novo nesse estômago.

Sim, tive papos cabeça, tive pensamentos perdidos, tive muitas insônia, tive brigas comigo mesma e com o mundo esses dias. Mas sim também, foi maravilhoso passar o feriado em São Paulo.

E afinal das contas, será que a gente seria feliz se viver fosse fácil?

Será que eu ficaria tão feliz no Parque da Independência se na noite anterior eu não tivesse passado mal de insônia e tomado calmente para poder dormir? Será que eu teria aproveitando tanto meu pé na areia sábado se na sexta eu tivesse assistido um filme que não trabalhasse com a dicotomia angustia/alivio de fim de relacionamento?

Obrigada, São Paulo, por me abrigar e por ser a minha cidade.
Só aqui para ter um feriado desses...

3 comentários:

Oscar Freire Australia disse...

Muito lindo, Mari. Parabens!!!! E que saudades da nossa Sao Paulo...

Erika Horn disse...

Obrigada sim minha São Paulo maravilhosa.
Ponto de partida e de chegada.
Foi bom demais.Mais!
Beijão.

cyromars disse...

Taí uma guria que entendeu, com precisão cirúrgica, o espírito do Mars!
Excelente, parabéns!